Salutogênese: Você sabe que é?

por Alex Botsaris

Medicina antroposófica é a que mais se identifica com o conceito de salutogênese

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Salutogênese é o conceito, criado pelo pesquisador Aaron Antonovsky em 1979, para designar as forças que geram saúde, e se opõem à patogênese, ou seja, às influências que causam a doença. Segundo Antonovsky, caso fossem potencializadas as forças que se opõem ao estímulo causador de doença, seria possível evitar que as pessoas adoecessem. Portanto, ele propunha formas de estimular e preservar esta força, através da ciência, pela chamada salutogênese.

Antonovsky chamou de ‘senso de coerência’ o fundamento da salutogênese. Senso de coerência significa um estado de harmonia e bem-estar com o meio social, familiar e consigo mesmo. O autor descreveu isso como ‘uma sensação de orientação global, sentimento dinâmico de autoconfiança, gerado no meio interno e externo, que forma um ambiente saudável, de alta probabilidade de êxito na vida’.

Trabalhos posteriores sobre o mesmo assunto, basearam o senso de coerência num tripé: significado, flexibilidade e estímulo. Significado são os valores sociais e pessoais que alicerçam a sociedade, associados à potencialidade de troca de informações e a reconstrução desses valores que surge nas relações. Flexibilidade é o potencial de adaptação, seja do indivíduo, seja da sociedade, para haver uma harmonia entre ambos. Estímulo representa tudo aquilo que funciona como força motriz para os indivíduos e a sociedade, e dessa forma aproxima as pessoas da vida, do trabalho, da família e da sociedade como um todo.

O trabalho de Antonovsky, assim como o conceito de salutogênese, tem sido utilizado pelos pesquisadores que trabalham com qualidade de vida, para definir quais as áreas que são críticas para que o índivíduo sinta-se bem e saudável. A Organização Mundial da Saúde, ao redefinir saúde como sensação de bem-estar físico, psíquico e social, tem trabalhado no mesmo sentido. Os pesquisadores que desenvolvem esses conceitos, dividiram o bem-estar em vários domínios, que incluem trabalho, vida pessoal e familiar, hábitos de vida e espiritualidade. Esses cientistas, assim como outros das áreas de medicina psicossomática e neurociências do comportamento, têm aplicado a teoria da salutogênese.

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Entretanto, apesar de bem discutida do ponto de vista teórico, a salutogênese ainda carece de uma sofisticação em suas ações práticas. É nesse campo que muitas medicinas complementares têm encontrado espaço para ampliar o seu papel na área de saúde. Diferentes da medicina convencional, que necessita da presença de doença e de um diagnóstico para atuar, as complementares exibem métodos terapêuticos voltados para o equilíbrio do indivíduo saudável. Essas técnicas podem contribuir para prevenir doenças e gerar bem-estar, em consonância com a teoria da salutogênese. Assim, vários autores publicaram artigos nas áreas de medicina chinesa, medicina ayurvédica, osteopatia, naturopatia, yoga, medicina tibetana e homeopatia, relacionado essas técnicas com salutogênese. Sem dúvida as medicinas tradicionais e técnicas complementares de saúde poderão ajudar muito a ampliar a salutogênese, promovendo bem-estar, estimulando a coerência do indivíduo consigo mesmo, e reforçando seus valores fundamentais.

Entre todas as medicinas complementares, a que mais se identificou com o conceito de salutogênese foi a medicina antroposófica. As ações de buscar a saúde através do significado, da flexibilidade e do estímulo, são bem semelhantes às propostas do filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861–1925 – fundador da antroposofia), fator funcionou como elo de aproximação. Steiner também valoriza muito, em seu trabalho, as relações sociais e a vida espiritual como suportes para a saúde e instrumento de cura. Tudo muito semelhante com as propostas de Antonovsky. Por isso, os médicos antroposóficos foram os que mais publicaram e desenvolveram idéias nesse campo, nos últimos anos.

Nesse mesmo sentido, o VII Congresso Brasileiro de Medicina Antroposófica, que se realizou na cidade mineira de Caxambú no início de novembro do ano corrente, elegeu o tema ‘Salutogênese’ como tema central das suas atividades desse ano. A proposta foi não só rever os avanços da medicina antroposófica, como também ampliar o horizonte de atuação. Por isso, médicos de outras áreas como homeopatia e medicina chinesa, foram convidados a participar das discussões. Assim, foi possível abrir um amplo leque de técnicas que promovem a saúde e previnem a doença.

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A conclusão dos pesquisadores é que, reforçando os valores fundamentais do ser humano, como as relações familiares, a espiritualidade, hábitos de vida saudáveis, acesso à informação e isso associado à prática regular de métodos para voltar ao equilíbrio e proteger-se contra o estresse, está criado o ambiente ideal para a salutogênese. Nesse ambiente, fica muito reduzido o campo para alguma doença se instalar. Por isso, ações dessa natureza podem evitar uma porcentagem significativa de muitos dos males que nos afligem hoje em dia.

Atenção!
Esse texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento