O que uma competição de alto nível exige da mente de um atleta?

Renato Miranda

“Preparar nosso cérebro para coisas incríveis exige muito treinamento específico”

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Imagens dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2010 em Vancouver (Canadá) transmitidas ao mundo todo nesses últimos dias despertou interesse de muitas pessoas sobre as várias modalidades disputadas: luge (trenó), biatlho (esqui com tiro ao alvo), down hill (esqui na montanha), snowboard (como o skate e o surfe, consiste em equilibrar-se sobre uma prancha), skeleton (modalidade de descida em trenó) entre outros.

Nomes tais que nós brasileiros ainda não estamos totalmente acostumados. No entanto, quem acompanhou os Jogos rapidamente se encantou e passou a entender essas incríveis modalidades olímpicas.

Por outro lado, muitas pessoas perguntaram como é possível para esses atletas um desempenho tão espetacular sob tensões do próprio esporte e o perigo de acidente iminente nas mais variadas disputas, pois as manobras realizadas com esquis e pranchas além de serem executadas de forma arriscada e complexa são feitas em montanhas cobertas de neve que proporcionam alturas e velocidades impensáveis, como por exemplo, a descida em esqui montanha abaixo (down hill) em torno de 120km/h.

Nosso cérebro é capaz de nos auxiliar a produzir habilidades incríveis, mas em alto nível, tal como esses atletas, só são possíveis principalmente através de treinamento intenso, rotineiro e de qualidade. Com o tempo, atletas olímpicos ficam absolutamente sofisticados em temos sinestésicos. Em poucas palavras, eles têm uma aprimorada capacidade de execução e controle de movimentos com o corpo em diversas situações – no espaço (espacial). Por isso, uma determinada acrobacia altamente complexa realizada nas alturas, parece algo muito simples.

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Um atleta só consegue desenvolver um gesto técnico qualquer em alto nível, somente quando tem um programa mental preciso daquilo que tem de ser feito. De outro modo, é quando ele tem consciência (controle) da tarefa a ser realizada. Após muita prática e treinamento, o atleta percebe o quanto cada detalhe pode ser melhorado e/ou acrescentado para dar mais dinamismo, complexidade, precisão e sofisticação nos movimentos.

No entanto, resta saber como colocar todo esse aprendizado na prática competitiva de alto nível a fim de sobressair e vencer os demais competidores. Mesmo por que, além dos perigos naturais de algumas dessas modalidades existe ainda o desejo de ser o melhor ou o mais rápido.

Nesse caso, somente aquele atleta que consegue controlar suas emoções, para regular seu nível de excitação psíquica e manter um programa mental preciso daquilo que ele mesmo deseja realizar, consegue se destacar. Obviamente o atleta bem preparado em competições de alto nível, tem a percepção do que ele pode realizar e não a exata consciência de que fará o previsto por ele.

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Parece um paradoxo, mas não é, pois mesmo que o atleta tenha treinado perfeitamente e consequentemente tenha o controle (consciência) dos movimentos (técnica), a competição é um momento único e existem diversas variáveis (torcida, comportamento dos adversários, clima e outros) e, portanto, o mesmo não consegue equacionar precisamente tudo isso baseado somente em suas execuções de movimentos que se especializou nos treinamentos. Por isso, o atleta que treinou e programou sua mente adequadamente tem o que chamamos de percepção do controle da consciência.

Em outras palavras, embora o atleta na hora da competição não tenha a certeza absoluta que dará conta de tudo, ele percebe que tem amplas possibilidades de regular tudo aquilo que foi programado e se adaptar adequadamente para enfrentar os imprevistos e superar os desafios que surgem em cada momento da competição.

Por isso atletas que treinam no local onde serão realizadas as competições levam uma grande vantagem e para que os atletas não sejam surpreendidos, competições testes (competições preparatórias) são realizadas previamente.

Portanto, não há mistério: preparar nosso cérebro para coisas incríveis exige muito treinamento específico. Assim sendo, da mesma maneira que existem vários tipos de treinamentos físicos, técnicos e táticos, existem também outros que preparam especialmente a mente de atletas. E são eles que auxiliam esses atletas olímpicos a darem esse verdadeiro show em Vancouver. No próximo texto falaremos sobre alguns desses treinos mentais.