Para o homem ainda é um desafio cuidar de uma pessoa idosa

por Elisandra Vilella G. Sé

O cuidado é definido por filósofos como a essência do ser humano, isto é, o cuidado é que nos faz humanos. Cuidar representa uma atitude. Atitude de ocupar-se, de solidarizar-se e de envolver-se afetivamente com o outro.

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Trata-se de uma ação interativa e de respeito à sua autonomia e dignidade. No campo da Geriatria e Gerontologia o termo cuidador está cada vez mais voga, desde que o envelhecimento populacional tomou proporções expressivas.

Embora seja possível um envelhecimento saudável, nos deparamos com o aumento de indivíduos com limitações físicas, cognitivas e funcionais decorrentes do processo de envelhecimento patológico que muitas vezes compromete a autonomia e a independência do individuo. E assim, o papel do cuidador familiar entra em cena, tendo que desempenhar um conjunto de tarefas domésticas e assistenciais com o familiar idoso.

A grande maioria desses cuidadores é formada por mulheres, geralmente esposas e filhas mais velhas, e como as mulheres são mais longevas que os homens e, em geral, mais novas do que os maridos, a cuidadora familiar preferencial é a esposa. Mas também existem muitos homens cuidadores que assumem esse papel. A maioria deles cuida dos seus cônjuges, mas o cuidador masculino também pode ser filho, sobrinho ou irmão.

Cuidar de alguém com demência pode ser muito exigente e, para muitos homens, pode apresentar desafios adicionais. Raramente, os homens assumiam tarefas primárias do cuidar; os filhos participavam mais das tarefas externas, das atividades econômicas, de ajuda material, o que desloca o homem cuidador para outro ambiente, não assumindo diretamente as atividades de cuidado.

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Porém, atualmente, são muitos os homens que são cuidadores dos membros familiares e principalmente os cônjuges e filhos. O apego emocional é um fator importante que determina quem irá cuidar do familiar idoso. Os arranjos familiares também têm determinado ao longo dos anos os papéis do cuidador.

Quando o homem, sendo cônjuge ou filho assume esse papel, ele irá enfrentar alguns desafios como: assumir as tarefas domésticas; ter que auxiliar nas atividades funcionais de vida diária (levar a pessoa ao banheiro, dar refeições); e enfrentar mudanças na relação emocional com o parente idoso.

De modo geral a atribuição das tarefas domésticas ainda é assumida por maior parte das mulheres. Em muitos lares, a mulher é frequentemente a principal responsável por preparar as refeições, cozinhar, limpar, tratar da roupa e por outras tarefas que mantêm uma casa m ordem. Se a mulher desenvolve uma demência, tornar-se-á gradualmente incapaz de continuar a realizar essas tarefas. O homem, no papel de cuidador, pode precisar auxiliar a pessoa com demência, pedindo por exemplo que essa lhe mostre como fazer as coisas. Para alguns homens, assumir a responsabilidade por essas tarefas significa ter de aprender novas competências ou formas diferentes de fazer as coisas.

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Um homem que ajuda uma pessoa com demência pode necessitar prestar cuidados pessoais e íntimos, particularmente à medida que a doença progride. Pode ser necessário prestar assistência no banho e na higiene pessoal. A pessoa com demência também pode necessitar de ajuda para fazer uma maquiagem, escolher as roupas, sapatos ou ir ao cabeleireiro, situações que para a maioria dos homens são experiências novas.

Quanto às atividades de vida diária, enfrentam alguns desafios: comprar uma roupa para a mãe ou esposa; auxiliar a pessoa a experimentar roupas novas pode ser difícil quando essa necessita de assistência nos provadores femininos.

Sobre as relações emocionais, os homens apoiam-se nos seus cônjuges para obter o apoio emocional e manter as amizades e os contatos familiares e, à medida que a demência progride, a mulher perde gradualmente a capacidade para fornecer apoio emocional e manter as amizades e os contatos familiares. É importante que o homem, no papel de cuidador, esteja consciente dessas mudanças e que tome medidas para garantir que ambos tenham apoio social e emocional.

Dicas de apoio ao homem cuidador

É importante ressaltar que no contexto do cuidado da pessoa com demência os homens também necessitam de apoio:

– É importante que todos os familiares forneçam apoio ao cuidador principal;

– É muito importante manter os contatos sociais;

– É importante manter um equilíbrio entre as suas próprias necessidades e as exigências diárias de cuidar de alguém com demência;

– É importante que organize pausas regulares na prestação dos cuidados para não ficar desgastado;

– Alguns homens consideram útil conversar com outros homens que também desempenham esse papel de cuidar de uma pessoa com demência.

SERVIÇO

A ABRAZ – Associação Brasileira de Alzheimer pode orientar os cuidadores por meio de grupos de apoio.
Muitas pessoas encontram ajuda através da participação nesses encontros com outros que sabem o que é cuidar de uma pessoa com demência. Os grupos de apoio aproximam as famílias, cuidadores e amigos de pessoas com demência, sob a orientação de um moderador do grupo. Consulte o site www.abraz.org.br para obter mais informações.