Transtorno bipolar não tem cura, mas pode ser controlado

por Edson Toledo

“O tratamento inclui o uso de medicamentos, psicoterapia e mudanças no estilo de vida, tais como o fim do consumo de substâncias psicoativas…”

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Pacientes portadores de transtorno bipolar possuem altas prevalências de tentativas de suicídio, 36,3% para o tipo I (é considerado o “clássico”. Neste tipo os pacientes sofrem um ou mais episódios maníacos com duração de pelo menos uma semana, e quase sempre um ou mais episódios depressivos que duram mais do que os episódios maníacos.) e 32,4% para o tipo II (a depressão também aparece nos pacientes nesse tipo, porém em vez de mania, as pessoas com bipolar II experimentam hipomania, uma forma mais leve de mania), sendo o transtorno psiquiátrico com maior risco absoluto de suicídio para homens e o segundo para mulheres.

Assim, é importante estar atento ao diagnóstico da doença. O que difere o transtorno bipolar I do tipo II é a duração e a gravidade. A diferenciação entre mania e hipomania se faz mediante a duração e a gravidade dos episódios.

Já o transtorno bipolar não especificado é uma categoria abrangente para aqueles que parecem ter transtorno bipolar, mas que não se encaixam em nenhuma categoria. Por exemplo, para uma doença ser considerada bipolar I, um episódio maníaco tem que durar pelo menos uma semana como dissemos anteriormente; se o episódio maníaco durar apenas três dias, os médicos afirmam que o paciente tem transtorno bipolar não especificado.

Por outro lado os pacientes com ciclotimia são por vezes considerados como sendo “extremamente temperamentais”. Ciclotimia se caracteriza pela alternância de altos e baixos” (em ciclos), nenhum tão grave ou duram o tempo suficiente para se qualificar como mania ou depressão. Pessoas com ciclotimia podem ter explosões de energia e precisam de menos sono, seguido de depressão leve.

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Além disso, mesmo que o paciente tenha sido diagnosticado com um tipo particular de bipolar, isso não significa que seus sintomas permanecerão os mesmos ao longo do tempo, ou que ele permanecerá no mesmo subtipo.

Quando suspeitar que um paciente é bipolar?

O paciente que apresentar o seguinte quadro deve ser encaminhado para a avaliação de um especialista em saúde mental:

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– Períodos de aumento de atividade;
– Comportamento desinibido com duração de pelo menos quatro dias, com ou sem períodos de depressão;
– Ou três ou mais episódios recorrentes de depressão junto com uma história de aumento de atividade ou desinibição do comportamento;
– Pacientes com mania ou depressão severa com risco de auto ou heteroagressão;
– Presença de sintomas de aumento de atividade e comportamento desinibido em pacientes com depressão.

Quando considerado um diagnóstico de transtorno bipolar os profissionais de saúde devem levar em consideração:

– Sintomas psicóticos;
– Ideação suicida;
– Uso de drogas ou;
– Distúrbios de comportamento podem ser sintomas de uma apresentação tardia de transtorno bipolar e não parte de um transtorno do espectro da esquizofrenia, especialmente em pacientes com difícil acesso ao tratamento.
– Álcool e drogas podem induzir sintomas semelhantes aos de mania.
– Na situação de pacientes internados, se deve aguardar pelo menos sete dias antes de se conformar o diagnóstico de transtorno bipolar.

Sintomas do humor podem estar relacionados a condições orgânicas subjacentes, como:

– O hipotireoidismo,
– Doença cerebrovascular e outras doenças neurológicas (por exemplo, demência), particularmente em indivíduos com transtorno bipolar de início tardio (mais de 40 anos).

Transtorno bipolar não tem cura, mas pode ser controlado. O tratamento inclui o uso de medicamentos, psicoterapia e mudanças no estilo de vida, tais como o fim do consumo de substâncias psicoativas, (cafeína, anfetaminas, álcool e cocaína, por exemplo), o desenvolvimento de hábitos saudáveis de alimentação e sono e redução dos níveis de estresse.

De acordo com o tipo, gravidade e evolução da doença, a prescrição de medicamentos neurolépticos, antipsicóticos, anticonvulsivantes, ansiolíticos e estabilizadores de humor, especialmente o carbonato de lítio, tem-se mostrado útil para reverter os quadros agudos de euforia e evitar a recorrência das crises. A associação de lítio com antidepressivos e anticonvulsivantes tem demonstrado maior eficácia para prevenir recaídas. No entanto, os antidepressivos devem ser utilizados com cuidado, porque podem provocar uma mudança rápida da depressão para a euforia, ou acelerar a incidência das crises.

A psicoterapia é outro recurso importante no tratamento da bipolaridade, uma vez que oferece suporte para o paciente superar as dificuldades impostas pelas características da doença, ajuda a prevenir a recorrência das crises e, especialmente, promove a adesão ao tratamento medicamentoso que, como ocorre na maioria das doenças crônicas, deve ser mantido por toda a vida.

A seguir algumas recomendações úteis para portadores e seus familiares sugeridas pelo Dr. Dráuzio Varella:

– Seguir o tratamento à risca é a melhor forma de prevenir a instabilidade emocional e a recorrência das crises, o que assegura a possibilidade de levar vida praticamente norma;
– Os remédios podem não fazer o efeito desejado logo nas primeiras doses que, muitas vezes, precisam ser ajustadas ao longo do tratamento; portanto não o interrompa;
– O paciente pode procurar alívio para os sintomas no álcool e em outras drogas, solução que só ajuda a agravar o quadro; este é um erro muito frequente em portadores dos transtornos do humor;
– Alternar a fase de depressão com a de mania pode dar a falsa sensação de que a pessoa está curada e não precisa mais de tratamento;
– A família pode precisar também de acompanhamento psicoterápico, por duas diferentes razões:

1ª) Porque o distúrbio pode afetar todos que convivem diretamente com o paciente;
2ª) Porque precisa ser orientada sobre como lidar no dia a dia com os portadores do transtorno.

Por fim, empresto as palavras do Prof. Dr. Ricardo Moreno, diretor do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas do Ipq-HC/FMUSP (GRUDA) de que “precisamos combater a ignorância, o preconceito e o estigma.

Preconceito e estigma começam no próprio indivíduo e na família. Eles precisam mudar a atitude, e não esperar que o mundo se transforme”.