Vampirismo é uma forma de manutenção da vida

por Roberto Goldkorn

“O vampirismoé tão natural, tão ancestral quanto qualquer outra forma de estar no mundo”

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Tudo começa quando imensas galáxias, com imensos campos gravitacionais, atraem outras galáxias mais fraquinhas e as assimilam numa bocada cósmica.

Daí pulamos para empresas que se alimentam de absorver outras empresas mais fraquinhas e crescem com isso. Ou os vírus que penetram nas células e as transformam em veículos doidos para corromper outras células.

E por fim, vamos observar indivíduos tanto no reino animal quanto no reino animal racional, que se alimentam dos bens, da energia e do sangue de outros seres.

A lista está obviamente incompleta. Poderíamos falar dos Buracos Negros que se alimentam da luz/radiação que roubam de outros corpos, dos vegetais parasitários que se nutrem apenas da energia vital de outras plantas e por aí vai.

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O vampirismo como forma de manutenção da vida é universal e atemporal.

Lembro de uma história… Na antiga China, havia caçadores de ginseng que passavam às vezes anos de sofrimento caçando uma boa raíz de ginseng para vendê-la a um rico mandarim. Dizia-se que o mandarim ao comprar uma boa raíz de ginseng ganhava a saúde, mas perdia a fortuna, de tão cara que era essa preciosidade. Mas enquanto os caçadores dedicam todos os seus esforços para “caçar” a raíz, havia os ladrões especializados em roubar as raízes recém-capturadas. São os “vampiros”.

Vampiros são seres que se alimentam da energia alheia. Enquanto os “produtores-doadores” passam por todo o processo de buscar, retirar, processar e assimilar energia do meio ambiente, os vampiros sejam eles de que espécies forem, vivem da simplificação desse processo: depois do trabalho realizado em primeira mão, eles se apoderam dos resultados.

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O vampirismo é tão natural, tão ancestral quanto qualquer outra forma de estar no mundo. Deixar que o outro faça o “trabalho” para aí se aproveitar do resultado pode não parecer muito ético ou aceitável para alguns, mas é uma fórmula cosmobiológica de alguns organismos manterem-se no jogo da vida.

Ainda existem muitas perguntas sem respostas nesse capítulo da história da Vida. Como por exemplo: Em que momento da evolução se separaram essas duas cepas de comportamento, os podutores e os vampiros?

O “vampirismo” seria uma forma darwiniana que o mais fraco (ou menos hábil em multiplicar seus genes) encontrou para sobreviver como espécie?

O “vampirismo” seria em sua essência uma deformação do mapa original, cujo estímulo para vampirizar se originou de uma fonte externa, como são os viciados químicos por exemplo?

Se assim for, qual é a “doença” estrutural que impede o “vampiro” de se nutrir na fonte primária onde o restante dos outros seres se nutrem?

Assim como entre os morcegos, dos quais os vampiros são apenas uns 20% de todas as subespécies; na nossa vida cotidiana, os sanguessugas são uma minoria, mas minoria ativa e perigosa para os não vampiros.

Mas se os vampiros, os ladrões dos frutos que produzimos, são essa minoria, por que causam tantos estragos e sobrevivem diante de uma massa de laboriosos produtores? Porque seu foco está na ação predatória, única e exclusivamente!

Enquanto o foco do produtor está na complexa trama que o absorve e mobiliza, o foco do vampiro está apenas nele – o produtor. Enquanto o caçador de ginseng está percorrendo grandes distâncias, sobrevivendo ao calor, ao frio, às chuvas, predadores naturais e precisa se especializar nos tipos de solo mais potencialmente propícios a abrigarem raízes, conhecer clima, topografia, etc- o vampiro predador está dormindo.

Só desperta quando a notícia de um achado chega até ele, aí é só armar a teia e pimba.

Em tempos de abundância os vampiros vivem bem, em tempos de escassez, os vampiros vivem melhor. Conceitualmente os “vampiros” são um paradoxo insustentável: dependem dos produtores para sobreviver, se eles matarem seus “fornecedores” morrem também, mas estão aí desde o início dos tempos.

Sanguessugas, parasitas, ladrões, chupins, vampiros são o lado B da existência, tanto no plano físico quanto no espiritual e fazem parte da existência, embora pessoalmente não enxergue a sua real necessidade em qualquer ecossistema.

Talvez- e essa é apenas uma possibilidade- sejam recicladores, obrigando os produtores a aperfeiçoar seus organismos autopreservadores, e eliminando os organismos mais fracos e menos adapatados.

Se isso for real, os vampiros, de quaisquer natureza, são açoites úteis ao desenvolvimento e melhoramento da vida. Não dizem que Deus escreve certo por linhas tortas?