Por que tudo é política?

Por Roberto Goldkorn

Já escrevi aqui mesmo sobre política, e mais especificamente sobre votações, porque esses movimentos populares sempre são, pelo menos para mim, inspiradores. Gosto de observar as engrenagens ocultas (ou seriam apenas fantasias minhas?) que movem todo esse circo, no bom sentido, e fazer paralelismos coma nossa vidinha tão feijão com arroz.

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Gosto de pensar que também nós nos oferecemos às eleições todos os dias. Também agimos como os políticos profissionais e semi-profissionais (mas que aprendem rapidinho); também nos frustramos quando perdemos uma eleição, seja ela ao coração da pessoa amada, seja no círculo de amizades do sujeito que faz aqueles churrascos fantásticos e que não nos convida mais. Nós nem percebemos, mas estamos quase constantemente em campanha.

Você reclama que todo político é um ator ou atriz? E você? Imagine que uma câmera oculta está lhe seguindo. O que você veria depois no filme da sua campanha? Sorrisos sinceros? Expressões autênticas de suas Emoções e de seus sentimentos? Alguém que de forma natural só fala a verdade, não omite nada, é verdadeiro em cada gesto, mesmo quando pega a criança do patrão no colo? Claro que não. E se tivéssemos uma outra câmera, mais avançada ainda que pudesse gravar todos os seus pensamentos? Pense nisso. Você ganharia as eleições para o que quer que fosse, se fossem exibidas em horário nobre os seus mais recônditos pensamentos? Acho que não, nem eu.

A vida em sociedade nos leva a esses artificiosismos, a essas falsificações sutis ou grosseiras de nossos verdadeiros Eus, e tudo isso porque desejamos sempre algo, vender algo, comprar algo, nos eleger para algum "cargo" , conquistar algum tipo de poder. Como dizem os budistas, o desejo está na raiz de todos os males de todas as falsificações. Quando vejo um político moderno indo no botequim para tomar um café com a plebe, ou pegar uma criancinha no colo e sorrir para a câmera, e todo aquele povão ao seu redor sorrir satisfeito (ou seria sastifeito?) vejo uma situação arquetípica, uma cena velha, requentada de uma peça chamada "me engana que eu gosto." Talvez essa peça devesse chamar-se: "me engana porque eu preciso disso para me sentir menos enganador".

Todos somos enganadores e fingidores no nosso dia a dia. Por isso não apedrejamos os políticos mais corruptos, mais falsos, mais enganadores, porque eles são o nosso reflexo. Como poderíamos enforcar os políticos falsos e enganadores, sem que nos sentíssemos na obrigação de colocar o nosso pescocinho na corda? Há sim, já sei, você vai dizer que está fora dessa, que é sincero, verdadeiro e honesto até o último fio de cabelo. Bem aí então teremos que passar a uma instância superior. Nada de câmeras, nadas de microfones ocultos, nada de escuta autorizada ou não pela justiça. Vamos passar você para a instância divina. Entregá-lo, bem como sua integridade incorruptível, ao julgamento do Logos universal, e deixemos que o imponderável, o inacessível, o transcendental faça o julgamento e o eleja ou não. A sua vida, os seus terrores, tremores suas alegrias ou abismos serão a manifestação do resultado das urnas celestes.

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Mas não se iluda achando que será feito um julgamento moral. Não o Logos universal, Deus, ou seja lá que nome a sua limitação cultural lhe dê, não julga com esses parâmetros tão limitados. Quais são os parâmetros então? Perguntará você já acreditando (por prudência ou temor) que eu sei das coisas. Não sei justamente nessa aula onde isso seria revelado tive de faltar. Mas posso lhe dar uma dica, apenas porque ouvi um galo cantar ao longe: não serão eleitos os "malandros" e os "espertos", não serão eleitos os "cruéis" e os "injustos", nem todos aqueles que agem covardemente contra os mais fracos e mais ingênuos. O resto… bem o resto, como já disse, ficou na aula que faltei justamente para levar meu cachorro doente ao veterinário. Mas se depois disso tudo você ainda for candidato, me escreva me passe o seu número, pode contar com o meu voto.

*Exotérico: comum, vulgar, trivial