Como os pais devem lidar com a sexualidade dos pequenos

por Marcelo Toniette

“Peguei minha sobrinha de 6 anos se masturbando. Ou melhor, com as pernas cruzadas e se espremendo. Ela ficava em pé e se sentava com angústia. Então a chamei pra brincar, ela ficou com raiva de mim e se sentou no sofá. Só que quando percebi, ela encostava o controle remoto na região genital. De novo tirei sua atenção daquilo. Minha sobrinha disse que ela e um amiguinho se tocam na genitália, num esconderijo. Está demais! O tempo todo que descuidamos, lá está ela fazendo novamente…”

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Resposta: Sua sobrinha descobriu que o contato com objetos, o toque, ou o esfregar pernas, gera sensações agradáveis. Esta é uma forma que ela encontrou de conhecer o próprio corpo, assim como muitas crianças fazem. A recomendação que é dada, é justamente de apresentar à criança outras possibilidades de sentir gratificação, a exemplo dessa que você cita de chamá-la para brincar.

Porém, a reação nem sempre será a de cooperação. Sua sobrinha reagiu com irritação, claro, ela estava em uma atividade prazerosa e foi interrompida por outra que, naquele momento, não era tão motivadora.

É preciso ter isso em conta. Nem sempre as reações e atitudes das crianças são aquelas que esperamos e, vale ressaltar, isso não justifica a punição ou outras medidas repressoras.

Claro que você, assim como a sua irmã, no papel de educadoras, têm a incumbência de acompanhar e favorecer o desenvolvimento de sua sobrinha, o que inclui não permitir que ela se coloque em situações de risco físico ou emocional. Por outro lado, é importante que a situação seja encarada de forma a compreender que é mais uma forma, dentre várias outras, de expressão de sua sobrinha.

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As sensações experimentadas pela sua sobrinha são diferentes daquelas sensações experimentadas pelos adultos quando se masturbam. Na masturbação essas sensações são potencializadas e têm caráter sexual, geralmente são realizadas associando-se fantasias envolvendo pessoas ou situações. Essa distinção é importante, pois geralmente os adultos têm reação de espanto ou de repressão acreditando que aquilo é um desvio de conduta, uma “hipersexualização”.

Essas reações por parte dos adultos têm desdobramentos quase sempre negativos para a criança que associa aquele ato prazeroso de autodescoberta com algo errado e, desse modo, algo passível de punição. Reprimir, ou associar o ato de estimular-se, como algo feio e sujo, poderá gerar problemas no futuro. No caso de sua sobrinha, parece que ela própria já providenciou uma maneira para lidar com essa situação encontrando um esconderijo para continuar experimentando suas descobertas.

Continuem no caminho adotado por vocês, apontem outras possibilidades em que sua sobrinha possa sentir-se gratificada, mas sem preconizar esse ato com algo sujo ou errado. Nesse sentido, são indicados brincadeiras, esportes, dança, jogos, pintura, entre outros, de preferência em grupo. É importante que vocês também continuem participando, elogiando e incentivando novas conquistas de sua sobrinha. Isso contribuirá para a melhoria da auto-estima, a vivência em grupo, além do sentimento de pertencer. Em algum momento, seja a médio ou a longo prazo, caberá uma conversa com ela para que seja orientada sobre os lugares apropriados em que pode experimentar sensações, quando estiver só, e não diante de outras pessoas. Mas em momentos e lugares reservados a exemplo do banheiro e do quarto.

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Quais são os principais cuidados que os pais devem ter em relação à sexualidade dos filhos?

Resposta: Com relação à sexualidade das crianças, cuide só para não reproduzir uma percepção negativa com relação ao sexo e à sexualidade. A única coisa que você precisa ficar atenta com relação às crianças é de que não se envolvam em situações que as coloque em risco seja físico, seja emocional, inclusive no que diz respeito à sexualidade. Evite o exagero de uma atenção que sufoque o desenvolvimento afetivo-sexual dos pequenos.

Atenção!
As respostas do profissional desta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um profissional de psicologia e não se caracterizam como sendo um atendimento