Sentir bem-estar quer dizer viver bem?

por Elisa Kozasa

Conheço algumas mães que já me contaram algo semelhante a esse discurso:

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“Eduquei meu filho para ser “alguém na vida”, dei carinho e atenção, mas desde que ele começou a andar com aqueles ‘amigos’ nunca mais foi o mesmo: chega tarde em casa, vai mal na escola e acho que está pegando meu dinheiro escondido”

Bem, dar educação e carinho sem dúvida nenhuma é importante na profilaxia contra o uso de drogas, mas não garante que seu filho não se torne um usuário.

Na realidade o grande problema das drogas psicotrópicas é que elas trazem uma sensação de prazer, ou seja, trazem uma sensação boa para o usuário que por alguns momentos pode se esquecer dos problemas, se sentir poderoso ou capaz de enfrentar todas as dificuldades. Se ainda participa de uma roda de amigos que partilham do mesmo vício, ele tem um motivo a mais: usando a droga ele pertencer a um grupo e é aceito. Na fase da adolescência esse último fator é bastante importante; identificar-se com um grupo ou uma “tribo” e ser acolhido é fundamental.

Algumas drogas são mais caras e têm acesso mais restrito num nível sócioeconômico mais privilegiado, mas outras como o crack são baratas e de acesso fácil e infelizmente têm um efeito devastador. A procura pela euforia intensa e o bem-estar e ao mesmo tempo a fuga dos efeitos negativos da abstinência da droga, fazem com o usuário tente conseguir a droga a qualquer preço, enganando, roubando e tendo atitudes contra os seus próprios princípios.

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Por que o consumo de drogas causa sensação de bem-estar?

As drogas atuam no sistema de recompensa de nosso cérebro disponibilizando maiores quantidades de serotonina (responsável pela sensação de bem-estar) e de dopamina que parecem reforçar a compulsão pela busca e utilização da droga. Em outras palavras, nem sempre sentir-se bem-estar por algum tempo significa estar bem ou viver bem.

O exemplo do uso de drogas psicotrópicas talvez seja um caso extremo, mas muitas vezes temos atitudes em nossas vidas, em que tomamos decisões para obter bem-estar momentâneo como ao comer compulsivamente, comprar coisas que teremos dificuldades de pagar posteriormente, e que podem preencher um vazio naquele instante, mas certamente não trarão uma vida melhor.

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Comparando com o uso de drogas ilícitas, temos essas atitudes impulsivas para ter prazer ou para fugir de um sofrimento psicológico que estejamos vivenciando como dificuldades no trabalho, problemas de relacionamento, ou um caos financeiro.

Talvez o prazer possa definido como esta sensação de bem-estar momentânea e a felicidade com um estado de bem-estar duradouro. Prazeres são importantes para uma vida saudável, sem dúvida nenhuma, mas temos que procurar o discernimento para optar por aqueles que não comprometam a qualidade de nossa vida presente e futura.

Dicas de leitura:

Graeff FG. Drogas psicotrópicas e seu modo de ação. 2ª. Edição. Editora Pedagógica e Universitária, São Paulo, 1990.