Para amar é preciso ter coragem

por Ângelo Medina

Dizem que amar é sofrer, se entregar… que o amor traz aprimoramento pessoal, espiritual… Mas o que importa tudo isso? Objetivamente o mais importante é enxergar as qualidades do parceiro (a) e procurar ter uma boa convivência através do diálogo. Mas para isso é preciso ter coragem.

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Nesta entrevista ao Vya Estelar o terapeuta holístico Sergio Savian explica por que cada um tem o amor que merece e por que a coragem é o ingrediente principal do relacionamento amoroso. Savian desvenda como suas emoções atuam desde momento do flerte, até o dia-a-dia da vida conjugal. Ele ensina como lidar com as crises mais recorrentes da relação.

Vya Estelar – Não aguento mais ficar sozinho (a) como lido com isso?

Sergio – Ficar só pode ser muito interessante. Você tem tempo para se conhecer melhor, para desenvolver seus talentos, dedicar-se à carreira profissional. Mas chega uma hora que também é muito chato e vazio. E se você está viciado em sua própria companhia, não se abrindo para o mundo, o mais saudável é respirar fundo e fazer alguma coisa por isso. Saindo de casa, participando dos eventos, aceitando convites para sair, habilitando-se para a paquera.

Vya Estelar – O que faz de alguém uma pessoa encantadora e atraente? A beleza pesa quanto nesta balança?

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Sergio – A beleza é sempre relativa. Tem gente que gosta de gente magra, outras de gente mais forte, há quem goste de pessoas altas, outros gostam de baixinhos (as). Uma coisa é certa, o charme que alguém possa ter depende muito da sua vivência, da sua coragem de vida, da espontaneidade, da auto-estima e da auto-confiança. Você pode ver uma garota bonita e totalmente sonsa. Você pode ver uma outra não tão perfeita assim e cheia de vitalidade. Tudo depende das suas crenças a respeito de si mesmo.

Vya Estelar – Existe um caminho para superar a timidez?

Sergio – Existe sim e vale a pena investir nisso. A timidez pode ter vários motivos e para sair dela é preciso descobrir as sua causas. O bloqueio de comunicação pode vir de uma auto-imagem fraca, de uma formação tacanha, de um trauma antigo, de um grau de vergonha exagerado. Mas tudo isto pode ser revisto para que você viva mais feliz e realizado. É importante também distinguir a timidez de um caráter mais introspectivo de personalidade. Este é natural e assim deve ser encarado.

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Vya Estelar – Como saber se estou sendo correspondido por alguém?

Sergio – Quando você quer conquistar alguém, tudo o que você gostaria de saber é o que passa pela cabeça e pelo coração da outra pessoa. Mas isto só é possível quando você tem uma boa percepção. Isso é uma questão de leitura da metacomunicação, isto é, da linguagem do corpo, do olhar, da entonação de voz, das atitudes do outro. Mas você não resolve este problema como se resolve um problema de matemática, com um manual de instruções. Não acredito nisto. A conquista é mais parecida com a arte, com o desenvolvimento da intuição neste sentido.

Vya Estelar – O grande lema da conquista é: "Quem não arrisca não petisca"?

Sergio – O risco, o senso de oportunidade, a presença de espírito são um fator muito importante na paquera. Se você não tiver um bom "timing" põe tudo a perder. Isto quer dizer que você não deve desperdiçar uma boa oportunidade que muitas vezes é única, mas também é importante saber qual é a melhor hora de dar a sua investida. Sendo muito precipitado o seu alvo pode escapar. Arriscar é fundamental, mas sempre com classe.

Vya Estelar – E se eu levar um fora?

Sergio – Infeliz é aquele que pretende ser perfeito. O erro deve fazer parte da nossa vida caso queiramos crescer. Nem todo mundo gosta de você e é bem provável que alguém não o (a) deseje. Faz bem para o ego ser elogiado e reconhecido, mas quando seu ego não é massageado é preciso ter auto-estima suficientemente desenvolvida para que você encontre um apoio dentro de você mesmo. Se ele (a) não me quer, eu me quero.

Vya Estelar – Será que ele (a) vai me ligar? Nesta caso ajo por impulso e ligo? Como lido com a sensação de insegurança no início de uma relação?

Sergio – A insegurança atrapalha muito. O ideal é você estar tranqüilo e confiante. Se ele (a) ligar é muito bom, mas se não liga você não se desespera. Deixe acontecer o encontro um dia após o outro, sem colocar muita expectativa desde o início. Numa relação do tipo gangorra, quando sempre um está por cima e o outro está por baixo, o fato de alguém ligar ou não lhe atribui mais ou menos poder. Mas numa relação mais equilibrada, mais madura, não importa quem é que toma a iniciativa. De toda forma tem de haver um bom equilíbrio entre o dar e o receber.

Vya Estelar – Como avaliar se escolhi bem o meu parceiro?

Sergio – Cada um tem o amor que merece. Esta frase parece cruel para quem se sente mal acompanhado ou para quem está sozinho. Mas é a pura verdade. A gente costuma atrair as pessoas que sabemos ou não atrair. Sendo assim, a única coisa que lhe resta é a reflexão das suas atitudes. Só assim você conseguirá mudar alguma coisa em você mesmo e em conseqüência disto, mudar o destino de seus encontros.

Vya Estelar – É claro que não é uma regra, pois todas tem a exceção. Mas é super difícil encontrar uma pessoa que reuna todas as qualidades que gostaríamos? Não existe um ditado que fala que quem escolhe muito acaba sendo escolhido?

Sergio – A questão é que tem muita gente que escolhe muito porque no final não está aberta para amar. Outro ponto importante é que se não aceitarmos as nossas próprias fraquezas e vulnerabilidades não vamos aceitá-las nos outros. E como ninguém é perfeito e tem muita gente num grau de exigência tremendo, produto disto é um grande contingente de gente só. Uma pena, porque o amor é lindo e a única coisa que realmente vale a pena!

Vya Estelar – Por que o amor é uma oportunidade tão rara?

Sergio – Primeiro de tudo, para você amar deve estar num momento bastante propício para isto. Seu coração deve estar bem aberto, de verdade e não da boca para fora. Segundo, você precisa encontrar alguém que também esteja neste ponto. Além disso, precisam haver muitas afinidades, senão o namoro terá mais brigas que prazeres. Por último a Existência deve compactuar com isso tudo sincronizando o encontro. Vendo assim, para que o amor aconteça é preciso que uma espécie de milagre aconteça.

O relacionamento duradouro

Vya Estelar – Num relacionamento realmente tudo deve ser dito. Deve-se literalmente lavar a roupa suja, independente das conseqüências?

Sergio – É muito ruim deixar de ser você mesmo para estar com alguém. Por isso, é importante que você tenha a possibilidade de se expressar, dizer o que pensa e sente para o seu (sua) companheiro (a). Lógico que a gente deve ter a sensibilidade de saber qual é a melhor hora para isso.

Vya Estelar – Você descobre uma mentira do seu parceiro. Isto seria um traço indicador de que a pessoa não seria mais digna de confiança?

Sergio – Amor tem a ver com confiança e a mentira abala a estrutura de um relacionamento. A mentira tem a ver com a covardia, com a falta de autenticidade, com a hipocrisia. Ninguém está totalmente livre de mentir. Todo mundo mente um pouquinho ou muito. Mas a relação é mais saudável na mesma proporção da transparência que se consegue ter. Mas isto é para os corajosos. Aliás, o amor é só para quem tem coragem.

Vya Estelar – Quais são os indícios de que um está sufocando o outro, evidenciando que é preciso dar um respiro para ficar um pouco sozinho (a)?

Sergio – Quem sabe se está sendo sufocado ou não é você mesmo. Você fica de saco cheio e mal humorado. Perde a paciência com facilidade e fica irritado. Quando você estiver se sentindo assim, é muito saudável que você dê um tempo para si mesmo. Para se recuperar, para lembrar de si mesmo, para fazer qualquer coisa que não seja estar com o outro. E isto não quer dizer que você não o queira mais. É mais simples que isto. Você está com saudades de você mesmo. Aproveite para visitar-se.

Vya Estelar – Como é essa história de aprender a brigar?

Sergio – A natureza é sábia. Chove, faz sol, calor, frio, garoa, tempestade. Quando somos naturais e espontâneos deixamos passar por nós vários sentimentos: alegria, raiva, tristeza, etc. Uma relação tem vitalidade quando tem espaço para a expressão do que você sente e pensa. E nem tudo são flores. Se você não briga, não lava a roupa suja, fica muitas vezes com um sentimento de mágoa que acaba detonando a relação. Da mesma forma que uma casa precisa de faxina sistematicamente para ficar arejada, limpinha e cheirosa, a relação precisa de muito diálogo para que se mantenha sempre viva.

Vya Estelar – Vale a regra que todo ciumento é um inseguro?

Sergio – Se alguém me disser que não tem ciúme da pessoa amada, não acredito. É verdade também que o ciúme está diretamente ligado à insegurança. O que penso é que este tipo de sentimento não deve dirigir as nossas atitudes. Se a insegurança é minha, os sentimentos de ciúme e posse também são meus e não devo atormentar o outro com este problema. Devo aprender a me resolver com isso.

Vya Estelar – Falando em dar um tempo. Este recurso é mais um artificio covarde de quem quer terminar e não tem coragem, ou este tipo de recurso pode renovar e restaurar o relacionamento?

Sergio – Dar um tempo pode ser muito sábio. Aliás você deveria dar um tempo sistematicamente, sem que isto signifique um drama. Você pode negociar este tempo com seu (sua) parceiro (a). Não se sinta culpado por querer ficar na sua. Daqui a pouco você se satisfaz, sente fome do outro novamente e volta para os seus braços. Não há nenhum problema nisso. Muito pelo contrário, pode ser uma solução.

Vya Estelar – Como manter a chama sempre acesa no relacionamento amoroso?

Sergio – Não existe uma fórmula, mas podemos dizer que uma dose de boa vontade, respeito por si mesmo e pelo outro, bom humor, consciência, capacidade para conversar e mudar são ingredientes imprescindíveis para o bom andamento de uma relação.