Sente-se mal em ficar só? Ter autoconhecimento pode te ajudar

por Thaís Petroff

Hoje, trago uma importante reflexão acerca dos relacionamentos amorosos.

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Estar com outra pessoa não é algo fácil. Todos temos nossa história, hábitos, opiniões e gostos. Além do mais, fomos educados de uma determinada maneira em uma cultura específica. Fora isso, temos nossa personalidade e também nossos medos, dificuldades, problemas … Temos nossa família, amigos, trabalho, religião, entre outras tantas coisas.

Se já é complexo para nós mesmos lidarmos com todas essas questões. O que dirá então, quando se busca compartilhar momentos, decisões, situações e a vida com outra pessoa?

Mas, mesmo com todo esse pacote, temos o instinto de procurar estar com alguém. Dessa maneira, vemos a grande maioria das pessoas ou em algum tipo de relacionamento amoroso ou desejando ter um.

Estar em uma relação amorosa ou buscar uma não é de modo algum um problema. Essa busca ou desejo se torna um problema quando fazemos isso para fugir de ficarmos sozinhos, solteiros e solitários.

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Para algumas pessoas o simples fato de pensar em ficar só já gera ansiedade, angústia, medo e tristeza. É por isso que há quem pule de uma relação rapidamente para outra, repetindo esse padrão de pular de galho em galho; ou ainda, há aqueles que mesmo em uma relação que traz sofrimento, que não é frutífera, saudável ou prazerosa, ainda assim se mantém nela.

Como já descrevi em outro texto (veja aqui), para podermos partilhar um bom relacionamento de casal, precisamos primeiro constituir nossa individualidade, ou seja, para sermos dois, precisamos primeiro ser um.

Se eu não me estabeleço como pessoa e não assumo minhas responsabilidades, bem como não tenho um bom relacionamento comigo mesma, como posso querer estar em comunhão com outra pessoa? Na verdade, o que estou fazendo é entrar em um relacionamento amoroso para fugir de mim mesma.

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Se tenho muita dificuldade em lidar com questões emocionais ou mesmo práticas do dia a dia, posso buscar um relacionamento para que o outro resolva as coisas por mim ou ainda por sentir um incômodo muito grande em ficar só.

Por que ficar só é tão desconfortável para algumas pessoas?

Estar sozinho, é estar consigo mesmo. Estar em contato com todo esse pacote de coisas que citei acima, sem a distração de si, (que pode ser gerada por um outro quando estamos em relação), ou seja, é você com você mesmo. E por que isso é motivo de tanta aversão? Porque é insuportável ter a si mesmo como companhia.

Pergunto então:

– Se a percepção que tenho é que nem eu mesma consigo ficar comigo, como outra pessoa fará isso? Ou ainda, a que deveria me submeter para conseguir manter um relacionamento amoroso?

Se a relação é uma fuga de si, então fatalmente ela não será benéfica para um dos lados ou até para ambos. Para ter uma boa base, para estabelecer um relacionamento amoroso, o primeiro passo é estar nele por desejo e não por necessidade.

Isso quer dizer que eu escolho estar com outra pessoa porque me faz bem estar com ela e estar junto é melhor do que estar separado. Mas, para isso eu preciso primeiro me sentir bem comigo mesma e ter prazer em estar em minha companhia. Não preciso do outro mas… opto por estar com ele.

Se tenho aversão a ficar sozinha, então passo a precisar estar em uma relação; não necessariamente em um relacionamento amoroso, mas sempre buscando fugir de ficar só e, para isso, procurando compulsivamente a presença ou o contato com outras pessoas (amigos, familiares, contatos virtuais, etc). Assim, fica-se quase que como viciado em relacionamentos, não suportando estar consigo mesmo.

É por isso que inúmeras pessoas ficam em relacionamentos ruins ou não têm coragem de terminar um relacionamento até que haja outro em vista. Posso não gostar mais do meu cônjuge, pode haver traições, pode haver brigas constantes e desrespeito mas, ainda assim, escolho não terminar porque tenho pavor de ficar só.

Como sair dessa situação?

Para podermos ficar bem sozinhos, para podermos ter um relacionamento saudável ou ainda para conseguirmos finalizar um relacionamento falido, precisamos gostar de estar conosco e termos autoconfiança. Isso quer dizer ter prazer e/ou tranquilidade em fazer coisas em sua própria companhia ou talvez até não fazer nada. É ficar em paz, mesmo que não haja outra pessoa com você. É ter segurança em si, que saberá lidar com as situações que possam acontecer.

No processo de terapia cognitivo-comportamental há duas maneiras de trabalhar a dificuldade de ficar só:

1ª) Através do autoconhecimento saber melhor do que gosto e não gosto, o que quero e não quero e aprender a resolver meus problemas sozinha;

2ª) O treino de exposição graduada. Esse consiste em entrar em contato, gradualmente, aumentando aos poucos o nível de dificuldade com situações aversivas ou difíceis.

Nesse caso, o treino pode consistir em, por exemplo, se a pessoa gosta de filmes, assistir a um filme sozinha em casa; posteriormente ir ao cinema sozinha uma vez e então criar uma frequência em fazer essa atividade sozinha.

Se a pessoa teme uma determinada situação, ela vai pouco a pouco se expondo a essa e lidando em terapia com os conteúdos que vão aparecendo em função disso. Ela percebe então que estar só, não é sentir solidão. Que solidão é uma percepção negativa que ela tinha a respeito de ficar sozinha. Solidão é então um adjetivo que eu posso colocar no "substantivo só", bem como também usar o "adjetivo liberdade".

Quando eu compreendo quem sou, meus gostos e preferências e me permito praticá-los, passo então a ter uma relação mais amigável e prazerosa comigo mesma.

Estar só é agradável. E aí estar com outra pessoa, terá que ser melhor do que ficar sozinha.