Sabedoria dos animais: Fábulas para o século XXI

por Carminha Levy

Como mestra xamã preocupada com a destruição da Mãe Terra, resolvi convocar nossos grandes aliados, nossos anjos da guarda de quatro pernas, de penas e escamas, que rastejam e que voam, os Animais de Poder – guardiões do animal de duas pernas – o Homem.

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Com a sua sabedoria a coruja logo atendeu ao meu chamado, enviando um e-mail para os que vivem nas selvas urbanas que nos cercam e longínquas paragens onde eles têem a graça de viverem no seu habitat – creio que neste caso a coruja usou o seu piu como tambor e piou insistentemente de dia deixando-os assustadíssimos – isto é um presságio de morte – e todos acorreram urgentemente. O encontro, como não podia deixar de ser ocorreu na Paz Géia deixando assim o tráfego do Itaim mais intransitável que véspera de Natal.

Todos reunidos por uma causa nobre, a cura da Mãe Terra, surpreendentemente houve um apaziguamento geral no ambiente. Leões olhavam pacificamente as ovelhas e lambiam os beiços que salivavam pelas gazelas. Os corvos olhavam ressabiados para as raposas lembrando do belo pedaço de queijo que eles perderam seduzidos pela fala de sua manipuladora amiga, que “incensando” suas vaidades os convenceu de cantar – dizendo de quão bela era sua voz (um terrível grasnado)! E eu, o animal de duas pernas pensei nos bajuladores políticos que com suas promessas eleitoreiras, nos convencem a votar neles nos deixando de bico vazio. Cuidado com os espertalhões!

Bem, desconfianças à parte o fato é que todos quiseram, ajudar, colaborar, fazer parceria com os homens.

Temos tanto o que fazer! Desde a solução do trânsito de São Paulo (para começar um tormento dos paulistas mas que junto a tudo que ocorre na Mãe Natureza é simples probleminha) até a violência gratuita que prevalece em todo o Brasil e no mundo.

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O macaco representante da sua tribo pede a palavra. Ele quer solucionar o trânsito de São Paulo, que de tão estressante tem levado os desentendimentos à morte sobre quem é o culpado em caso de trombadas. Fala seu líder: sugiro em nome dos meus pares, que seja construída sobre a selva de pedra uma grande e arejada rede nas quais os humanos pularão de galho em galho, evitando engarrafamentos ao mesmo tempo fazem seus exercícios físicos diários, que geram saúde, paz e felicidade. Ha! E não esqueçam de comer banana diariamente.

Os ratos resolveram alertar com muita sabedoria sobre o perigo de muita fala e pouca ação, portanto muita cautela nas nossas proposições. Relembraram a célebre confabulação contra o gato Rodilardo, cuja voracidade apontou tal matança entre os ratos que acabou dizimando a maior parte deles. Os gatos fizeram uma assembléia e discutiram e discutiram este problema e após muitas assembléias acharam um modo de solucionar o problema: deveriam por um guizo no gato, pois quando ele chegasse soando daria tempo de todos fugirem e se salvarem.

Começou a escolha do salvador, aquele que prenderia o guizo. Quem se candidatava? Um a um os valorosos ratos foram dando desculpas por não poder aceitar a tarefa. Um estava ocupadíssimo, outro estava destreinado em dar laços e nós e por aí foi e a assembléia se dissolveu por falta de candidatos à ação.

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Para nós fica a lição: deliberar é necessário, mas quando é para executar as mudanças, as reformas, as audácias de enfrentar as grandes transformações, falta vontade política de fazer valer a força necessária, para que surja um novo mundo de paz e harmonia entre nós que somos o animal humano de duas pernas. Ou negamos como os macacos o perigo ou protelamos tomadas de posições na qual não usamos a nossa grande força de ser agente de cura da Mãe Terra, fazendo a nossa parte praticando a ampliação da consciência e se comprometendo, se responsabilizando de ser artífice de uma nova era. Axé na Luz.