Transtorno de ansiedade é comum em crianças e jovens

por Edson Toledo

“Tanstorno de ansiedade é gerado por uma percepção de ameaça”

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Os transtornos de ansiedade em crianças e jovens são comuns e constituem o maior grupo de problemas de saúde mental durante a infância. Eles podem causar um efeito significativo no funcionamento diário, criar impacto na trajetória do desenvolvimento e interferir na capacidade de aprendizagem, no desenvolvimento de amizades e nas relações familiares.

Muitos transtornos de ansiedade são persistentes e, se não forem tratados, aumentam a probabilidade de problemas na vida adulta.

A resposta de ansiedade é complexa e envolve componentes cognitivos, fisiológicos e comportamentais. O componente cognitivo envolve a avaliação de situações e eventos como um risco antecipado; o componente fisiológico prepara o corpo para alguma ação que se faça necessário (de luta ou fuga), enquanto o componente comportamental ajuda a criança a antecipar e evitar um perigo futuro.

As crianças com transtornos de ansiedade comprovados, encaminhadas a clínicas especializadas, compartilham preocupações similares. Suas principais áreas de preocupação estão relacionadas a problemas de saúde, escola, desastres e danos pessoais, sendo que as preocupações mais frequentes são relativas às amizades, aos colegas de aula, à escola, à saúde e ao seu desempenho.

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Entre as crianças muito pequenas, as tarefas principais são referentes à sobrevivência, de modo que o medo e a ansiedade estão relacionados a ruídos repentinos, acontecimentos inesperados e cautela em relação a estranhos. Em torno dos seis anos, as crianças se tornam mais independentes e começam a reconhecer a sua potencial vulnerabilidade, disso resultando a continuidade das preocupações com a perda dos pais ou em se separar deles. Além disso, surgem temores específicos, como o de animais e do escuro.

Por volta dos 10 e 13 anos, as crianças vão se tornando cada vez mais conscientes da própria vulnerabilidade por meio do surgimento de temores quanto a ferimentos, morte, perigos e desastres naturais. Na adolescência, a natureza dos temores está mais baseada em comparações sociais, e é comum a ansiedade em relação a falhas, críticas e aparência física.

Resumindo: nas crianças, as preocupações são comuns e parecem fazer parte do desenvolvimento infantil normal. As crianças com transtornos de ansiedade tendem a ter preocupações mais intensas e conforme as crianças vão se desenvolvendo e a sua capacidade cognitiva aumenta, o foco das preocupações e temores muda das inquietações concretas para as mais abstratas.

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Aproximadamente uma em cada dez crianças e jovens preencherá os critérios de diagnósticos para transtornos de ansiedade durante a infância; e a depressão é a principal comorbidade (doença relacionada) associada a esse transtorno.

Existem muitos caminhos diferentes para o desenvolvimento dos transtornos de ansiedade na infância. As influências genéticas e os fatores de temperamento são elementos de predisposição que podem aumentar a vulnerabilidade e as influências ambientais importantes incluem os fatores familiares, experiências de aprendizagem e fatores cognitivos.

Os transtornos de ansiedade têm em comum o fato de uma percepção de ameaça gerar a ansiedade. Vejam exemplos:

– O transtorno de ansiedade de separação é caracterizado por ansiedade persistente e excessiva relativa à separação de uma figura com vínculo importante ou a algum dano que aconteça a essa pessoa.

– As fobias específicas são reações extremas mal adaptativas de medo de objetos ou situações específicas que persistem e causam angústia intensa à criança.

– A fobia social é um medo marcante e persistente de situações sociais ou de desempenho, por meio do qual a criança teme a humilhação ou vergonha.

– Os ataques de pânico são caracterizados por sintomas fisiológicos recorrentes e intensos que ocorrem com frequência na ausência de indicadores desencadeantes identificáveis ou específicos.

– O transtorno de ansiedade generalizada é uma preocupação persistente, excessiva e intensa a respeito de uma variedade de eventos futuros e passados.

Como você pode perceber, caro leitor, existem vários tipos de ansiedade, portanto, um diagnóstico preciso sempre orientará a melhor conduta a ser prescrita, seja ela medicamentosa ou psicoterápica, deverá ser feita por um profissional especializado.

De forma geral, os tratamentos psicoterápicos podem ser com terapia cognitivo-comportamental (TCC), psicoterapia dinâmica e incluir a orientação aos pais e à criança e intervenções familiares (principalmente com psicoeducação). Existe certa concordância entre alguns autores sobre a eficácia da TCC no emprego do tratamento dos transtornos ansiosos.

A TCC é uma intervenção prática e baseada nas habilidades com foco no aqui e agora oferecendo uma boa aproximação com o cliente e os experimentos comportamentais proporcionam formas vigorosas e objetivas de ajudar as crianças a testarem suas cognições. As contribuições da criança são encorajadas e valorizadas e os pais ou seu cuidador devem, no mínimo, estar envolvidos em reuniões regulares de revisão.

Psicoterapia com crianças e adolescentes

Quando fazemos psicoterapia com crianças e adolescentes, frequentemente solicitamos a participação dos pais ou cuidadores como uma forma de orientá-los e/ou dar e colher “feedbacks” do processo terapêutico. O fato é que os pais terão um papel mais central com crianças menores, enquanto um trabalho mais direto pode ser realizado com os jovens. Assim o grau de envolvimento dos pais ou cuidadores nas sessões individuais do tratamento poderá variar; eles poderão estar envolvidos em todas as sessões, participar de sessões separadas ou se juntar ao seu filho no final de cada sessão. Espera-se que sessões regulares de revisão com os pais devam ser agendadas para ocorrer dentro das intervenções, para monitorar o progresso e identificar fatores importantes que possam afetar a probabilidade de sucesso da intenvenção.

Podemos dizer que a TCC busca provocar mudanças na maneira disfuncional de perceber e raciocinar sobre o ambiente, e sobre o que causa a ansiedade, bem como mudanças no comportamento ansioso.

De uso restrito, o tratamento farmacológico deve ser uma alternativa quando os sintomas causados pela ansiedade se tornam graves e consequentemente provocam na criança incapacidades. Nesses casos os psicofármacos são considerados importantes aliados no tratamento dos Transtornos de Ansiedade, principalmente os inibidores de recaptação de serotonina, por exemplo, fluoxetina, sertralina, paroxetina e fluvoxamina, o antidepressivo tricíclico (imipramina) e os benzodiazepínicos como o alprazolam e o clonazepam.

Um alerta, os estudos apontam a importância que se tenha cuidado e cautela quanto à administração de psicofármacos em crianças sem acompanhamento monitorado, pois principalmente nas primeiras semanas esses sintomas podem vir acompanhados de ideação suicida.

Não esgotei aqui esse tema, tem muito por se falar sobre os transtornos ansiosos, mas uma coisa é certa, fica evidente que se faz necessária atenção redobrada por parte dos pais e cuidadores para que observem o comportamento de suas crianças e adolescentes e não se desconsidere a importância de prevenir e tratar esse transtorno.

Atenção!

Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um especialista ná área de saúde mental e não se caracteriza como sendo um atendimento.