Paradoxo: se praticar esporte faz tão bem, por que não o fazemos?

por Renato Miranda

Há uma convivência paradoxal, no Brasil em especial, entre os benefícios do esporte e exercício físico e seu valor na vida das pessoas.

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Explico. Difícil encontrar pessoa que não considere o exercício físico importante para sua vida. Ao mesmo tempo não é fácil encontrar alguém que dedica um tempo de sua rotina para se envolver disciplinadamente a um programa de treinamento.

Pais frequentemente afirmam que o esporte pode ser um grande aliado na formação de seus filhos, para protegê-los socialmente e fisicamente. No entanto, não é fácil encontrar pais que se esforçam seriamente em dar oportunidade aos filhos de praticarem esportes. Não é apenas uma questão de investimento financeiro, mas muito mais, em agir como facilitador, encorajador, motivador e etc.

Gestores em educação dificilmente descartam o esporte como meta de suas ações, mas quando observados em prática, o esporte não passa de um retalho nas atividades escolares, ou seja, muito pouco se faz, apenas para dar uma suposta resposta à sociedade. Veja o quanto de orçamento governos destinam ao incentivo do esporte nas escolas. Se não são as exceções, escola pública não teria aprendizado do esporte formal.

Mesmo em escolas privadas com recursos físicos e materiais, o esporte nem sempre é tratado como algo valioso. Conheço escolas privadas que mesmo com todas as condições, não oferecem o amplo repertório de experiências que um aluno pode viver através do esporte e da competição. Muitas delas, aliás, alegam que a filosofia ou linha pedagógica não contempla a competição esportiva.

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Em termos políticos, nunca ouvi ninguém dizer, desde a esfera municipal à federal que não investirá no esporte. No entanto, quando encontramos alguma cidade que promove a prática esportiva de maneira plena é algo que vira destaque.

Mesmo a considerar que um país como o nosso, onde há muitas outras demandas a resolver como, por exemplo, transporte, segurança e habitação, é compreensível que o esporte não tenha o mesmo tratamento de urgência. O problema é que muitas vezes não tem tratamento algum. É solenemente desprezado. Vejamos o caso da saúde; notadamente exercício físico e esporte não são temas de interesse dos gestores de saúde. Por outro lado, quando uma cidade de porte médio trata o esporte/exercício físico com importância política e associado com políticas públicas de saúde, muitas conquistas são advindas da associação esporte/exercício físico/saúde.

Mesmo em universidades, os temas ligados ao esporte e ao exercício físico muitas vezes, são considerados de “valor” intelectual menor, como se isso fosse possível. Não é por menos, que se formos avaliar o que as faculdades de Educação Física e Desportos estão estudando e pesquisando, vamos encontrar muito pouco em relação daquilo que se espera de uma agenda pré-Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. Ou seja, esporte não é assunto de destaque!

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Assim sendo, acredito que se as pessoas se dedicassem e valorizassem uma rotina de exercícios físicos, da mesma maneira que o fazem em uma tarefa profissional ou algo assim, naturalmente o esporte entraria na vida dessas pessoas como um valor inquestionável.

Em sequência, se pais agirem da mesma forma com os filhos, ou seja, acreditar que o exercício físico e o esporte não diferem das outras disciplinas e atividades em grau de importância, nós teríamos uma sociedade juvenil bem melhor.

Governos, em qualquer esfera, deveriam criticar melhor seus orçamentos para o esporte e exercício físico. Com o tempo, vão observar que os tecnocratas que preparam orçamentos são verdadeiros “gols contra” da política moderna. Investir no esporte, desde recursos humanos aos equipamentos necessários para o desenvolvimento do esporte olímpico, por exemplo, é garantia de um desenvolvimento pleno.

Isso porque, uma sociedade esportivamente ativa, é composta por pessoas (em todos os níveis e idades) que: pensam melhor, têm mais energia, são mais concentradas, mais otimistas, mais magras e fortes, portanto, mais dispostas, descansam melhor e mais rápido de suas tarefas, se divertem mais facilmente por que sabem fazer ou são aptas a aprender muitas atividades e assim sucessivamente.

Quem sabe, principalmente após os Jogos Olímpicos (vistos de perto!), o Brasil compreenda que o esporte está muito mais além das quadras, pistas e campos… Vamos ver!