Eterna solidão: por que um bom par amoroso não surge em minha vida?

por Roberto Goldkorn

Não vou ficar aqui, relembrando a vocês as tragédias envolvendo maridos ou ex-maridos que matam suas mulheres com requintes de crueldade. As câmeras de segurança, e os testemunhos pungentes que a mídia nos joga na cara são já suficientes. Tudo que vemos e ouvimos no entanto é apenas a ponta do iceberg.

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Ocultado dos nossos olhos, há uma população de mulheres que sofrem cotidianamente nas mãos de seus companheiros. Os dados aproximados já foram mostrados no meu livro Dormindo com o Inimigo e são assustadores. Para essa massa humana de mulheres e homens a promessa do amor se transformou numa armadilha mortal. Para essas mulheres seus ex-amados se transformaram em Fred Krugers, saindo de seus piores pesadelos para tornar suas vidas reais na mais abjeta antítese do amor. O grito de dor desses seres, vitimados pela ilusão de um amor, ecoa pelas esquinas de cada cidade e vai nos assombrar pelo resto de nossas vidas.

Mas existe outro sofrimento, mudo, contrito, que nunca ocupa as manchetes, porque é de sua natureza ser vivido no palco escuro do quarto de dormir, sem testemunhas, sem câmeras de vigilância, apenas em silêncio, vez por outra cortado pelo choro contido pela vergonha. É a dor da solidão, do abandono. São as mulheres que se prepararam para o amor e ele não veio. Não aconteceu, não brotou. Algumas porque criaram, até sem perceber, mecanismos de seleção mais rigorosos que mantiveram apartados os talvez predadores, outras porque exageraram no rigor desses mecanismos, e os calibraram acima de suas necessidades. Mas a maioria dessas mulheres veio mesmo sem os programas de conexão afetiva. Pensando sobre isso, me veio à cabeça a imagem do nosso cérebro, e isso não é nenhum trocadilho.

Todos sabemos que temos mais ou menos cem bilhões de células nervosas, os neurônios, e sabemos também que eles só nos são realmente úteis quando se “casam” com outro, criando uma sinapse. Mas muitos neurônios permanecem sozinhos apenas fazendo número até que um dia morram, ou finalmente consigam sinapsar. Não conheço pessoalmente nenhum neurônio, mas acredito que a sua vocação genética seja criar sinapses e que, quando isso não acontece, não deve ficar muito feliz Também acho que se o neurônio começa a ficar velho e não consegue se juntar com outro, deve entrar em parafuso, ficando neurótico, amargo, melancólico. Acredito até que muitas dessas roubadas amorosas que as mulheres vítimas se meteram, deve ter sido motivada por esse medo visceral. Assim, enquanto uma aceita na sua vida qualquer porcaria travestido de príncipe encantado, outra não aceita ninguém, sem perceber que a fila anda e a idade chega.

Porém não somos neurônios, temos neurônios, nem sempre os usamos de forma correta, mas não somos neurônios, devíamos ser muito mais. Em ambos os casos o problema está na superestimação do amor, ou da ideia que fazemos do amor, quase sempre ilusória, ficcional. Se soubéssemos desde cedo que o amor pode dar certo, mas também pode não dar, teríamos uma posição mais sóbria nesse departamento. Se desde cedo nos direcionássemos de coração e mente à causa da felicidade, e não especificamente para o amor romântico, seríamos muito mais felizes e as probabilidades de sangrar por fora ou por dentro muito menores.

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A chave do segredo é simples: Qual é a sua causa? Por quem ou por que você luta? Onde investe sua energia criativa? Qual o sentimento que mais força tem em seu coração: carência ou compaixão? Se você responde de forma egocêntrica a essas questões está condenada a pertencer a uma das categorias listadas acima. Se você faz do casamento na igreja, com pompa e circunstância, a meta maior da sua vida e nele investe todas as suas fichas, seu futuro amoroso/ emocional pode ser sombrio. Olhar só para dentro, só para seu ponto G do coração, é uma péssima estratégia de vida amorosa.

Aceitar qualquer traste, ou recusar todos na vã espera de que um clone daquele ator da novela das oito venha lhe oferecer flores na porta de sua casa, é um passaporte carimbado para o sofrimento. Olhar para fora, perguntar ao mundo: “em que posso ajudar?”, ao invés de mendigar a ele nacos de um grande amor, é a melhor solução.