Ter mais satisfação na vida pode estar bem perto de você

por Lilian Graziano

Flow – “Entramos em flow não simplesmente fazendo aquilo que gostamos. Mas empregando, nessa atividade, aquilo que de melhor temos a oferecer para o mundo, ou seja, nossas forças pessoais”

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Como vai o seu flow?

No Facebook, esses dias, alguém postou a foto de um azulejo colorido, que está pregado em uma parede qualquer de Barcelona, Espanha. Nele está pintada a seguinte mensagem: “He decidido hacer lo que me gusta por que és bueno para la salud” (algo como “decidi fazer o que gosto porque é bom para a saúde”).

A frase é creditada a Voltaire e, para a Psicologia Positiva, faz todo o sentido. É preciso fazer o que se gosta, do contrário nunca entraremos em estado de flow. E o que é flow? Você deve estar se perguntando…
 
Muito simples: é um estado de total concentração naquilo que se faz, não por que se está interessado nos resultados que essa atividade irá proporcionar, mas pela própria atividade em si.  Eu posso ler um texto, por exemplo, porque terei que fazer uma prova sobre ele amanhã ou simplesmente pelo ato de ler em si. A isso damos o nome de atividade autotélica, uma das importantes características do flow. Mais do que prazer, o flow nos propicia gratificação. É por isso que sua felicidade pode ser medida, entre outras coisas, e grosso modo, pela quantidade de flow em sua vida. E sua saúde também depende disso, em uma óbvia relação.

O flow é um dos elementos analisados cientificamente pela Psicologia Positiva, para caracterizar o grau de satisfação das pessoas com a vida e consigo e trabalhar essa questão. Não se trata de um momento de êxtase, mas de plenitude, mesmo. E é possível encontrar esse estado nas atividades corriqueiras, no trabalho, em coisas que realizamos diariamente e de maneira agradável, gratificante e sob motivação intrínseca.

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É por isso que a busca por melhor qualidade de vida passa, então, pela decisão de admitir para si atividades mais gratificantes, com as quais temos absoluta afinidade e as quais desejamos, de fato, praticar. Essa receita, junto com o desenvolvimento de atitudes e sentimentos mais positivos diante das dificuldades, é a conta certa de uma vida mais feliz. Por outro lado, tomo a liberdade de complementar a frase creditada a Voltaire: “Difícil és saber lo que me gusta…” (“Difícil é saber do que gosto…”), o que implica, em última instância, a necessidade de um mergulho profundo em si mesmo, quando se busca pelo bem-estar.

Para saber do que gostamos, o que nos provocaria o flow, é preciso autoconhecimento, em um nível que o corre-corre diário não nos permite. É necessário observar, em cada passo, cada gesto, o que nos interessa, mobiliza e alegra. Assim sendo, dedicar um tempo para si é fundamental. E permitir-se experimentar coisas na vida também, com abertura para o novo, que, uma vez experimentado, pode ser o que nos provoca o bem-estar, o que preenche um vazio que até então existia.

Mas isso é apenas o começo. Entramos em flow não simplesmente fazendo aquilo que gostamos. Mas empregando, nessa atividade, aquilo que de melhor temos a oferecer para o mundo, ou seja, nossas forças pessoais. E se você já achava que o caminho para o flow não era tão simples quanto você gostaria, aqui vai mais uma: Você sabe o que tem de melhor para oferecer ao mundo?

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Boa parte das pessoas não sabe, e quando vivenciam o flow é de maneira errática e acidental, o que lhes enfraquece diante da possibilidade (e necessidade) de tornar-se o protagonista de um projeto de vida feliz. Aí é mais fácil acreditar que felicidade é questão de sorte,  o que, definitivamente, não é.

Muito provavelmente, toda a angústia pós-moderna se dá não só pela ausência de flow, mas, antes disso, pela privação da experiência (nós, que vivemos centrados em mundos virtuais, não experimentamos). Ficamos angustiados, também, pela falta de tempo para avaliá-la [a experiência], quando ocorre. Ganhar a vida não é fácil, e talvez por isso nos dediquemos tanto a essa tarefa, em detrimento de cuidarmos, de verdade, de nossa vida – mas diria também que não vale a pena ganhá-la se não podemos usufruí-la plenamente. Assim, volto à pergunta: Como vai o seu flow? Com que frequência tem experimentado coisas novas em sua vida? Está disposto(a) a descobrir o que de melhor tem a oferecer ao mundo?

Responder a essas questões com precisão vai lhe dar a exata medida do que é preciso para alcançar a sua felicidade (se é que ela já não está bem aí).