Entenda o conceito da autoestima

Gostar de si próprio. Achar-se merecedor das coisas boas da vida. Cuidar de si e tratar-se muito bem. São atitudes como essas, que conduzem a um bom exercício da autoestima. E para conduzíla-bem, é necessário muito amor, por si mesmo.

Nesta entrevista ao Vya Estelar, a psicóloga Rosemeire Zago desvenda os mecanismos da autoestima. Fornece um teste de 10 questões para você avaliar exatamente como anda a sua e apresenta dicas para você melhorar sua autoestima. Rosemeire também revela como a autoestima afeta a sua vida profissional, afetiva e pessoal – inclusive a solidão. Veja também se seu filho apresenta problemas de autoestima.

Continua após publicidade

Vya Estelar – O que é a autoestima?

Rosemeire – Autoestima é a reputação que criamos de nós mesmos. É o que eu penso e sinto sobre mim mesmo. É a opinião e o sentimento que cada pessoa tem por si mesma e pelo seu interior. É ter consciência de seu valor pessoal, acreditar e confiar em si mesmo.

A formação da autoestima tem 3 pilares fundamentais:

Autoaceitação + autoconfiança + autorrespeito = autoestima

Continua após publicidade

Ter autoestima baixa é sentir-se inadequado à vida, sentir-se errado e sentir-se incapaz.

Vya Estelar – A autoestima é formada no período de 0 até 7anos ou a autoestima é sempre construída a vida toda?

Rosemeire – Não só a formação da autoestima, mas toda a personalidade é formada até aproximadamente os 5 e 7 anos, a partir principalmente de como as outras pessoas nos tratam. Por isso que damos tanta importância à infância. Nos primeiros anos de vida, a presença de figuras parentais (pai e mãe) é essencial na formação não só da autoestima, mas de todos os sentimentos que transmitam segurança, confiança e amor.

Continua após publicidade

Se a criança for acolhida com carinho e satisfação, desenvolverá uma expectativa positiva em relação ao mundo. Existindo essa base de segurança, irá adquirir uma confiança básica em si mesmo, que é essencial não só na formação, mas também na manutenção da autoestima para toda a vida.

Vya Estelar – Porque as pessoas têm dificuldade em ter uma autoestima bem resolvida?

Rosemeire – Os fatores para isso são diversos, mas geralmente nos remetem à infância, quando somos em geral muito criticados, comparados, educados sob medo, sem sermos ouvidos, enfim, não nos faziam sentir importantes e capazes. Naquela época alguém perguntava que roupa queria vestir, o que queria comer? Poucos dentre nós fomos valorizados por aquilo que éramos ou elogiados por nossos esforços e conquistas.

Números assustadores

Nossos relacionamentos quando criança, geralmente, são dominados por críticas destrutivas, nos fazendo acreditar o quanto éramos incapazes e indignos de receber amor. E quando adultos, as pessoas procuram a autoestima em todos os lugares, menos dentro delas mesmas. Pesquisas recentes mostram que nos primeiros 18 anos de vida chegamos a ouvir, em média, entre 65 a 130 mil frases e mensagens destrutivas de pais, professores e pessoas significativas na formação.

Sobreviventes

Nossa mente registra aquilo que é comunicado de forma mais repetitiva nos primeiros anos de vida. Eu diria que a maioria das pessoas tem autoestima muito baixa ou o mínimo para sobreviver. Mas devemos lembrar que, como não podemos mudar o que já foi, utilizamos o passado apenas para buscar a origem, a partir disso podemos aprender a nos responsabilizar pelos nossos sentimentos e valorizar nossa capacidade e desenvolver a autoconfiança e assim autoestima e amor-próprio.

Vya Estelar – O escritor Lair Ribeiro afirma que a autoestima é o principal "talento" ou "pré-requisito" para uma pessoa vencer na vida. Como você encara esta questão?

Rosemeire – Acredito que a autoestima juntamente com o amor-próprio é a base para o ser humano. É a cura para todas as dificuldades, sofrimentos e vou mais longe, é a cura para todas as doenças (origem emocional) e relações destrutivas. As pessoas estão emocionalmente doentes, o remédio é um só: amor, principalmente, por si mesma.

Vya Estelar – Uma autoestima baixa, na realidade, seria o medo de encarar a vida, as pessoas e o mundo, achando que tudo isto é muito maior do que você?

Rosemeire – Não há só o medo de encarar a vida, mas principalmente medo de encarar a si próprio, pois em algum lugar dentro de si, acreditou-se não ser digno de nada, muito menos de amor. A autoestima baixa ou negativa denota uma pessoa com igualmente baixo amor-próprio e isso é muito triste, porque faz com que as pessoas entrem e permaneçam em relações afetivas e/ou profissionais desastrosas, destrutivas. A pessoa com baixa autoestima não acredita ser capaz de nada, muito menos de alguém que a ame, então ela se sujeita a qualquer tipo de relação para ter alguém do lado, tornando-se dependente de relações destrutivas, mas não consegue forças para sair.

Inocência

Vale lembrar que esse processo acontece inconscientemente, ou seja, a pessoa não tem consciência porque está agindo assim, apenas sente o sofrimento que pode se expressar em forma de angústia, dor no peito, choro e pesadelos. Há ainda o outro lado da autoestima negativa, é quando a pessoa passa total segurança, está sempre brincando, querendo ajudar, no fundo isso esconde uma pessoa também sem amor-próprio, só que ela busca o reconhecimento e amor por outro caminho.

Olhe-se

Ambos os casos têm dificuldade em aceitar elogios, culpam os outros pelos erros, encaram todas as críticas como ataques pessoais, tornam-se dependentes de relações doentes. Nestes casos, minha orientação é procurar olhar para dentro de si mesma e se tratar amorosamente e com muito carinho, como se encontrasse uma criança abandonada e com muito medo, pois é assim que a pessoa está neste momento. É importante procurar um profissional de confiança, no caso, psicólogo clínico, que pode ajudar muito a superar este momento.

Vya Estelar – Para alguém gostar de você é necessário em primeiro lugar que você realmente goste de você? É necessário você avaliar como você se projeta para o mundo e para as pessoas?

Rosemeire – É necessário, imprescindível, tudo o que você mais precisa, é de seu próprio amor, sua própria aprovação, só depois disso você poderá estar inteiro para se relacionar, trabalhar, enfim, viver. Você pode avaliar como você se projeta, a partir do momento que você observa como estão seus sentimentos internos, suas relações e seu nível de satisfação interna e paz.

Sozinho

Se você tem alguém, questione-se como está seu relacionamento, está satisfatório? Você gostaria de modificar algo? O quê? Está só? Como é para você ficar sozinho? As pessoas que têm dificuldade em ficar só, na realidade não conseguem ficar consigo mesmas, já se abandonaram e julgam que o mundo as abandonou.

Diálogo interno

E seu trabalho? Você gosta do que faz? O que pode fazer para melhorar? É importante perceber que só podemos mudar, modificar, depois de avaliarmos a situação e só podemos mudar o que depende de nós, querer mudar alguém só leva a frustrações. Você percebe tudo isso, mantendo sempre um diálogo interno.

Vya Estelar – De quais maneiras os pais acabam, às vezes sem querer, destruindo a autoestima de um filho?

Rosemeire – O ambiente familiar tem grande relevância nessa questão. Pais emocionalmente imaturos têm maiores possibilidades de desenvolver autoestima deficiente em seus filhos. Em qualquer idade, com certeza as críticas em excesso, as comparações e a superproteção são um desastre para a autoestima. Nada pior para uma criança do que ser tachada de bagunceira, desastrada ou incompetente, por exemplo: "Você não faz nada direito…" Frases como está podem influenciar para o resto da vida.

Cotidiano infantil

Ridicularizar a criança ou desvalorizar o que faz, a faz duvidar de seu próprio valor. Nos pequenos detalhes do dia-a-dia podemos perceber isso. Qual criança não costuma derramar leite do copo ou deixar a comida cair fora do prato? A reação do adulto vai contribuir e muito na formação do sentimento de segurança da criança.

Drama

Outro dia eu presenciei uma cena dessas e a criança em seguida começou a tremer toda. Imagine a reação que ela já havia recebido para desenvolver todo esse medo? Comparar irmão ou primos também não ajuda, muitos pensam que a comparação estimula a competição, muito pelo contrário, ela é totalmente desestimulante. Quem não se lembra das comparações feitas durante a infância e seus efeitos? "Seu irmão é mais inteligente que você…"

Superproteção

Nada mais frustrante para uma criança do que pais superprotetores, que tomam a frente dos filhos, completando o jogo, amarrando o cadarço do tênis, desenvolvendo na criança um sentimento total de incapacidade. Essas são algumas das maneiras de se destruir a autoestima.

Vya Estelar – De que forma isso vai refletir no sucesso profissional ou na vida afetiva?

Rosemeire – Tanto as críticas, como as comparações e a superproteção desenvolvem um adulto que se sente incapaz, com culpa por tudo que faz, não faz e, acima de tudo, com muito medo. São grandes candidatos para a Síndrome do Pânico, que na linguagem simbólica representa um enorme "medo de ser".

Efeitos

Tanto na área afetiva como profissional, pode ter dois efeitos: pode se tornar um adulto independente, competitivo e ambicioso, que vê o outro como um desafio a ser vencido, o que na realidade denota não só querer vencer o outro, mas principalmente a si mesmo e uma busca incessante por aprovação.

Ou pode se tornar um adulto acomodado, dependente, com medo de tudo, que se sente tão incapaz, que desiste antes sequer de tentar.  

Vya Estelar – A autoestima pode influenciar no trabalho?

Rosemeire – Há uma relação direta e muito importante entre desempenho profissional e satisfação pessoal. As emoções hoje estão tendo seu devido valor nas empresas. A autoestima influencia tudo que fazemos, pois é o resultado de tudo que acreditamos ser.

Viciados em trabalho

No ambiente de trabalho é fácil identificar quem está com baixa autoestima. No trabalho, um dos tipos conhecidos são aqueles que estão mais preocupados em ter do que em ser, realizar e fazer. Eles precisam trabalhar muito, para poderem obter cada vez mais bens materiais.

"Altruístas"

Um outro tipo muito conhecido, são aquelas pessoas sempre preocupadas em agradar, sempre dispostas a largar o próprio trabalho para ajudar. A autoestima está tão baixa, que sente a própria presença como imprópria, tentando ser agradável e provando que sua presença é importante. São pessoas facilmente manipuladas ou induzidas a fazerem o que não querem. Como buscam aprovação em tudo que fazem, não conseguem dizer "não". Acreditam terem que agradar para serem aceitas.

A perda da identidade

Isso também pode acontecer nas relações pessoais com marido, filhos, pais. Pessoas assim, tendem a se perder dentro de seus próprios sentimentos, pois estão tão preocupadas em fazer o que o outros querem, cedem em tudo, que acabam não sabendo mais o que gostam, quem são, perdendo-se dentro de si mesmas.

Perfeccionistas

Há ainda os perfeccionistas, vistos por muitos como o máximo em qualidade. Você se considera um deles? Pois saiba que de qualidade não há nada, são pessoas tão inseguras que não se permitem errar em nada. A insegurança interna é compensada pelo perfeccionismo excessivo. São pessoas críticas e exigentes com todos e consigo mesmas, gerando um ambiente estressante, não aceitando mudanças e falhas. É no trabalho que muitas vezes busca-se o reconhecimento pelos próprios valores, pelo que se realiza, pelo que se é capaz de fazer e que na verdade não se obteve na infância.

Compensação

O trabalho acaba por compensar outras relações, pois no fundo, todas essas pessoas são inseguras e buscam aprovação e reconhecimento, mas a busca maior, apesar de inconsciente, é de atenção e amor.

Vya Estelar – A mídia vende o tempo todo a imagem do corpo perfeito. Isto vai de encontro com a autoestima de que forma?

Rosemeire – A mídia interfere sim, mas muito mais para aqueles que não tem consciência de outros valores, que são muito mais do que um corpo perfeito, segundo padrões de épocas e culturas. No fundo, o que está por trás dessa busca pela corpo perfeito é uma não aceitação do que se é, associando a beleza com bem-estar, acreditando que com isso será amado. Tudo ilusão!

Narcisos e inseguros

Pessoas extremamente bonitas segundo padrões, são também pessoas inseguras, infelizes, pois na verdade, a beleza vai muito além do físico, o que infelizmente nem todos têm consciência. Não é a beleza que traz felicidade ou garantia de ser amado, mas é a felicidade, a aceitação interna, o gostar de si mesmo, que faz de todos nós, muito mais bonitos.

Vya Estelar – Quem tem mais dificuldade em trabalhar a autoestima, o homem ou a mulher, ou isto independe do sexo? No caso do pai ou da mãe, que acabam com a autoestima do filho, existiria um relação de sexo tipo pai destroi filho e mãe destroi filha ?

Rosemeire – No consultório, recebo muito mais homens do que mulheres, isso não quer dizer que um tem mais dificuldade que o outro. O que acontece é que os homens ainda possuem muita timidez e vergonha para falarem e assumirem seus sentimentos, sejam quais forem estes sentimentos. Mas aos poucos estão se permitindo expressar suas dificuldades, ao menos dentro de quatro paredes para um profissional que não os conheça.

Isso acontece pela própria educação que receberam. Porque nem todos tem em sua casa, alguém para confiarem suas inseguranças e medos. Aproveito para dar um alerta para as mulheres, homens têm sentimentos sim, e quando se fazem de durões, ou demonstram serem uma pedra, não acreditem, sentem igualmente, só que aprenderam a disfarçar. E isso também tem origem na infância, quando ouviam: "homem não chora…", "não brinca com boneca…", ou seja, não podiam sentir, muito menos demonstrar o que sentiam. Mas acreditem, sentem e muito.

Os pais

Pai ou mãe podem interferir na segurança dos filhos, mas não vejo relação com o sexo, isso independente do sexo dos filhos como você disse. Se o pai é um homem tipo durão, vai tratar assim não só o filho, como também a filha. Competição nos dias de hoje existe e muito, pois hoje os valores estão muito distorcidos, a diferença de idade está cada vez menor entre pais e filhos. E o principal, o respeito também sequer existe, fazendo com que a igualdade e aproximação excessiva, acabem por estimular a competição.

Vya Estelar – Pais autoritários possuem autoestima mal resolvida ?

Rosemeire – Lares onde os pais são incapazes de satisfazerem suas próprias necessidades físicas e emocionais básicas, onde suas próprias carências não são atendidas, refletem diretamente na educação de seus filhos. Pais autoritários na verdade, são pessoas que exercem seu poder sob a ótica do controle, do medo, pois simbolicamente não conseguem ter controle de suas próprias emoções. Pessoas que geralmente demonstram uma imagem de total autoconfiança, como os autoritários, na verdade não se valorizam. Ao contrário, precisam se convencer do quanto são superiores, se impondo. O autoritarismo é uma defesa para que não seja ameaçado, questionado. Isso demonstra pessoas inseguras e é claro, com baixa autoestima.

Vya Estelar – O professor na escola pode destruir a autoestima de uma criança?

Rosemeire – O professor pode prejudicar se a autoestima já vem abalada da infância e se ele não souber como incentivar a criança fazendo mais críticas e não dando elogios naquilo que ela faz bem. Como ele também pode ajudar muito a lidar com as inseguranças que a criança vier a apresentar, caso perceba que a dificuldade tem origem emocional. Uma vez dando aula, sempre que uma aluna ia fazer prova ela tinha "branco", esquecia tudo. Comecei a conversar com ela, até que começou a chorar e lembrou que desde pequena era chamada de "burra". Na hora da prova aquela palavra bloqueava todo seu conhecimento.

Vya Estelar – Na fase adulta um chefe autoritário poderia fazer o mesmo? O que você aconselha aos seus pacientes que estão sob a égide de um chefe autoritário?

Rosemiere – Um chefe autoritário pode abalar a autoestima, caso também seja uma pessoa que só sabe fazer críticas e, se o funcionário já tem uma necessidade (inconsciente) de receber elogios e reconhecimento, verá essa atitude como confirmação de sua incapacidade. Nestas situações, a orientação é sempre saber identificar o chefe como alguém que tem a necessidade de se impor para obter respeito e saber separar o pessoal do profissional.

Lado pessoal

Quando dou consultoria em empresas, percebo que as pessoas possuem o péssimo hábito de levar tudo o que ouvem para o lado pessoal, com isso permite que entrem na esfera emocional e se já há alguma dificuldade nesta área, toda sua capacidade profissional pode ficar abalada.

Vya Estelar – Mulheres e homens com uma aparência física muito acima da média costumam assustar? Por que estas "belezas fatais" assustam tanto?

Rosemeire – Quem deixa de tentar conquistar algo ou alguém porque acha o outro melhor, mais bonito, mais capaz, no íntimo acredita que não merece nada, o que demonstra alguém com baixa autoestima e amor-próprio. Não é o outro que tem dificuldades, mas sim quem se acha incapaz. Estas "belezas fatais" assustam apenas quem não tem confiança em si mesmo e em sua capacidade de merecer alguém assim. Se não me considero tão bonito, mas sei de tantas outras qualidades que possuo, acredito que a outra pessoa também irá valorizar. Assim, permito-me conhecer, aproximar, correr riscos, me expor, pois não há o medo do abandono, não há o sentimento de se sentir incapaz, seja do que for, conquistar alguém bonito, um emprego melhor, etc.

Bonitos

Quanto aos bonitos se sentirem sós, se estiverem bem internamente, não haverá dificuldade alguma. A dificuldade só existe, tanto para "bonitos" e "não tão bonitos", igualmente, se não confiarem em si mesmos.

Vya Estelar – Terapeutas especializados na arte da paquera dizem que a autoestima é a principal arma na hora da conquista. O que você acha?

Rosemeire – A autoestima também influencia a escolha dos relacionamentos, já que é a base para tudo, não só no momento da conquista, mas também para os relacionamentos como um todo. Aqueles que expressam elevado amor-próprio e autoestima em geral sentem atração por pessoas com essa mesma característica, gerando uniões mais harmoniosas.

Por outro lado, se há baixa autoestima, há inclinação para relacionamentos destrutivos e dolorosos. Uma pessoa que não é considerada bonita pelos padrões, mas que tem uma autoestima positiva, com certeza, dificilmente terá dificuldade para se relacionar. O contrário já não acontece, alguém muito bonito, mas com autoestima prejudicada, tende a ter muita dificuldade, não só para conquistar, mas para se relacionar, pois a confiança interna necessária em seus valores, não existe.

Vya Estelar – Qual é o maior vilão da autoestima?

Rosemeire – O maior vilão eu diria que são as críticas negativas, que são geradas pela falta de respeito. Mas eu acrescentaria também a rejeição, culpa, frustração, vergonha, inveja, timidez, insegurança, medo, humilhação e raiva. O mais grave é a autoestima negativa. Neste caso, a preocupação é em agradar aos outros, ser popular e ter valor para os outros, podendo ainda buscar este valor na aquisição de bens materiais, como garantia de se sentir capaz para algo. Mais grave porque a pessoa passa a acreditar que tem muito amor-próprio e autoestima, encobrindo a verdade para si mesma e assim, não faz nada para mudar. Ou ainda, pode desenvolver a timidez, que é um dos maiores sintomas da insegurança, tornando-se uma pessoa só, com medo e incapaz de enfrentar situações.

Vya Estelar – Como os pais devem educar os filhos em relação a autoestima?

Rosemeire – Devem incentivar a criança a tentar novas experiências, preparar o chocolate do café da manhã, mergulhar na piscina, pois essas situações oferecem riscos mas, depois de ultrapassadas, fortalecem a confiança da criança nela mesma, e é isso que ela precisa para acreditar em si. A independência é uma virtude da autoestima. Os pais podem chamar a atenção, mas sem exageros, mostrando a maneira correta de agir e estimulando-as a fazer certo da próxima vez. Assim, elas aprendem a se responsabilizar pelo que fazem e, em outra ocasião, terão orgulho de mostrar que já sabem a maneira correta de realizar a tarefa.

Perdas e ganhos

Se forem tratadas com gritos ou tapas, se sentirão incapazes, inseguras e com medo, não só enquanto criança, mas principalmente quando adulto. Os pais podem estimular a iniciativa, encorajando a tentar novamente sempre que não conseguirem algo e ensinarem que acima de tudo errar e/ou perder faz parte da vida. Outro ponto é estabelecer limites, pois é assim que ela percebe sua real importância. É indispensável também que a criança seja ouvida, se sinta importante e acima de tudo, amada.

Vya Estelar – Uma pessoa com baixa autoestima teria problemas em todas as áreas da vida ou não?

Rosemiere – A autoestima está na esfera das emoções, e como nossas emoções são a base de tudo, se não houver uma estrutura emocional, não há relacionamento afetivo ou profissional que sobreviva. Experiências positivas que envolveram apoio mútuo, amor e compreensão propiciam o desenvolvimento da autoestima saudável, enquanto as negativas, como rejeição, abandono ou excesso de críticas, influenciam a autoestima de forma destrututiva.

Vya Estelar – Porque você se especializou nesta área voltada para autoestima?

Rosemeire – Nesses dez anos de experiência atuando como psicóloga clínica, com abordagem junguiana no atendimento de adolescentes, adultos e orientação de pais, percebi que independente dos sintomas (portadores de HIV positivo, câncer, depressão, alcoólatras, estresse, adictos e etc…), inconscientemente as pessoas estão em busca de uma só coisa, ou melhor, sentimento: amor . Esse é ainda a base de tudo para o ser humano…

Todo o conflito reside nesta busca incessante, pois as pessoas esperam que o outro as alimente, ame, quando isso não acontece, aparecem as frustrações e desilusões, quando na verdade deveriam aprender a amar a si próprias". Assim, desenvolvi meu próprio perfil profissional, tendo como base o resgate da autoestima e amor-próprio.

Pois para se amar é preciso se conhecer, identificar seus sentimentos e é isso que desenvolvo no consultório, em sessões individuais, nas palestras, nas consultorias em empresas, porque na verdade, a base para toda pessoa se relacionar é o seu grau de amor-próprio e autoestima. O ser humano em geral é muito carente. E essa busca de amor não acontece só nas relações afetivas, mas também no campo profissional. O trabalho é nossa maior fonte de reconhecimento. É com ele que somos recompensados com dinheiro, elogios, promoções e etc…

Reconhecimento

Isso tudo muitas vezes é uma busca inconsciente do reconhecimento que não houve na infância. Na verdade acredito e, minha experiência profissional confirma, que todos estamos em busca apenas de amor. E esse sentimento ainda é, o que rege tudo o que buscamos, fazemos e somos.  

Vya Estelar – Como os pais podem perceber como está o nível de autoestima das crianças?

Rosemeire – Há alguns sinais. A criança que se recusa a aceitar desafios, por exemplo, pode estar com baixa autoestima. Ela passa a evitar situações em que se expõe, porque para ela, o fracasso é insuportável, pois confirma a idéia de que não tem valor. Frases tipo: "sou burro mesmo", ou " não sei fazer nada direito…", são frases típicas da criança que não está bem e que registrou essas frases que já foram ditas por alguém.

Uma mensagem de amor

Pedir a todo instante uma prova de amor, ou querer chamar a atenção, também demonstra insegurança e baixa autoestima. Num estágio avançado, pode levar a uma tristeza muito forte, apatia e depreciação de si mesma. Se o desempenho na escola ou o relacionamento fica prejudicado é melhor buscar ajuda profissional.

Vya Estelar – A baixa autoestima pode contribuir para a pessoa ficar só?

Rosemeire – Sim. A dificuldade de desenvolver relações íntimas e profundas existe diante do medo de ser abandonado e rejeitado, fazendo com que a pessoa inconscientemente se feche em seu casulo para não se expor. Como não sabe lidar com tais sentimentos, prefere ficar só ou desenvolver relações superficiais.

Vya Estelar – Existe excesso de autoestima?

Rosemeire – É o mesmo que dizermos que existe excesso de saúde. Apesar de que há aqueles, que passam a impressão de serem muito autoconfiantes e saem pisando em todos. Isso não é uma autoestima considerada positiva, na verdade, é uma máscara que a pessoa usa para encobrir suas inseguranças.