Proteja-se da intoxicação alimentar

por Jocelem Salgado

Segundo o Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC), cerca de 20% de todos os alimentos que os brasileiros colocam no carrinho do supermercado ou na sacola da feira estão em desacordo com uma ou mais normas do Ministério da Saúde

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Há mais perigo rondando um prato de comida do que pode imaginar quem senta-se à mesa. As cozinhas evoluíram muito desde os tempos em que geladeiras eram artigo de luxo e McDonald’s era apenas o sobrenome de um americano que sonhava em abrir uma lanchonete na Califórnia. Mas toda essa evolução não eliminou o medo que a população tem de comida estragada, tanto no primeiro mundo como em países menos afortunados.

Nos Estados Unidos, 9 mil pessoas morrem por ano por causa de alimentos contaminados. Na França são 700. Nos países situados abaixo da linha do Equador, as estatísticas são imprecisas. No Basil, somente no Estado do Paraná, um dos únicos a estudar doenças transmitidas por alimentos, 1,6 milhões de pessoas sofreram algum tipo de contaminação nos últimos 20 anos. A estimativa é da Secretaria de Saúde do Paraná.

Segundo Odair Senebon, diretor da divisão que estuda alimentos no Instituto Adolfo Lutz, a contaminação da comida pode acontecer em vários momentos: na matéria prima, na produção, no armazenamento ou na comercialização. De acordo com Sezefredo Paz, consultor de alimentação do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC), cerca de 20% de todos os alimentos que os brasileiros colocam no carrinho do supermercado ou na sacola da feira estão em desacordo com uma ou mais normas do Ministério da Saúde.

Os casos de contaminação se multiplicam. Há pouco tempo, duas pessoas foram internadas em estado grave com botulismo causado por um tipo de bactéria, depois de consumir palmito colombiano, na cidade de São Paulo. Também na capital paulista, um restaurante japonês teve de ser interditado ao se constatar a intoxicação de mais de dez clientes pela bactéria salmonela. Pesquisa recente feita com o leite consumido na região central do Estado de São Paulo detectou níveis muito elevados de inseticidas.

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O que é intoxicação alimentar

Intoxicação é o nome que se dá aos sintomas desagradáveis que uma pessoa experimenta depois de ingerir alimentos contaminados por certas bactérias nocivas. Contraindo a crença popular de que alimentos deteriorados costumam provocar intoxicação alimentar, as bactérias que deterioram os alimentos não são a causa mais comum deste distúrbio. Na realidade, esse tipo de intoxicação é muito raro porque, em geral, as pessoas não chegam a ingerir um alimento que está notoriamente estragado. Muito pelo contrário, a comida contaminada que realmente provoca a intoxicação quase sempre tem a aparência, cheiro e gosto normais.

Tipos de intoxicação alimentar

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Em geral, a intoxicação alimentar é provocada por três tipos de bactérias: Salmonela, Clostridios e Estafilococos. Cada uma delas se desenvolve num determinado tipo de alimento, necessitando de certas condições especiais para poder se multiplicar, produzindo um conjunto diferente de sintomas.

Tipos de intoxicação pouco freqüentes

Uma forma muito grave, embora extremamente rara de intoxicação alimentar é o botulismo, doença causada por uma bactéria do gênero Clostridium. Em vez de atacar o intestino, como outros tipos de intoxicação alimentar, o botulismo ataca o sistema nervoso e requer um tratamento totalmente diferente. O paciente com botulismo precisa ser internado em hospital, onde é submetido a um tratamento intensivo.

Outro tipo de intoxicação rara, mas que pode acontecer é aquela causada pela ingestão de plantas venenosas. Este tipo de intoxicação, assim como o botulismo pode ser fatal se não for tratada prontamente. As plantas venenosas mais comuns são:

Comigo ninguém pode

As folhas dessa planta provocam fortes queimaduras que atingem o esôfago causando morte devido ao traumatismo que se segue à intoxicação. A vítima sente dor e ardor intensos nos lábios, no nariz e na garganta; sua boca e laringe incham e as gengivas sangram.

Mandioca brava

Provoca palidez, dilatação das pupilas e aparecimento de espuma sanguinolenta nos cantos da boca. A pele fica arroxeada.

Mamona

Cerca de uma hora após a ingestão, a vítima é acometida por náuseas, vômitos e diarréia. Também aparecem reações como prostração, sonolência, convulsões.

Para todos os casos, a melhor solução é fazer a vítima vomitar, dando-lhe água morna, óleo vegetal e procurar assistência médica imediatamente.

Os inimigos na sua mesa

Bactérias Fungos Metais Pesados Pesticidas Culpados Salmonela
Listeria
Staphylococcus
Clostritidium
Botolinum
Aflatoxinas Chumbo
Cádmio
Mercúrio
Agrotóxicos usados no plantio para evitar insetos e ervas daninhas Alimentos de risco Aves, carnes, ovos e produtos derivados (maioneses), laticínios e embutidos Trigo, soja, amendoim Frutos do mar, peixes, carne de porco, frutas, cereais e produtos derivados Leite,
Frutas,
Verduras
Sintomas da intoxicação Diarréias, dores abdominais fortes, colites e, em certos casos, até a morte Efeitos no sistema nervoso, no fígado e nos pulmões Náuseas e dificuldade motora. Na intoxicação crônica, retardo de crescimento e efeito sobre a fecundidade Vômitos, dores de cabeça

As armas de defesa doconsumidor contra a intoxicação alimentar

A seguir, os cuidados que devem ser observados na compra de alimentos, segundo o Instituto de Defesa do Consumidor

– Geladeiras com alimentos em supermercados devem ter um termômetro indicando sua temperatura. Para laticínios e frios, não pode estar acima de 10°C; para produtos congelados, o ideal é -18°C.
– Confira as datas de validade, fabricação, tempo de conservação e o carimbo da inspeção sanitária, que devem estar nas embalagens.
– Evite consumir leite C. Leite não pasteurizado, só depois de fervido
– Embalagens com furos, ferrugem, vazamento ou amassadas devem ser descartadas, assim como as que estiverem estufadas.
– Evite comprar a granel; prefira produtos industrializados.
– Escolha alimentos cuja embalagem descreva, por extenso, os ingredientes.
– Em se tratando de alimentos in natura, prefira os orgânicos.
– Sempre que possível, compre sucos sem aditivos.
– Cuidado com as maioneses caseiras, principalmente aquelas de lanchonetes e barracas de lanches e cachorro quente.

Muitas pessoas chegam a achar exagerados alguns cuidados que relacionamos abaixo. Mas, considerando os perigos que sua não observância acarreta, eles até que valem a pena. Mais ainda: são precauções muito fáceis de tomar e exigem muito pouco esforço.

– Lave sempre as mãos depois de ir ao banheiro e antes de preparar os alimentos. Se você tiver um ferimento nas mãos ou nos braços, proteja-o com esparadrapo ou use luvas de borracha.
– Lave bem frutas e verduras em água corrente, sobretudo se você pretende ingerí-los crus.
– Certifique-se de que os alimentos estão sendo cozidos da maneira certa. Em caso de dúvidas sobre a temperatura da água ou o tempo de cozimento corretos, consulte um bom livro de culinária.
– Degele completamente a carne de aves antes de levá-la ao fogo. As carnes de vaca, carneiro e peixe podem ser cozidas logo depois de serem tiradas do congelador.
– Se você fez um ensopado e pretende utilizá-lo em mais de uma refeição, cozinhe rapidamente, cubra e conserve em um lugar frio, de preferência na geladeira. Esta precaução é particularmente importante se você pretende comê-lo frio, ou deixá-lo para o dia seguinte.
– Se quiser manter a comida quente para alguém que chegará depois, mantenha-a aquecida a uma temperatura superior a 60°C.
– Quando você for requentar a comida, faça-o de maneira que ela seja totalmente reaquecida e requente apenas a quantidade que você irá comer realmente.
– Não deixe a carne crua entrar em contato com a que está cozida ou assada. Evite comprar em estabelecimento onde carnes cruas e cozidas ficam juntas.

Tratamento das intoxicações alimentares

Aconselha-se sempre procurar o auxílio médico. Nos casos menos graves, um dia de repouso e a ingestão de uma grande quantidade de água ou de sucos, para compensar a perda de líquido provocada pela diarréia ou pelos vômitos, serão o bastante para a recuperação. Também é aconselhável evitar alimentos sólidos durante um ou dois dias. Se os sintomas persistirem, é aconselhável procurar um médico.

No caso de bebês, crianças ou pessoas idosas afetados pela doença, é preciso consultar um médico imediatamente após o aparecimento dos primeiros sintomas. Nesses casos, a perda de líquidos, em consequência da diarréia ou dos vômitos, pode levar a uma rápida desidratação e, conseqüentemente, se transformar num problema sério.

Considerações finais

A alimentação moderna vem misturada de ingredientes estranhos, criados para aumentar o volume e conservar por mais tempo a comida de uma população mundial que neste ano, soma 6 bilhões de habitantes, mais de 46% deles vivendo em grandes aglomerados urbanos e que não tem preocupação alguma com o tipo de alimento que ingerem.

As mesmas técnicas que possibilitam preservar e prolongar a qualidade dos produtos e diminuir os riscos à saúde pública, no entanto, podem corrompê-los. Os alimentos geneticamente modificados por exemplo, concebidos justamente para multiplicar a produção, são hoje objeto de um intenso debate em todo mundo. A polêmica gira em torno dos supostos riscos causados por tais alimentos à saúde humana daqui a 5 ou 10 anos.

Mais informações: www.jocelemsalgado.com.br