Quando as crianças começam a brincar de namorar; o que fazer?

por Marcelo Toniette

“Meu filho de 5 anos tem um amigo de 4 anos. Pegaram o amigo dele lambendo a bundinha do meu filho. Falei com meu filho, o porquê de eles estarem fazendo isso. Ele me respondeu que eles estavam brincando e, com vergonha de falar, disse que quem começou a brincadeira foi ele mesmo. Fui conversar com os pais do amigo dele. A mãe da criança me falou que eles estão com essas brincadeiras há algum tempo. Comecei a prestar mais atenção nas brincadeiras dele e percebi que ele está sempre brincando de namorar com seus bonecos e bichos de pelúcia.”

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Resposta: Logo que nasce, no contato com o próprio corpo, o bebê experimenta sensações, nas quais podemos incluir a sensação de prazer. Mais tarde, ao longo do seu desenvolvimento, a descoberta de sensações se amplia para o corpo dos pais e até para o corpo de outras crianças. Essa descoberta do corpo e das sensações, seja consigo, seja com outras crianças, desperta nos pais uma série de dúvidas e incertezas. Esse momento de descobertas é importante para o desenvolvimento da sexualidade da criança.

As dúvidas dos pais muitas vezes estão relacionadas à forma própria de compreender a sexualidade. No universo adulto, a sexualidade tende a ser relacionada com o erotismo e com a realização de desejos. Considerando a diferença do referencial de sexualidade, muitos adultos ficam perplexos quando a criança inicia a descoberta e a exploração de sensações. Uma das preocupações freqüentes dos pais é a falsa idéia de que em se permitindo esse comportamento exploratório da criança, ela ficará hiperssexualizada ou desenvolverá algum tipo de distúrbio sexual. Isso não acontece.

A partir do momento que a criança satisfaz a sua curiosidade, a tendência é descobrir outras possibilidades de sensações, que não necessariamente perpassam pela esfera do erótico, conforme entendimento a partir do universo adulto.

Na infância, são comuns os jogos ou as brincadeiras envolvendo sensações e não necessariamente torna-se fonte de problemas na vida adulta. A curiosidade da criança é algo que os adultos precisam esforçar-se para reconhecer e respeitar, ou pelo menos buscar orientação para isso. A partir do momento em que a criança começa a se manipular – tocar o próprio genital – ou mesmo que começa a formular perguntas sobre sexualidade, pode ser uma ótima oportunidade para o adulto buscar conhecer mais sobre a sexualidade, incluindo a própria.

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No episódio apresentado pela leitora vemos uma possibilidade que o filho encontrou de experimentar sensações e de estabelecer contato com o amigo da mesma idade. Isso também passou a ocorrer com os brinquedos. A condenação ou a punição somente vai gerar na criança uma mensagem que não é bom ou aceitável satisfazer a curiosidade e nem expressar afeto. Essa mensagem negativa vem acompanhada das conhecidas frases do tipo: “tire a mão daí”, “nunca mais faça isso”, “isso é sujo”, “isso é feio”, reforçando a idéia de castigo e de punição relacionadas à sexualidade. Visto que a punição ou o castigo não suprimem a necessidade da criança, ela passará a manter o comportamento às escondidas dos pais.

Os pais podem se perguntar: “o que eu devo fazer nessa situação?”. Quanto mais drama, quanto mais alarde se fizer no momento que o adulto presenciar algum jogo infantil, mais marcado negativamente ele ficará. É como se ocorresse um “corte”, uma marca, naquele momento, para a criança, registrando que aquilo é ruim. Isso pode repercutir negativamente no seu desenvolvimento.

É importante que os pais se esforcem em compreender que a sua percepção de sexualidade não é a mesma que a percepção da criança que está em pleno desenvolvimento. A sugestão quando os pais presenciarem tal situação é manter a calma e, se a situação não favorecer, deixar para conversar com a criança em outro momento. Outra sugestão é, se possível, sempre com calma e serenidade, aproximar-se da criança – ou das crianças – e convidá-la para outra atividade que ela goste de fazer, por exemplo, tomar sorvete, brincar com algum jogo de sua preferência, ou alguma outra atividade que de alguma forma sinta-se integrada, como ajudar os pais em alguma atividade.

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Desse modo, a condenação ou punição não é a melhor saída. Se a criança nesta fase estiver experimentando sensações, nada melhor do que oferecer uma gama de outras possibilidades sensações, incentivando o seu desenvolvimento.

Os pais lidando de forma positiva e humana com a sexualidade da criança estarão auxiliando-a em fortalecer a autoestima e a confiança. A criança sentindo-se aceita e compreendida viabiliza a abertura, confiança e diálogo com os pais.

Atenção!
As respostas do profissional desta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um profissional de psicologia e não se caracterizam como sendo um atendimento