Estudo: Incidência de mau hálito atinge quase metade dos brasileiros

por Jocelem Salgado

“Incidência do mau hálito na população brasileira é, segundo a ABPO (Associação Brasileira de Pesquisas dos Odores Bucais) de 40%”

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“Os principais tipos (causas) de halitose: matinal; da fome ou do regime; língua saburrosa; diabetes; sistema digestivo; alimentos de odor carregado, tabagismo, estresse e halitose imaginária”

A halitose, conhecida como mau hálito, sempre foi uma preocupação do homem. Derivado do latim, onde a palavra hálitos significa “ar expirado” e o sufixo “osis”, uma alteração patológica, apresenta-se em alguns, com a particularidade de não ser notado pelo próprio portador, gerando prejuízos de várias ordens e interferindo diretamente na qualidade do relacionamento pessoal.

É um sintoma constrangedor com significativo impacto social, indicando que há algumas alterações orgânicas, podendo ser fisiológica, patológica ou até mesmo uma questão de higiene. Nem sempre é obrigatoriamente uma doença, mas um indicativo de que algo no organismo não vai bem, indicando um desequilíbrio local ou sistêmico, que precisa ser diagnosticado e tratado.

Todo hálito desagradável nem sempre significa uma anormalidade ou indicativo de alterações orgânicas. Muitas vezes ocorrem alterações do hálito em pessoas normais, pela manhã, quando em jejum ou quando com fome, em decorrência do baixo teor de glicogênio do organismo. Na falta do glicogênio, o organismo precisa utilizar, para suas necessidades calóricas, das gorduras, as quais dão, como resultados, ácidos graxos voláteis e substâncias aromáticas que são eliminadas pelos pulmões. Odores do tipo cetônico podem indicar diabetes, odor do tipo urina podem indicar disfunção renal e uremia, dietas ricas em lipídios derivados do leite podem causar odores muitas vezes desagradáveis assim como disfunções hepáticas.

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Estudo: 40% dos brasileiros têm mau hálito

Um levantamento epidemiológico realizado no Brasil abrangendo cerca de 1600 pessoas em diferentes faixas etárias, mostrou que no mínimo 30% da população (em qualquer idade) tem problemas de hálito. A incidência do mau hálito na população brasileira é, segundo a ABPO (Associação Brasileira de Pesquisas dos Odores Bucais) de 40%, sendo 17% de zero a 12 anos, 41% de 12 a 65 anos, 71% acima de 65 anos, devido à redução da função das glândulas salivares. Estima-se que os fatores bucais como língua saburrosa, gengivite e periodontite contribuam em mais de 90% para os casos de halitose, enquanto que o trato respiratório superior contribua em mais de 8% dos casos e os de origem intestinal em cerca de 1%.

Causas

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Halitose matinal: Geralmente intensa, fisiológica e generalizada, a qual pode ocorrer em quase todas as pessoas em maior ou menor grau. Durante o sono ocorre redução do fluxo salivar, acúmulo e putrefação de células descamadas, alimento e saliva, além de leve hipoglicemia (cai o nível de glicose sanguínea) devido ao longo período sem alimentação. O comer e escovar os dentes pela manhã remove a halitose pela ação da língua e da limpeza pela saliva durante a mastigação. Caso algum odor permaneça após a quebra do jejum matinal, merece cuidados especiais quanto ao diagnóstico, tratamento e controle.

Halitose da fome ou do regime: A halitose do regime deve-se a hipoglicemia constante que desencadeia o metabolismo das reservas lipídicas resultando em corpos cetônicos que são eliminados através da via pulmonar e no caso do paciente estar utilizando medicamentos que reduzem o fluxo salivar (xerostômico), favorecem a formação de saburra lingual.

Halitose por língua saburrosa: Formação de material branco ou amarelado, que se deposita no dorso da língua. A saliva exerce papel importante na halitose, já que atua como um detergente natural da cavidade bucal. A redução de fluxo salivar favorece a maior formação de saburra lingual. O estresse também é considerado um fator de importância devido ao aumento da liberação de adrenalina, que inibe o funcionamento das glândulas salivares, principalmente as parótidas, causando a redução do fluxo salivar em maior ou menor grau. Está associada a 85% das causas de halitose.

Halitose por diabetes: Nos pacientes diabéticos por dificuldade em metabolizar a glicose sangüínea, há formação de corpos cetônicos eliminados via pulmonar, da mesma forma que na halitose por regime.

Halitose pelo sistema digestivo: Ao contrário do que se pensa, o estômago contribui pouco para a halitose, pois em situações fisiológicas normais o esfíncter esofágico inferior impede que ocorra refluxo das secreções do estômago para o esôfago, havendo saída de odores somente durante as eructações.(arrotos). O fígado é o local das sínteses protéicas, lipídicas e de carboidratos. Seu mau funcionamento favorece a permanência de substâncias voláteis na circulação que são facilmente eliminadas por via pulmonar. Doenças como hepatite, cirrose e neoplasias aumentam a quantidade de dimetilsulfeto expirado, originando o hálito hepático caracterizado como odor de terra molhada, peixe ou rato.

Halitose por alimentos de odor carregado: Alguns alimentos possuem fortes odores próprios (alho, cebola) que passam à corrente sangüínea e são excretados as halitoses causadas pela ingestão de bebidas alcoólicas, queijo de cor amarela (mais ricos em gorduras), frituras, alimentos gordurosos em geral, ovos, condimentos, chocolate, salame, presunto, mortadela, couve e muitos outros. Os derivados voláteis quando não complemente metabolizados, são eliminados via pulmonar, iniciando a halitose alguns minutos ou horas após a ingestão do alimento e dura até o completo metabolismo do mesmo, podendo variar de indivíduo para indivíduo. Já as bebidas alcoólicas em excesso apresentam mais dois agravantes: ressecam a mucosa bucal aumentando a descamação e provocam alteração da microbiota intestinal com fermentação odorífera capaz de produzir halitose que pode ser mais acentuada quando associada à cirrose hepática.

Halitose do tabagismo: Os fumantes têm o odor exacerbado devido ao odor do tabaco utilizado e além disso, a fumaça agride a mucosa favorecendo a sua descamação e redução do fluxo salivar, propiciando a formação da saburra lingual.

Halitose do estresse: O controle do fluxo salivar está na dependência do equilíbrio do sistema nervoso central, nos pacientes estressados poderá haver uma redução do fluxo salivar em diferentes graus, com possível formação de saburra lingual.

Síndrome de referência olfativa: A síndrome de referência olfativa (SRO) está relacionada com a halitose imaginária. Estima-se que 1,25% da população sofre de disfunção olfativa e/ou gustativa. Assim sendo, a queixa de halitose pode ser na verdade um distúrbio olfativo e/ou gustativo que não promove a emanação de odores desagradáveis.

Halitose e hábitos alimentares

Para a manutenção de um bom hálito, seria ideal diminuir o espaço de tempo dado entre as refeições e fazer pequenas refeições a cada 3 horas.
Essas pequenas refeições devem conter, de preferência, algum tipo de carboidrato e fibra. Assim, as reservas de carboidratos estarão sendo supridas evitando a manifestação de halitose causada pela queima de gordura, devido à queda dos níveis de glicose.

Além de forçarem a mastigação, as fibras estimulam mecanicamente o funcionamento das glândulas salivares e favorecem o bom funcionamento intestinal. Podemos observar também que as pessoas quase não têm o hábito de consumirem frutas “in natura”. Elas consomem as frutas, coadas nos sucos, deixando de exercer a função mastigatória, além diminuir a ingestão de nutrientes, uma vez que são perdidos durante este processamento.

A ingestão abusiva de estimulantes do sistema nervoso central (S.N.C.) como café, bebidas a base de cola e similares podem causar danos ao organismo, bem como prejudicar o suprimento sangüíneo das glândulas salivares e a qualidade do sono, pois algumas pessoas apresentam sensibilidade maior à capacidade excitatória dessas substâncias. Pessoas que dormem mal alteram o seu metabolismo sistêmico, prejudicando o bom funcionamento orgânico, podendo ter o seu quadro agravado.

Uma alimentação noturna pesada poderá comprometer também a qualidade do sono e provocar refluxos gastroesofágicos durante o sono, pois a válvula do esfíncter cárdia será pressionada pelos alimentos.

Algumas pessoas possuem discreta alergia à proteína animal que se manifesta com um acúmulo de muco nasal e aumento da viscosidade salivar, predispondo o paciente à halitose. A falta de algumas enzimas orgânica altera a absorção de alguns alimentos, levando à lentidão metabólica e formação de gases. Algumas pessoas apresentam dificuldade em digerir carne vermelha, feijão, alimentos crucíferos e, no entanto fazem uso diário dos mesmos.

Diagnóstico

A anamnese e o exame clínico são de extrema importância para o diagnóstico e posterior tratamento, onde algumas características devem ser levadas em consideração: orientação do uso correto do fio dental, técnicas de escovação, orientação da dieta alimentar, hábitos alimentares, limpeza da língua para a remoção do biofilme lingual, sialomentria, exame clínico e sondagem periodontal.

Observar sítios (locais) de sangramento gengival, presença de cárie, peças protéticas porosas, anatomia lingual, exame de toda mucosa bucal e observar descamação bucal. O tipo de odor poderá orientar o diagnóstico, como por exemplo o hálito cetônico refere a diabetes, e portanto devemos levar em consideração o encaminhamento médico.

O diagnóstico da halitose está relacionado com um minucioso exame clínico bucal, porém não podemos esquecer que a halitose tem diversas causas, portanto a importância da interação entre as especialidades médicas e odontológicas para o tratamento é fundamental. O diagnóstico bem elaborado e atento permite identificar causas e orientar o tratamento.

A flora bacteriana bucal tem um papel importante na halitose, como produtora de compostos sensíveis ao odor humano, bem como também a saliva e suas várias funções, as doenças periodontais e os hábitos alimentares e de higiene. Todos os fatores devem ser considerados, para que se retorne ao equilíbrio do ecossistema bucal. Somente com um diagnóstico sistemático e tratamento individualizado, poderemos aumentar as chances de sucesso na abordagem da halitose.

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