Pólen de flores: propriedades nutricionais e terapêuticas

por Gilberto Coutinho

O pólen (Do lat. pollen), em geral, é um fino pó amarelado, visível apenas ao microscópio, formado nas anteras, situadas nas extremidades dos estames (órgão reprodutor masculino) das flores, por um conjunto de estruturas microscópicas produtoras de gametas ou células sexuais (gametófitos), elementos que constituem o sistema reprodutor masculino (androceu) dos vegetais com flores, estruturas exclusivas das angiospermas (plantas que produzem flores, cujas sementes encontram-se dentro de seus frutos).

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O pólen é um produto de secreção dos órgãos sexuais masculinos das plantas.

As abelhas operárias deixam a colmeia em busca do pólen, do néctar e da água. O pólen é colhido das flores de plantas e árvores de forma semelhante à colheita da própolis, produto elaborado a partir de resinas extraídas de árvores e plantas (botões das flores, folhas e cascas das árvores) e da salivação das abelhas.

Durante a produção da própolis, as abelhas “mastigam” as resinas, misturando-as com suas próprias enzimas salivares (amilases, catepsinas, lipases e tripsina). As abelhas utilizam o pólen como alimento principal e fonte de proteínas, tanto para o seu uso próprio quanto para o sustento e o desenvolvimento das larvas, inclusive para garantir suas funções fisiológicas e glandulares, responsáveis pela produção de geleia real, cera, fermentos e enzimas.

Durante a colheita, as abelhas umedecem o pólen com sua própria saliva misturada com néctar das flores e o alojam em receptáculos especiais (corbículas ou corbelhas) localizados na base de suas patas posteriores. Ao serem preenchidas de pólen, as corbelhas podem chegar a pesar cerca de 20 mg e conter, aproximadamente, 4 milhões de grãos de pólen.

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Ao chegar à colmeia, as abelhas operárias depositam o pólen no interior de alvéolos hexagonais, perfeitamente construídos, e os recobrem de mel, dando origem ao pão da abelha (alimento constituído a partir do pólen embebido no mel). No início dos anos de 1950, pesquisadores constataram que as abelhas podem gerar 150.000 novas abelhas com cerca de 30 a 50 kg de pólen. Ao se alimentarem com o pão das abelhas, as abelhas podem criar em média 175 larvas por dia.

As operárias elaboram a cera e com ela constroem os favos cujos alvéolos servem para armazenar o mel, o pão da abelha e funcionar como berçário para a criação. A fabricação da cera pelas operárias depende de suas glândulas cerígenas, como também do consumo, pela abelha, do mel e pão da abelha. As operárias apenas constroem os favos se a sua colmeia tiver uma rainha. As abelhas preservam a colmeia num estado de limpeza e assepsia ideal, vedando todas as fendas com resina de própolis (rica em bálsamos de composição aromática, cera, pólen, óleos étricos, gordura, ácidos, traços de minerais, vitaminas, caroteno, bioflavonoides, antibióticos, enzimas, etc., conforme análises clínicas dos maiores laboratórios do mundo; apresenta propriedades antioxidantes, antissépticas, bactericidas e antivirais) e as paredes interiores da colmeia.

Biologia da flor

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Nas angiospermas, grupo mais abundante e com maior diversidade entre as plantas terrestres (mais de 250.000 espécies), as estruturas relacionadas com a reprodução sexuada encontram-se nas flores. As flores completas são formadas por pedicelo (ou pedúnculo) e um receptáculo, onde se inserem os verticilos florais: cálice (conjunto de sépalas, geralmente, verdes); corola (conjunto de pétalas, de cores variáveis); androceu (formado pelos estames, constituído de antera e filete); gineceu (constituído de estigma, estilete e ovário, é o sistema reprodutor feminino). Há flores que apresentam apenas o androceu ou o gineceu, sendo flores masculinas ou femininas, no entanto a maioria possui androceu e gineceu.

O número de estames por flor varia muito, existem flores com um só estame, como é o caso do gênero Euphorbia, até flores com mais de 100 estames, como em certas espécies de Myrtaceae. Cada estame é constituído de filete (porção estéril, de forma fina e alongada e que contém em sua extremidade a antera), antera (de forma globosa, geralmente, contém em seu interior quatro sacos polínicos (microsporângios ou androsporângios), onde se formam os grãos de pólen, sendo um saco polínico anterior e outro posterior que juntos formam uma teca; a antera é formada por duas tecas) e conectivo (parte estéril que se situa entre as duas tecas).

A liberação do grão-de-pólen ocorre através da deiscência (ruptura natural) da teca. Os grãos de pólen das gimnospermas (subclasse de plantas que têm sementes expostas, não contidas em frutos fechados) só podem ser transportados pelo vento (ou seja, a polinização é efetuada pelo vento), enquanto os das angiospermas (na sua grande maioria) podem também ser transportados por animais (em geral, insetos, aves e morcegos), dependendo da espécie da planta.

As flores, geralmente, possuem nectários, estruturas que produzem o néctar, líquido açucarado, nutritivo, mais ou menos viscoso, rico em glicídios (açúcares, substâncias energéticas), que serve de alimento para insetos sugadores (abelhas, borboletas, etc.) e pássaros (beija-flor, etc.). Ao se alimentarem do néctar, esses animais atuam como importantes agentes polinizadores das espécies vegetais.

Propriedades nutricionais e terapêuticas

Pela primeira vez, em 1940, os checos Ian Heitmanek e Iaroslav Svoboda, membros da “Academia das Ciências da Checoslováquia”, demonstraram que o pólen das diferentes espécies de plantas apresentava para as abelhas propriedades nutricionais diferentes. No final da década de 1970, o pólen das flores passou a despertar grande interesse popular e científico, quando diversos atletas famosos passaram a consumi-lo como suplemento nutricional e a testemunhar seus diversos benefícios à saúde. Na Alemanha, o uso de pólen é permitido como estimulante do apetite.

No Brasil, diversas universidades têm-se dedicado à análise e ao estudo científico das propriedades nutricionais e terapêuticas do mel, da geleia real e da cera das abelhas, como também do pólen das flores e das possíveis propriedades terapêuticas das toxinas das abelhas. Em todos os países em que a apicultura é desenvolvida, existe um crescente interesse científico e econômico de se ampliar a produção dos produtos oriundos das abelhas, mediante ensinos e métodos seguros e adequados.

O pólen recolhido pelas abelhas e os produtos à base de pólen não apresentam qualidade uniforme, ou seja, não são padronizados, pelo fato de se originarem de plantas de espécies muito variadas e de sua composição química variar de semana para semana e de uma colmeia para outra. No entanto, o pólen é fonte importante de proteínas e de um complexo concentrado de substâncias nutritivas e biologicamente ativas que conferem a ele propriedades profiláticas e terapêuticas. Composto de proteínas, carboidratos, sais minerais, ácidos graxos essenciais, (ácidos alfalinolênico e linoleico), o pólen também contém pequenas quantidades de vitamina C, vitaminas do complexo B e vários aminoácidos, hormônios, enzimas e coenzimas.

Acredita-se que alguns apicultores russos da Caucásia chegavam alcançar a idade de 160 anos pelo fato de mastigarem regularmente favos contendo mel e pólen frescos. De modo geral, deve-se considerar o pólen, a propolina, a geleia real e o mel das abelhas como importantes suplementos nutricionais, inclusive com relevantes propriedades terapêuticas, porém não como medicamentos propriamente ditos.

O pólen contém todos os elementos essenciais à vida dos organismos vegetais e animais. É também rico em vitaminas e hormônios do crescimento.