Xamanismo, loucura e emergência espiritual – Parte III

por Carminha Levy

Esta é a terceira parte deste texto. Para ler as duas primeiras (clique aqui). Bem… vamos continuar o tema emergência espiritual/loucura.

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Outra emergência espiritual que é comumente confundida com loucura é a subida da Kundaline que pode se manifestar através de uma busca de ampliação de consciência (ioga e meditação) ou ocorrer espontaneamente.

A Kundaline é considerada uma “energia” que geralmente está “adormecida” na base da espinha. Quando despertada, eleva-se lentamente pela coluna vertebral em direção do topo da cabeça – início de um processo de iluminação!

Nessa subida a Kundaline faz o sistema nervoso central livrar-se das tensões. Essas provocam dor durante a meditação. Quando encontra esses pontos a Kundaline começa a agir “por vontade própria” dedicando-se a um processo autodirigido de expansão de todo o sistema fisiopsicológicos a fim de remover esses blocos, passando por todo o corpo até se fixar no topo da cabeça. Como o processo também pode-se dar automaticamente, sem a pessoa ter o menor conhecimento do que se trata, geralmente essas pessoas vão parar nos manicômios ou na melhor das hipóteses, nas mãos de um psiquiatra particular pouco esclarecido que não conseguirá ver os sinais da emergência espiritual.

O roteiro da Kundaline se inicia com sensação de muito calor que se eleva dos pés, das pernas, passa pelo corpo, pelas costas, pela espinha e chega à cabeça. Desce pelo rosto, passando pela garganta e termina no abdômen. Esse percurso é acompanhado por movimentos autônomos e bizarros, distúrbios mentais e doenças não identificadas pelos mais sofisticados aparelhos de diagnósticos. Esse é o processo de limpeza das impurezas que a Kundaline deve remover para que a pessoa atinja a iluminação.

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Quando a pessoa que está imersa nesse processo, que vai das torturas infernais a estados sublimes de consciência cósmica, comumente ela recebe uma grande resistência do seu meio familiar e social advinda da similitude com um quadro esquizofrênico. O autor desse artigo Lee Sanmella – yogue e psiquiatra (Fonte: Emergência Espiritual – Crise e Transformação Espiritual. Editora Cultrix. Stanislav Grof e Cristina Grof ( org.) e outros); no qual estou me baseando para escrever este texto, conta que dois pacientes seus internados como psicóticos, tinham plena certeza que eles (e vários outros pacientes) podiam dizer quem realmente estava louco e quais os que estavam apenas “distantes e concentrados”, mas completamente incompreendidos pela família e a sociedade como um todo.

Esta é uma situação em que “só quem passa pela coisa a conhece” e a pessoa cuja Kundaline foi despertada pode sentir intuitivamente o estado

Kundalinico do outro

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É esse outro feeling que pode indicar se o paciente está inclinado para o lado da loucura ou da emergência espiritual.

Terapeutas transpessoais e junguianos, por seu intenso trabalho com o inconsciente coletivo e o universo simbólico estão mais capacitados para ter esse feeling.
Outro aspecto a ser considerado é se a pessoa represente um perigo para si ou para os outros. Pessoas na primeira fase do despertar da Kundaline, quando hostis, raramente descambam para a ação agressiva.

O calor, que é uma permanente na subida da Kundaline é raro na psicose. As “vozes” são percebidas como vindas de dentro, não sendo tomadas por realidades exteriores. Sensações de formigamento que se movem pelo corpo, visualizações interiores de luzes brilhantes, dores forte de cabeça que surgem e cessam de repente, trinados de pássaros, assovios, atesta de que fonte surgem. Jamais intromissões negativas de vozes o que só ocorre na psicose. Uma profunda paz interior marca o ponto culminante do despertar da Kundaline como também o surgimento de poderes especiais que serão usados para o bem da humanidade.