Longevidade da mulher e suas consequências

por Elisandra Vilella G. Sé

O envelhecimento da população brasileira mostra uma mudança significativa nas relações de gênero, a maioria da população de idosos é constituída por mulheres com mais de 65 anos ou mais. É o processo de feminização da velhice. Os idosos brasileiros, principalmente as mulheres, são hoje um segmento populacional cada vez mais visível na sociedade brasileira, não só porque são mais numerosas, mas porque têm se envolvido na conquista de um espaço na sociedade e de uma boa qualidade de vida na velhice.

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Desta forma, muitos dados sóciodemográficos permitem caracterizar a velhice como um fenômeno principalmente feminino. Idosas de todas as classes sociais formam hoje um segmento cada vez mais visível e diferenciado, que responde de modo variados às demandas da sociedade e do envelhecimento, num mundo crescentemente globalizado.

Basta saber se as condições que determinam uma boa qualidade de vida na velhice são iguais para homens e mulheres em todas as idades na velhice, independentemente do período histórico em que vivam, da classe social a que pertençam, das circunstâncias que a cercam e de fatores de personalidade.

Será que a maior longevidade nas mulheres é acompanhada de condições satisfatórias de vida?

É importante compreender que em qualquer momento do ciclo vital e em qualquer sociedade, qualidade de vida é um fenômeno de várias faces. A avaliação da qualidade de vida de uma pessoa é referenciada a critérios biológicos, sociais e psicológicos aplicados às relações passadas, atuais e futuras de indivíduos, grupos humanos e sociedades no ambiente físico e social. Também devem ser levados em conta valores a respeito do que é normal e do que é tido como desejável ou ideal na vida.

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A longevidade, a morbidade e a incapacidade são os principais focos de interesse das pesquisas que comparam homens e mulheres idosos quanto à saúde e à funcionalidade física. É universal que mulheres vivem mais que os homens. Estudos epidemiológicos mostram que a maior longevidade das mulheres significa mais risco do que vantagem, uma vez que ela é física e socialmente mais frágil do que os homens.

O fenômeno da feminização da velhice é visto como um problema médico-social. Por outro lado, as taxas de doenças crônicas são muito maior entre os homens idosos do que nas mulheres idosas, embora este fato deva mudar nas gerações futuras, uma vez que as mulheres contemporâneas estão expostas ao mesmo tipo de fatores de risco que os homens na atualidade. Portanto, é de suma importância identificar e promover condições que permitam uma velhice longa e saudável favorável aos indivíduos num contexto de igualdade de distribuição de bens, de promoção de saúde e de oportunidades culturais e sociais.

A feminização da velhice também é indicada pelo crescimento relativo da taxa de mulheres idosas que são chefes de família e que fazem parte da população economicamente ativa, o que significa que por outro lado os jovens não estão dando conta de prover suas próprias necessidades.

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As mulheres idosas são um destaque na sociedade e nos estudos gerontológicos não só porque são mais numerosas, mas também porque têm se envolvido na busca do envelhecimento ativo e saudável, inserindo em espaços sociais que permitam o alcance da velhice bem-sucedida. E cada vez mais estão sendo criados espaços para atender a esta demanda, como por exemplo, centros de convivência, programas de extensão em organizações privadas, clubes da terceira idade e Universidades Abertas à Terceira Idade.

A existência dessas oportunidades contribui para aumentar a autonomia das idosas que utilizam esses espaços como símbolo da liberdade. A libertação de certos controles sociais relativos à reprodução e cuidado com a vida familiar têm motivado mulheres idosas de todas classes sociais, num contexto de liberalização dos estereótipos e preconceitos sociais ainda vigentes em relação aos idosos de modo geral, principalmente às mulheres.

Para muitas mulheres, o ingresso nos programas de terceira idade é um marco em suas vidas que hoje substituem o período de solidão, de abandonos devido à viuvez e/ou separação por novos amigos, atividades, aumento de instrução, oficinas, passeios, festas e encontros.

Dados sobre o perfil dos alunos que freqüentam Universidades Abertas à Terceira Idade mostram que 80% são mulheres com a idade entre 51 e 60 anos, a maioria casadas e viúvas, pensionistas e aposentadas. É interessante perceber como as instituições e programas dão um aumento de autonomia na vida dos idosos, se sentem na liberdade de fazerem o que quiserem. A possibilidade de novos aprendizados e novas experiências ajudam a construir uma imagem positiva da velhice, onde a força do corpo é substituída pela força do espírito.

E um novo poder feminino relativo ao processo de envelhecimento surge para estreitar as diferenças de gênero na busca pela melhor qualidade de vida na velhice.