Médicos franceses batalham pela inserção da meditação em hospitais

por Nicole Witek

Meditar evita as recaídas da depressão, do estresse e de todas as doenças ligadas a ele. Demorou quase 30 anos para que essa certeza se espalhasse dos Estados Unidos para outros países.

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Vários médicos na França estão batalhando para inserir a meditação nos hospitais. Mesmo que promovida por médicos, os obstáculos ainda são enormes: formação de médicos abrindo pouco espaço para o “poder do espírito”, medo da conotação religiosa, perigo das seitas, influência da psicanálise na psicomedicina.

Tentando ajudar nas doenças ligadas ao estresse, a “meditação para curar” provou que funciona. Desde 1979 na Stress Reduction Clinic, na Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, o biologista Jon Kabat-Zinn elaborou uma série de exercícios de meditação, respiração e atenção. Ser atento ajuda a despistar os momentos de depressão e perceber quando ela se instala. Um treino gradativo permite o acesso ao estado de aceitação sem julgamento e a sensação de que as emoções e os pensamentos não são mais do que “nuvens que passam no céu”.

Essa abordagem que alia corpo e espírito é ainda desconhecida e pouco usada fora dos Estados Unidos. Porém, os resultados são confirmados pela ciência e pelos pacientes. Depende de cada um de nós tirar um tempo para nos curarmos de forma diferente e eficiente, começando pelos médicos, governos e mídias.

É com muita lentidão que a situação está evoluindo. Nos hospitais da França, alguns psicólogos estão usando as técnicas do Dr. Jon Kabat-Zinn. O Dr. Frederic Rosenfeld, há cinco anos propõe cinco sessões de iniciação a “meditação que cura”. Hoje, vários hospitais do setor público propõem esses programas: o hospital Sainte Anne em Paris e o Centre René Huguenin em Saint-Cloud, perto de Paris, são dois deles.

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“Esse tipo de terapia requer que o médico dedique uma hora todo dia para acompanhar os pacientes”, diz o psiquiatra Frederic Rosenfeld.

Como é difícil avaliar os resultados, não se trata de remédio e não dá lucro, a voz daqueles que defendem essa terapia não é ouvida. Mesmo mostrando o que poderia ser poupado em termos de dinheiro e de tempo, é um desafio introduzir a meditação nos hospitais. Por que será? Será por falta de recursos, de funcionários qualificados, do acesso à formação? Não. Podemos concluir que as crenças ainda existem: a separação do corpo e espírito, o medo de práticas psicocorporais, medo das seitas e da lavagem cerebral.

Nossa medicina acredita mais na química: receitar antidepressivos é mais fácil do que meditar uma hora por dia. É isso mesmo!

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Como não temos estatísticas do nível de bem-estar que cada indivíduo adquire com a meditação, os médicos demoram a utilizar essa ferramenta terapêutica. Ela é vista como uma perda de tempo, de dinheiro e de motivação pelos profissionais que poderiam ensinar e divulgar os métodos. A meditação não cura tudo, não pode substituir (ainda) os remédios em países onde se contam com tão poucos profissionais qualificados. Infelizmente, a formação desses profissionais está demorando. Influenciada pela psicanálise, com receio da abordagem comportamentalista, nossa cultura médica-universitária não leva à prática da meditação. Para completar, não se “aprende a meditar” como qualquer matéria do currículo universitário. É preciso praticar!

Para que um programa de meditação dentro do hospital possa funcionar é necessário que os profissionais estejam praticando também. Como é possível perceber, a implementação da meditação como técnica de cura vai demorar muito tempo.

O melhor é que você pratique yoga, assim terá a aliança entre a prevenção física e psíquica contra a depressão e outros males inerentes à evolução de nossa sociedade. Antes de ir ao hospital e com um pouco de bom senso, pesquise, tente e pratique as técnicas de yoga. Sem esperar as decisões de nossos governos, você terá acesso desde já às práticas que proporcionam saúde, bem-estar, leveza e bom humor.

Ainda está com dúvida?

Se você resolver se informar melhor, aqui estão uns estudos em inglês onde se fala de psoríase, redução do estresse, ansiedade, dores crônicas, câncer da mama e da próstata, fibromialgia, sistema imunológico, depressão, saúde do cérebro… para você ser convencido.

1. « Influence of a mindfulness meditation-based stress reduction intervention on rates of skin clearing in patients with moderate to severe psoriasis undergoing phototherapy and photochemotherapy (PUVA) » de J. Kabat-Zinn, E. Wheeler et al., in Psychosomatic Medicine, 1998.
2. « Three-year follow-up and clinical implications of a mindfulness meditation-based stress reduction intervention in the treatment of anxiety disorders » de J.J. Miller, K. Fletcher et J. Kabat-Zinn, in General Hospital Psychiatry, 1995.
3. « The clinical use of mindfulness meditation for the self-regulation of chronic pain » de J. Kabat-Zinn, L. Lipworth et R. Burney, in Journal of Behavioral Medicine, 1985.
4. « A randomized, wait-list controlled clinical trial : the effect of a mindfulness meditation-based stress reduction program on mood and symptoms of stress in cancer outpatients » de M. Speca, L.E. Carlson, E. Goodey et M. Angen, in Psychosomatic Medicine, 2000.
5. « The impact of a meditation-based stress reduction program on fibromyalgia » de K.H. Kaplan, D.L. Goldenberg et M. Galvin-Nadeau, in General Hospital Psychiatry, 1993.
6. « Mindfulness meditation training effects on CD4+ T lymphocytes in HIV-1 infected adults » de J.D. Creswell, H.F. Myers, S.W. Cole et M.R. Irwin, in Brain, Behavior, and Immunity, 2009.
7. « Reducing risk of recurrence of major depression using mindfulness-based cognitive therapy » de J.D. Teasdale, Z.V. Segal, J.M.G. Williams et al., in Journal of Consulting and Clinical Psychology, 2000.
8. « Alterations in brain and immune function produced by mindfulness meditation » de R.J. Davidson, J. Kabat-Zinn et al., in Psychosomatic Medicine, 2003.
9. « Meditation, melatonin and breast/prostate cancer » de A.O. Massion, J. Teas, J.R. Hebert, M.D. Wertheimer et J. Kabat-Zinn, in Medical Hypotheses, 1995.

Médicos franceses batalham pela inserção da meditação em hospitais

por Nicole Witek

É muito comum falarmos do desespero nas grandes metrópoles. Por que será? Apesar de nos comunicarmos com o resto do mundo cada vez mais rapidamente, desfrutarmos de tecnologia avançada e estarmos protegidos contra doenças, que na maioria, seriam letais para os nossos antepassados, ainda sentimos este mal-estar, que não conseguimos explicar.

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As causas são profundas e diversificadas. Uma delas é o fato de vivermos longe da natureza. Quando percebermos as principais razões desse mal, teremos condições de encontrar o remédio e voltar à nossa harmonia profunda, interna e externamente.

Note as condições que o mundo atual nos oferece: temos luz natural, mas trabalhamos sob a artificial; nossos alimentos são repletos de hormônios e pesticidas; o ar que respiramos é poluído e, muitas vezes, condicionado; bebemos água de garrafa; nossas frutas e legumes vêm do supermercado; e, finalmente, a paisagem que vemos: só concreto e arranha-céu. Essa separação com o nosso verdadeiro meio ambiente é muito mais importante do que imaginamos e traz consequências drásticas ao ser humano.

Estamos sofrendo de muitas dores que estão relacionadas com o nosso afastamento das forças da natureza, e a cura às vezes passa simplesmente pelo reconhecimento dessa triste situação. Alguns exemplos são a depressão cíclica, a osteoporose, a tensão pré-menstrual, crises de ansiedade, o estresse, entre outros. O antídoto para estes problemas pode ser a revisão dos horários para obter um ritmo de vida mais ecológico, com caminhadas ao ar livre e respirações conscientes e profundas, sem esquecer o descanso do sistema nervoso, que às vezes só acontece nas férias.

Nos esquecemos que somos produtos da evolução da vida. O ser humano nasceu dentro do oceano e, por sorte, viemos parar em um planeta cujo reino vegetal 'inventou' o oxigênio. Somos um acaso no universo, uma conjunção de átomos sortudos e essa química permitiu o surgimento da nossa existência.

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A tecnologia do nosso corpo foi afinada, desenvolvida e aperfeiçoada dentro desse contexto com a natureza. Estamos cercados de forças naturais no meio das quais nossa fisiologia se adaptou. O fenômeno das migrações semanais para a praia ou campo tem uma origem: voltarmos a sentir as forças em ação através das ondas, sol, vento e da natureza. O mergulho em nosso verdadeiro ambiente que nos proporciona saúde, bem-estar e otimismo.

Mesmo quando não temos a oportunidade de nos afastar das grandes metrópoles, conseguimos esse contato com a natureza através de recursos simples: o parque aos domingos ou ficarmos à beira de uma represa.

Mas, como podemos reencontrar esses ritmos naturais que embalaram os primeiros milhões de anos da evolução do homem? Existe esperança? Sim, claro que existe. Basta sentir e trazer de volta a consciência e a sensação que dentro de nós existe a mesma natureza que rege a força do universo.

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Mas, essa realização não pode ser feita só através do intelecto, pois esse fenômeno maravilhoso, que permite o raciocínio, a análise e as abstrações e que se tornou a propriedade principal da ciência moderna e da tecnologia, é um instrumento poderoso de exploração do mundo, só que tem limites.

Deixando de confiar unicamente no nosso intelecto, podemos confiar em outros recursos que possuímos. O hatha yoga, através de técnicas corporais, permite o encontro desse elo, dessa simbiose com nossa natureza profunda. Percebendo os ritmos fantásticos da respiração, das batidas do coração, das pulsações da vida. Como se fosse uma volta às origens de nossa vida.

Se usarmos o intelecto como escada, através da concentração e da meditação, podemos nos elevar até sentirmos as forças da natureza e a sua manifestação aqui e agora. Assim, podemos nos reintegrar ao seu meio e voltar a ter confiança e alegria de viver. Como percebemos isso?

O mal-estar se afastou, sentimos que nosso corpo e nossa mente estão em harmonia, temos saúde e paz. Podemos sentir isso já, só depende de nós. Existe esperança sim!