Apego e controle, os vilões da leveza

por Patricia Gebrim

Tem gente que anda pela vida como se carregasse diariamente uma pedra de uma tonelada amarrada às próprias costas. Não é difícil reconhecê-los, parecem sempre cansados, irritados, prestes a explodir ou desabar a qualquer instante.

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A vida nem sempre é fácil, eu sei, mas a dura verdade é que muitos de nós parecemos ter a incrível habilidade de torná-la verdadeiramente insuportável. Se eu pudesse resumir a causa disso, seria uma equação mais ou menos assim:

Controle + apego = peso

Gente controladora sofre mais, pois se existe uma verdade da qual não podemos fugir é que a vida não é algo que possamos controlar. Por mais que nos esforcemos, vez ou outra as coisas não acontecem como esperávamos. De um instante para o outro tudo pode mudar, e quando algo assim acontece, é momento de exercitar o nosso jogo de cintura e fluir com o novo, com o máximo de harmonia de que formos capazes.

Você convidou seus amigos para uma recepção ao ar livre, não contratou qualquer tipo de cobertura e o dia amanheceu chuvoso. O que se pode fazer? Talvez, se conseguir manter a calma, encontre uma saída criativa. Uma boa dose de criatividade, aliada ao bom humor, é capaz de operar verdadeiros milagres, acredite. De que vai adiantar ter um ataque de raiva, chutar as cadeiras ou chorar até seu rosto ficar inchado e vermelho como uma melancia passada?

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O apego também nos limita, pois vai de encontro a uma das poucas afirmações imutáveis da vida: aquela que nos diz que "tudo na vida muda, goste você ou não". Por mais que você não queira, não é possível manter as coisas sempre da mesma maneira. Tudo passa. Pessoas chegam e se vão da nossa vida, nosso corpo se transforma, as etapas da vida seguem sucessivamente. Um dia estamos na escola, no outro na faculdade, no outro trabalhando e um dia, sem aviso algum, perdemos nosso emprego, ou somos transferidos para outra cidade, ou adquirimos uma estranha alergia a carpetes e precisamos encontrar uma forma de ganhar dinheiro trabalhando ao ar livre.

Um dia temos uma pessoa querida em nossa vida, que parece ser tudo para nós. Pode ser um amigo, um parceiro afetivo, um familiar; e no dia seguinte, sem que entendamos exatamente o motivo, aquela pessoa já não nos quer na nossa vida. O que podemos fazer?

Não somos donos de nada. Nem das coisas, muito menos das pessoas.

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A única coisa que de fato possuímos e que podemos controlar são as nossas escolhas. Podemos escolher lidar com o inesperado com sabedoria e aceitação. Ou podemos nos recusar a aceitar a realidade. Acredite, quanto mais você resiste, mais você sofre.

Preste atenção ao que vem lhe causando sofrimento e busque pela sua resistência. Perceba a sua tentativa de controlar, o seu apego. Isso lhe faz mal. Perceba que você pode optar pelo caminho da leveza. Aceitar o que quer que venha em sua direção. Deixar ir o que quer que esteja de partida. É preciso permitir que o velho se vá para que o novo possa se manifestar.

Quando digo isso às pessoas, muitas se exaltam e afirmam que agir assim seria ser tomado pela passividade, comodismo, uma espécie de desistência. Entenda. Eu não estou sugerindo que você não faça a sua parte para que o melhor lhe aconteça. Para atrair o melhor na sua direção. Para evitar que aquilo que lhe é querido se vá. Mas, quando já não há mais nada a ser feito, é preciso que você aceite em paz o que a vida está trazendo em sua direção, ou o que a vida possa estar levando embora.

Essa é a hora de exercitar confiança e seguir em frente, em direção ao novo, caminhando sobre o entendimento de que nada nessa vida acontece sem que um motivo mais profundo exista.

Confiar, libertar o passado e seguir em frente, essa é a fórmula para a leveza que todos precisamos exercitar, se quisermos aprender a dançar com a vida.

Aos que se recusam, resta a possibilidade de continuar carregando pedras, afinal o livre-arbítrio é um direito de cada um de nós!