Conceituamos o tempo de forma errada

por Lilian Graziano

Já reparou como corremos? Tornamo-nos seres tarefeiros e qualquer coisa que não possa ser “ticada” numa lista parece ser “perda de tempo”. Será?

Continua após publicidade

Nossa relação com a correria cotidiana nos revela o maior dos paradoxos.

Corre-se porque o tempo é valioso. Mas, se ele é tão valioso, por que corremos todo o tempo e não o aproveitamos?

Os mais pragmáticos diriam que isso acontece porque tempo é dinheiro. Os inconformados anticapitalistas repetiriam que isso é loucura. Os mais hedonistas transformariam o prazer a todo o tempo, e intenso, em loucura.

A verdade é que o tempo é valioso, mas não por nada disso. Está errada essa nossa forma de conceituar o tempo. Ele vale por sua escassez: a vida é curta. Vale porque não se volta atrás.

Continua após publicidade

Aliás, volta-se atrás, sim, na memória. Mas quem acha que tempo é dinheiro, muitas vezes, não tem do que se lembrar, para onde ou quando voltar. E então, por que correu o tempo todo, nem se lembra mais por que produziu tanto, todo o tempo (talvez nunca tenha sabido).

O tempo também é valioso por seu sentido. Que sentido tem o seu tempo? Pois tempo é vida – são indissociáveis, e só se vive uma vez. Se tempo é sentido e tempo é vida, sentido na vida é fundamental. E temos uma única chance.

Talvez uma vida sem sentido, em que não se enxergue um significado de largo horizonte, remeta apenas à curta perspectiva de uma… tarefa.

Continua após publicidade

Não se percebe que o tempo nos presenteia experiência, sabedoria, superação e alegria. E horizontes.

Algumas vivências se escondem atrás de um relógio a medir o tempo que falta para o próximo tique da lista. A gente não as percebe, a não ser que tenha tempo para tanto. Tempo para entender o significado de tudo isso.

É tempo para o savoring

Tempo, em Psicologia Positiva, não é exatamente poesia. Mas é sentido, em todos os sentidos: significado e sentimento. É a pausa necessária para avaliar nossa trajetória e pesar na balança o quanto fomos felizes ou infelizes, o que é preciso mudar. É tempo para o savoring (o deleite com aquilo que nos dá prazer, que nos tira das preocupações cotidianas e permite enxergar o que há de mais belo ao nosso redor). É também tempo de produzir, mas com sentido, dentro de um projeto de vida que nos faça feliz.

“Tempo, tempo, tempo, tempo… és um dos deuses mais lindos (…)”