Capacidade de resiliência ajuda a envelhecer com bem-estar

por Elisandra Vilella G. Sé

O processo de envelhecimento se caracteriza como uma trajetória na qual estamos expostos a eventos e transições.

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Mas também podemos vivenciar um tempo de criar estratégias de confrontação e resolução de desafios a partir das oportunidades e de nosso potencial adaptativo.

Assim, é importante conceber os idosos como agentes e não condenados a sofrer passivamente os impactos negativos desses acontecimentos e mudanças pelas quais passam.

Desgastes, perdas e declínios podem ser por vezes inevitáveis e podem desencadear em inúmeros desafios adaptativos.

Porém, há recursos e potencialidades que podem se constituir em um mecanismo multideterminado e mediador nesse processo de envelhecimento. Dentre esses, tem-se a resiliência, que se configura como um novo conceito de uma realidade antiga, discutida ao longo dos anos, por áreas como a Física e a Medicina.

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Resiliência = dar a volta por cima

Ser resiliente significa ter capacidade de recuperação e manutenção do comportamento adaptativo frente a ameaças e eventos estressantes, possibilitando níveis normais de desenvolvimento.

Na psicologia e áreas afins, a resiliência é compreendida como a capacidade humana de enfrentar as adversidades, e proporciona ao indivíduo ser transformado por esses fatores potencialmente estressores, adaptando-se ou superando tais experiências traumáticas. Trata-se da capacidade para se desenvolver normalmente sob condições difíceis ou de risco e, que todas as pessoas, em menor ou maior intensidade, terão de enfrentar enquanto estiverem vivas.

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A resiliência e a interação entre fatores de risco e de proteção (explico mais abaixo) podem se integrar ao longo de toda a vida humana, seja na infância, na adolescência, na fase adulta ou na velhice.

Nesse sentido, pode-se envelhecer bem, com saúde e de forma satisfatória na medida em que o indivíduo ou um grupo social consegue agir de forma resiliente diante dos riscos e situações estressantes.

Muitas pesquisas da área têm como base a seguinte pergunta: Como alguém que se encontra exposto a situações e experiências consideradas de risco e prejudiciais ao seu desenvolvimento conseguem se adequar às demandas do dia a dia?

Na velhice, as situações de risco vivenciadas são inerentes ao próprio processo de envelhecimento e estão associadas a outros eventos que permeiam a vida dos idosos. Isso permite pensar a resiliência não apenas como um atributo inato ou adquirido, mas sim um processo interativo e multifatorial, envolvendo aspectos individuais, o contexto ambiental, a quantidade e qualidade dos eventos de vida, e a presença dos fatores de proteção.

Os fatores ou mecanismos de risco são considerados eventos da vida adversos e são vislumbrados como obstáculos individuais ou ambientais que aumentariam a predisposição individual, que potencializa os efeitos de um evento estressor (por exemplo uma saúde frágil). Também pode ser de natureza psicossocial ou sociocultural, os quais acabam por resultar em perturbações psicológicas, respostas mal-adaptativas e consequentes resultados negativos para o desenvolvimento do indivíduo.

Os fatores de proteção que constituem em características potenciais na promoção de resiliência, podem minimizar os eventuais efeitos negativos ou disfuncionais na presença do risco; além da possibilidade de modificar, melhorar ou alterar a resposta pessoal a um perigo ambiental. Um exemplo de fator de proteção é o apoio da família, uma rede de apoio dos amigos e da comunidade. Assim os fatores de proteção não necessariamente eliminam os riscos, mas encorajam o indivíduo a superá-los, atuando como mediadores e protetores da adversidade.

Os fatores de proteção se inter-relacionam com:

– fatores individuais: temperamento, capacidade para resolver problemas, autoestima, autonomia, inteligência, autocontrole, autoeficácia e competência social;

– fatores familiares: coesão, estabilidade, respeito mútuo, apoio, vínculo;

– fatores relacionados ao apoio social externo: relações com pessoas significativas na escola, na igreja ou em grupos sociais.

Esses fatores não devem ser apenas identificados, mas também compreendidas suas associações e a forma como atuam na redução dos impactos da adversidade.

Apresentar uma visão positiva do futuro proporciona ao idoso buscar adaptações e recursos internos para lidar com as adversidades e a manter condições adequadas para a manutenção do bem-estar psicológico.