Bem-estar na pauta do brasileiro

por Lilian Graziano

Recentemente, saiu o anúncio do lançamento de um índice de bem-estar que medirá os anseios da população brasileira nesse quesito. Trata-se do Well Being Brasil (WBB), coordenado por profissionais da Fundação Getúlio Vargas, o Movimento Mais Feliz e a rede social MyFunCity.

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Ao todo, 10 indicadores vão compor o novo índice, dentre eles a satisfação com setores como transporte, mobilidade, profissão, dinheiro e consumo. Será que tal iniciativa irá mudar o rumo de políticas públicas em favor das reais necessidades de nossa população? Sei, caro(a) leitor(a), que o escopo deste espaço é muito mais o seu bem-estar subjetivo do que a discussão sobre o coletivo. Mas é preciso estar atento ao que esse movimento em questão significa.

Trata-se, sim, de um passo importante pois, de alguma forma, coloca o bem-estar, foco de pesquisa da Psicologia Positiva, sob atenção de órgãos públicos. Contudo, é lamentável que o tal indicador brasileiro seja um índice puramente econômico que simplesmente ignora o bem-estar psicológico.

A probabilidade de que a pauta vire preocupação nacional é grande, porque promover o bem-estar público, sabendo como chegar a ele, é no mínimo caminho mais fácil para que programas sociais deem resultado. É medida interessante também do ponto de vista político, para que governantes ganhem visibilidade e mantenham-se no poder, sob plataformas de ação que atendam objetivamente aos anseios mais prementes da população nesse sentido.

Se assim ocorre, mesmo que lamentavelmente sob interesses exclusivamente políticos, quem ganha é você leitor (a) com maior qualidade de vida. E não estranhe se houver uma mudança radical no seu conceito de bem viver, acontecimento que encontra explicações no cerne da criação do primeiro índice medidor de felicidade do qual se teve notícia.

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O projeto de um índice que pudesse mudar a forma como vemos a riqueza de um povo surgiu no Butão, com a Felicidade Interna Bruta (FIB), hoje estudada e aplicada por nações como Estados Unidos e Canadá. Isso porque o Produto Interno Bruto (PIB), aplicado mundialmente, não dá conta de medir a qualidade de vida de um povo, também uma das riquezas a serem produzidas por uma nação. O uso do tempo livre, o trabalho voluntário e o lazer ficam fora do índice, sem que seja medido o impacto social e mesmo o financeiro de sua prática (e eles são consideráveis).

Deixando de fora questões sociais tão importantes (e que devem ser encaradas como bens públicos, no que tange à busca generalizada por bem-estar ou felicidade que expressam), o tradicional índice de riquezas, o PIB, dissemina a lógica selvagem do capitalismo, associando o bem-estar de uma nação ao dinheiro acumulado; estimula em nível individual o consumo, a filosofia do “ter para ser”.

Com o FIB, o foco deixa de ser dinheiro e passa a ser o atendimento da população em suas reais necessidades, aquilo que é capaz de promover o bem-estar público, e que, como já se provou, na maioria das vezes não está associado à riqueza. Porém, a primeira dimensão do FIB é justamente o bem-estar psicológico que os pesquisadores brasileiros (dentre os quais não se inclui um psicólogo) preferiram ignorar.

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Sendo assim vale dizer que, ainda que represente um avanço, o índice brasileiro de bem-estar que tem sido equivocadamente divulgado como índice de “felicidade”, de fato não o é.

Em entrevista a um importante jornal paulistano o professor doutror em administração de empresas Fábio Gallo afirma que: “Sociedade feliz é aquela em que todos têm acesso aos serviços básicos de saúde, educação, previdência social, cultura, lazer”. Desculpe, professor, mas o senhor está enganado. Há muitas pessoas que, a despeito de terem acesso a tudo isso, ainda são infelizes. Estudos mostram que países como Inglaterra e Estados Unidos, embora sejam consideravelmente mais prósperos do que eram nos anos 50, experimentam hojeíndices de felicidade ligeiramente inferiores.

Estou certa de que o acesso aos mencionados “serviços básicos” é necessário à felicidade humana, contudo acreditá-lo suficiente, além de simplista pressupõe uma felicidade de caráter essencialmente material. Essa talvez seja a visão da economia. Mas, definitivamente, não é a da Psicologia.

Sendo assim deixo a você, leitor (a), minha recomendação: Aproveite a discussão promovida e inicie já a sua revolução pessoal: sem travas, nem influência de índices capitalistas, o que é que te faz FELIZ?