Mundo repleto de informações nos leva à distração

por Marta Relvas

Lembro do Rock in Rio de 1985 e para quem acompanhou o mesmo evento em 2013, pode constatar muitas mudanças, principalmente a grande quantidade de pessoas ávidas por um ângulo perfeito para captura de belas imagens entre luzes, flashes das máquinas fotográficas e celulares para garantir as recordações dos seus famosos preferidos.

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Esse episódio comprova o quando a velocidade das informações adentra os nossos cérebros, sem nos darmos conta da rapidez de um click que nos remete a uma incrível capacidade de adaptação e desenvolvimento do cérebro humano, possibilitando a construção de novas conexões neurais, especificamente no córtex dos lobos pré-frontais: estruturas anatômicas consideradas responsáveis por todas as nossas capacidades cognitivas, como atenção sustentada, escolhas, projeções das lembranças futuras, pensamento e mais a capacidade para "ficar no caminho".

Nos humanos, a capacidade para "ficar no caminho" (ou *fazer o caminho) é estar diante das escolhas para continuar a viver o cotidiano. Nós não apenas podemos ficar no caminho acompanhando objetos externos, como também podemos ficar no caminho no que diz respeito aos nossos próprios pensamentos, sem permitir que associações casuais desviem nossos processos de pensamentos do seu curso.

O córtex pré-frontal é tão importante para o desenvolvimento do cérebro humano, que quando um indivíduo é acometido por doenças neurológicas nos lobos frontais, a capacidade de ficar no caminho se perde, ficando completamente à mercê de estímulos ambientais incidentais e associações internas. Ou seja, manifesta-se um comportamento disruptivo da atenção. Não é preciso muita imaginação para ver o quanto essa capacidade é fundamental para a nossa sobrevivência e aprendizagem.

Tendência à distração extrema é um dos sinais de THDA

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Distrair-se facilmente é uma característica do ser humano e, geralmente, está associada com as disfunções neuroquímicas, neurológicas, psiquiátricas e psicológicas do lobo frontal. Considera- se como um dos principais sinais característicos de hiperatividade de déficit de atenção (THDA) a extrema tendência à distração, portanto vinculada à disfunção do lobo frontal.

Outra questão apresentada é a facilidade da distração cotidiana diante de tantas informações, o córtex pré-frontal funciona de forma análoga a uma orquestra e a capacidade de ficar no caminho é uma vantagem para a espécie humana, pois do contrário é a "morte no caminho". Então, não importa o quanto estamos concentrados numa atividade ou pensamento, há um momento em que a situação exige que se faça algo mais. Ser capaz de mudar o foco da mente, ou seja, a atenção só é sustentada quando se desperta o desejo/interesse.

A capacidade de mudar com facilidade de uma atividade ou ideia para outra é tão natural e automática que a tomamos por garantida. Na verdade, ela requer uma complexa maquinaria neural, flexibilidade mental, a capacidade de observar as coisas sob uma nova perspectiva, criatividade e originalidade, tudo isso depende dos lobos frontais.

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Dica:

Para garantir o bom funcionamento do seu córtex pré-frontal e assegurar que o seu cérebro não irá te pregar uma "peça" se distraindo, fique atento às aprendizagens e situações de seu interesse.

* Ficar no caminho, na prática, seria a capacidade de fazer o caminho através de um processo do cérebro filtrar a enxurrada de informações bombardeadas sobre ele.