História e trajetória do yoga no Ocidente

por Nicole Witek

Há menos de 3.000 anos antes de nossa era, a técnica de independência, emancipação ou libertação do yoga foi elaborada e transmitida por uma sucessão ininterrupta de mestres para alunos.

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A experimentação de cada geração levou a um conhecimento empírico de técnicas embasadas em uma visão do universo que aplica no ser humano algumas técnicas de integração e realização, que passam da filosofia à experimentação direta.

Ao contrário da filosofia teórica que se estuda na universidade, a filosofia do yoga leva completamente à prática.

Teorias

Existem duas teorias sobre as origens do yoga. A primeira teoria é de uma civilização brilhante, no vale do Rio Indus ( 5000 a.C. até -1900 a.C.), cujos vestígios mostram que o yoga era praticado, que existia uma filosofia de integração dos diferentes povos, técnicas avançadas que facilitavam a vida urbana e que o sistema social era bem equilibrado. Era uma sociedade agreste, bem organizada, onde não existia segregação nem de gênero e nem de raça.

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Uma teoria afirma que os povos se misturaram gradativamente, e os Arianos, povo nômade que vinha do Norte da Europa, se fixou na região, incorporando e integrando as práticas dos povos da região: os dravidianos.

A outra teoria afirma que em torno do século XI antes de nossa era, os Arianos invadiram essa região e como vencedores, esmagaram a civilização presente e incorporaram elementos culturais da civilização indígena à religião deles. Assim, de uma filosofia dravidiana vinculada às forças da natureza, houve uma codificação da vida cotidiana estabelecendo uma ordem rigorosa de castas, cujas regras estão descritas pelos textos sagrados dos Vedas, raiz do Hinduísmo.

Com essa codificação apareceram castas e rituais cada vez mais complicados. Aparecem seitas ligadas aos deuses como Shiva ou Vishnu, cujas regras são muito rigorosas. Os rituais e as superstições se tornaram tão numerosos na época, que Gautama Buda (500 a.C.) recusou os ensinamentos dos Brahmanes (sacerdotes) e buscou seu próprio caminho.

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As práticas de yoga eram integradas nos textos sagrados e eram memorizadas e decoradas pelos brahmanes – sacerdotes.

Era conhecido pelos comerciantes, aparecem nos textos de diferentes origens: gregos, egípcios, árabes e mais tarde italianos ou portugueses, descrições de “jogues ou Jogiss” cujas posturas são exercícios espetaculares.

Al Biruni – que morreu em 1048 – já tinha traduzido os Yoga Sutras de Patanjali, o suposto codificador do yoga clássico – texto essencial do yoga. Entre o século XVI e século XIX, o yoga já era conhecido. O yoga era uma ciência transmitida por seres selecionados e escolhidos entre eles, portanto era pouco divulgado.

Do ponto de vista histórico, a Inglaterra com o reino de Elisabeth I ampliou suas ambições territoriais. A Companhia das Índias Orientais, fundada em 1660 se tornou o braço da expansão econômica e política da Inglaterra na Índia. No inicio do século XVIII – ou seja, em 1700 – o Império Britânico estava bem posicionado.

Primeiros livros no Ocidente

Os primeiros livros aparecem no Ocidente em 1907. Os ingleses e os americanos estavam então numa posição favorável para divulgar os textos e tudo se mistura: O Hatha Yoga de Atkinson em 1904, O poder da Serpente 1918 de Arthur Avalon, que era general no exército inglês.

No inicio do século XIX, as famílias de sacerdotes se tornaram responsáveis políticos. Essas famílias mandavam seus filhos estudar na Inglaterra.

Voltando da Inglaterra e tendo estudado com ingleses em escolas religiosas inglesas, esses estudantes tomam dois rumos, duas vertentes.

Uma vertente de líderes políticos como *Mohandas Gandhi que estudou direito em Londres (1888); Aurobindo Gose (1872-1950) em Cambridge, que ensinou literatura francesa e inglesa; Jiddu Krishnamurti (1895-1986) que estudou com ingleses da Sociedade Teosófica e abriu escolas para uma nova educação mundial. Esses homens se tornaram o braço ativo da independência da Índia em 1947.

Uma outra vertente desses estudantes indianos na Inglaterra, como Vivekananda (1863-1902), nascido de pai jurista e filósofo e mãe profundamente religiosa, foram mandados para uma escola cristã, divulgaram o hinduísmo para mundo e propuseram uma religião única.

Vivekananda espalhou o conhecimento sobre o hinduísmo para o mundo e, em 1893, falou do hinduísmo no parlamento das religiões. Para ele o yoga é uma ciência do espírito completando o que o ocidente ensina sobre as ciências físicas.

Sivananda (1887-1963) era médico e mesclou os ensinamentos da nossa medicina ocidental com os ensinamentos do hinduísmo. O Sivananda foi uma das fontes principais que fundaram a Yoga Vedanta Forest Academy. Ele reúne um grupo de swamis – de mestres – que vão divulgar o ensinamento no Canadá e na Europa. Swami Satchnitanada se instalou nos Estados Unidos, Satyananda falou mais de técnicas tântricas cujas raízes são pré-vedicas (antes dos Vedas).

Swami Sivananda mandou Vishnu Devananda para o ocidente.

O yoga saiu da casta dos sacerdotes, e da confidencialidade dos textos, transmitidos de boca a boca para nosso tipo de ensinamento: através da escritura de livros, palestras abertas ao público leigo e abertura de ashrams (templos), de escolas de formação.

Em 1924, Sri Krishnamacharia (1888-1989) fundou a sua primeira escola, revisou as metodologias classicas adaptando a filosofia às necessidades de uma pratica mais aberta e menos rigida. Sri Krishnamacarharia nunca saiu da India, mas dois dos seus alunos exportaram o estilo especial de praticar – o Asthanga Vinyasa yoga – que faz sucesso nos Estados Unidos gracas a escola BKS Iyengar e Pattabi Joi.

Ao mesmo tempo, certos professores se formaram no Instituto de pesquisas cientificas do Yoga em Lonalva, fundado por Swami Kuvalayananda de 1924 a 1934, cuja continuação foi feita por Digambarji e o Dr. Bhole, mas a maioria dos estudiosos do yoga foram para Rishikesh, a cidade dos sábios, aos pés dos Himalayas, para buscar os ensinamentos do Swami Sivananda.

O Andre Van Lysebeth, que foi meu professor, encontrou Swami Sivananda em 1963, e foi formado por ele. A visão abrangente do Sivananda fundiu-se à visão contemporânea do André. O Sivananda disse “André, you must start a magazine”. O André era dono de uma editora e logo começou a divulgar os ensinamentos milenares do yoga. Em junho 1963 saiu a primeira edição da “ Revue” . Swami Sivananda morreu em julho. O André era a pessoa mais apropriada para essa missão. Foram editadas mais de trezentas revistas de 1963 até 2004…Porque meu mestre morreu em 2004.

Os livros dele são traduzidos em dezenas de idiomas. Mas somente um deles: “ Tantra, o culto da feminilidade” está nas prateleiras do Brasil.

*Mais conhecido como Mahatma Gandhi