Não há limite de idade para amor, sexo e romantismo

por Elisandra Vilella G. Sé

Historicamente nossa sociedade atribui o relacionamento amoroso, o desejo, a sexualidade como um direito apenas da juventude, como se os mais velhos tivessem que ser desprovidos de qualquer relacionamento amoroso ou de expressar seus desejos e a sexualidade. Vivemos numa sociedade normatizadora e o pior, "heteronormatizadora" que significa a mulher e o homem ter seus papéis bem definidos para um comportamento ou outro.

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É certo que com o passar dos anos, com o processo de envelhecimento biológico inúmeras mudanças ocorram no corpo humano. São inevitáveis as marcas da natureza, mas não significa que com um envelhecimento saudável uma pessoa com idade mais avançada não possa se relacionar, ter desejos, manter suas relações amorosas e até sexuais. Não é a idade biológica que determina quem nós somos. Amor, romantismo, cumplicidade, companheirismo, sexo e prazer podem e devem estar presente em todos os relacionamentos, até mesmo naqueles de mais idade. E amor não está condicionado apenas ao corpo físico, a supremacia do biológico, nem atrelado exclusivamente à idade biológica.

A pessoa pode escolher a sua fonte de juventude, o seu tempo de querer viver. Precisamos despertar para essa problematização, para a libertação de padrões, de categorias de todas as formas, de idade, de classe, de gênero. Tudo é passível de reflexão, os padrões são históricos, são transitórios. Precisamos descontruir mentalidades preconceituosas. E entre tantos preconceitos dirigidos à velhice, um dos mais cruéis é o referente à sexualidade.

Nossa sociedade tem caminhado para as discussões mais abertas com relação à sexualidade e relacionamentos dos idosos, mas muito pouco se aprofunda nas questões ligadas à sexualidade humana, o que acaba ficando obscurecidos muitos conceitos sobre este assunto. Não existe sociedade que não tenha organizado sua autopercepção de que ela não é formada somente de meninas jovens, robustas, lindas, maravilhosas e meninos adolescentes viris. A quebra desses paradigmas, estereótipos e padrões categóricos trouxe desde as conquistas dos movimentos feministas a libertação para as mulheres e também para os homens de todas as idades, à medida que a sociedade foi se "complexicando" com as oportunidades de nos dividirmos em vários papéis sociais. Discutir essas questões com o público idoso não pode ser considerado um grande tabu em pleno século XXI.

O aumento da expectativa de vida da população em geral, aliado ao alcance da qualidade de vida e da boa saúde física dos idosos permitiu-lhes continuarem ativos em suas atividades familiares, profissionais, de lazer, sociais e de relacionamentos, das quais as sexuais tornam uma consequência. É claro que a prevenção é primordial e que integra uma pluralidade de discursos.

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À medida que se acrescenta qualidade de vida aos anos, o contato para os idosos é resultado das expressões de amor manifestas por gestos e palavras que lhe permitem estar em contato mais próximo um do outro, despidos de pudores e preconceitos. O que importa é o amor correspondido. Mas desfrutar o gozo de si somente é possível quando se tem o privilégio de envelhecer, isto é, o de ter vivido um longo tempo necessário para o cuidado de si. Entretanto, é preciso discutir junto com os idosos a cultura de utilizar preservativos como modo de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e por meio até de campanhas de saúde veiculadas com uma linguagem compatível para esse público, não distanciando de sua realidade. O cuidar de si livre de medo e de culpa não é uma prática egoísta, é um modo também de cuidar do outro.