Espontaneidade, satisfação e alegria devem reger prática esportiva

por Renato Miranda

Muito se diz sobre a orientação às crianças e jovens de um modo geral para ter sucesso em suas vidas. No esporte isso não é diferente. Alguns pais e profissionais ao se encantarem com o potencial atlético dos seus filhos/alunos ficam permanentemente em conflito a fim de encontrarem qual o melhor caminho para os mesmos obterem sucesso.

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Ademais, atualmente a busca por posição social, empregos e bons salários é uma preocupação que surge na tenra idade motivada em muitos casos no âmbito familiar. Logo, a prática esportiva quando estimulada desde cedo tem forte tendência de ser orientada por aquilo que pode trazer algum benefício concreto nos termos do reconhecimento ou recompensa em curto prazo de tempo.

Em consequência, muitos jovens atletas deixam de usufruir uma das melhores experiências que o esporte oferece na vida das pessoas: a alegria. Isso ocorre fundamentalmente por que objetivos de sucesso e ascensão social são projetados por adultos como se fossem a razão prioritária da prática esportiva.

Ao considerarmos, em hipótese, um jovem de talento para praticar determinado esporte em alto nível e a ideia descrita acima é incorporada pelo mesmo desde cedo, haverá então uma grande possibilidade de ocorrer um paradoxo indesejável. Em síntese, desanimará facilmente, se aborrecerá antes de chegar ao alto nível e não terá o sucesso esperado. E caso se torne um atleta profissional viverá em constantes conflitos pessoais e o sucesso será relativo.

Para que criemos uma personalidade dedicada, concentrada e que faça tudo aquilo que lhe é exigido especificamente em alto nível (em nosso caso a prática esportiva), antes de mais nada é primordial que a espontaneidade, a satisfação e a alegria sejam as principais recompensas e, portanto os objetivos básicos de uma vivência sistemática e permanente do esporte para jovens.

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Em pressuposto, ao assegurar tais objetivos com o passar do tempo, o esforço e a dedicação em tudo que é fundamental para a melhoria do desempenho (treinamentos principalmente) virão naturalmente.

Por outro lado se não fomentarmos a prática de esporte livre de projeções futuras enraizadas na recompensa social e material a criação da personalidade acima será muito difícil. Teremos, pelo contrário, um atleta que embora talentoso, será fraco psicologicamente, avesso aos treinamentos árduos e à disciplina exigente do alto nível. Além do mais não sentirá o prazer da recompensa advinda do sacrifício e da dedicação permanente simbolizada pelo trabalho.

O atleta que aprendeu em criança a se divertir e ter satisfação no que faz sem esperar recompensas como se fossem um direito adquirido são aqueles que permanecem por mais tempo em atividade e não por acaso acabam por obter mais sucesso.

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No entanto, aquele que desde cedo vislumbrou sucesso e ascensão social (frequentemente uma motivação provocada por adultos), mesmo com talento, terá tudo para fracassar diante de seus desafios. E mesmo que eventualmente tenha sucesso, não conseguirá usufruir de maneira exemplar de sua carreira esportiva.

O atleta que convive naturalmente com a rotina rígida de treinamentos e os limites impostos na vida de um atleta de alto desempenho, é aquele que quando vislumbrou o esporte como uma profissão, dedicou boa parte do tempo da prática esportiva durante a infância com alegria e satisfação e que a melhor recompensa estava justamente na oportunidade da participação no esporte.

Para finalizar, sempre é bom lembrar que viver a alegria do esporte infantil já basta. Pretensões demasiadas para o futuro não faz parte de um roteiro de sucesso.