Soja: mitos e verdades

por Jocelem Salgado

A soja, planta originária da China, chegou Brasil em 1882, no estado do Rio Grande do Sul, mas sua produção teve um auge apenas a partir de 1949. O incentivo para o seu consumo vem de longa data e isso se deve principalmente pela sua excelente qualidade nutricional, fácil aquisição, baixo custo e amplo fornecimento de produtos como: leite de soja, tofu, misso, tempero, molho de soja, nato e outros.

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Quanto ao seu perfil nutricional, a soja não deixa a desejar: é um alimento rico em proteínas, fibras, óleo, importante fonte de minerais (sódio, potássio, fósforo, ferro, magnésio, zinco e cálcio) e vitaminas, como tiamina (B1), riboflavina (B2), niacina (B3), ácido nicotínico e ácido ascórbico.

A alta composição de proteína (37-40%) faz com que a soja seja adorada principalmente pelos veganos. Muitos substitutos de carne e bebidas proteicas utilizam produtos de proteínas de soja, tais como, isolado proteico de soja, concentrado proteico de soja e farinha desengordurada de soja, que contêm aproximadamente 90%, 65% e 50% de proteína, respectivamente. Alimentos produzidos à base de soja, especialmente isolado proteico, fornece, em torno de 10/20 gramas de proteínas por porção.

No entanto, é valido ressaltar que não é apenas o teor que importa. As proteínas da soja apresentam um alto valor biológico, ou seja, possui os aminoácidos que são necessários para o nosso organismo. A ANVISA já regulamenta o uso da soja e, segundo este órgão, a recomendação é do consumo de 25 g de proteína de soja por dia.
A soja é rica também em outro composto denominado isoflavonas. Estudos recentes têm demonstrado que as isoflavonas da soja têm propriedades anticancerígenas. Os resultados relatados em revisões científicas mostram associação inversa entre a ingestão de soja e o risco de câncer de mama.

Um estudo recente mostrou que a ingestão alimentar de soja após o diagnóstico de câncer de mama foi associada à redução da mortalidade e recorrência, 14% e 26% respectivamente comparando os grupos de menor consumo.

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Um estudo com mulheres chinesas também demonstrou que o grupo com maior consumo de proteína de soja (16,4 g/dia) apresentou uma redução de risco de 22% do risco de câncer de mama em idade adulta em relação ao grupo com baixo consumo. E o mais interessante é que esta redução foi ainda maior nas mulheres pré-menopáusicas, com redução de 54%.

Outra polêmica que tem rondado o uso da soja é o possível efeito na supressão da função da tireoide. Estudos realizados em animais indicam que as isoflavonas podem ter esta atividade através da interação com as vias envolvidas na síntese de hormônios da tireoide e no metabolismo dos hormônios. No entanto, estudos realizados em humanos demonstraram apenas uma modesta associação entre os níveis de isoflavonas e parâmetros da função da tireoide.

Já é bem conhecido que as doenças da tireoide são mais comuns em mulheres, especialmente durante a pré-menopausa e a menopausa, talvez como consequência de um equilíbrio alterado entre estrogênios e progesterona. Consequentemente, o estudo dos efeitos das isoflavonas sobre a função da tireoide nas mulheres durante este período é de grande importância. Sabendo-se disso, foi investigado a função tireoidiana em 38 mulheres na pós-menopausa durante 90 e 180 dias após a suplementação com 90 mg de isoflavonas/dia.

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Os resultados demonstraram que essa ingestão não causou diferenças nos parâmetros tireoidianos entre os grupos que consumiram ou não as isoflavonas.

Recentemente, um estudo clínico em mulheres na pós-menopausa avaliou os efeitos da administração de genisteína (isoflavona de soja,54 mg / dia). relacionados à tireoide, durante três anos. Os resultados mostraram que o consumo diário de genisteína não modificou os níveis de hormônios, confirmando assim que as isoflavonas parecem não alterar a função da tireoide em mulheres pós-menopáusicas.

Estudos também comprovam que o consumo das isoflavonas é seguro em homens. Pesquisas mostraram que o consumo 30 mg/dia durante 3-6 semanas por homens com câncer de próstata não afetaram os níveis de hormônio da tireoide.

Porém é valido ressaltar que se você possui problemas na função tireoidiana, o consumo da soja precisa ter um acompanhamento médico. Isso porque os estudos apontam que em pacientes com hipotireoidismo, principalmente, o consumo das isoflavonas causaram uma redução na função da tireoide. Segundo os pesquisadores, doses elevadas de isoflavonas (16 mg/dia) estavam associados a um risco de 3 vezes maior na progressão da doença. O recomendado para uso humano são 50mg de isoflavona juntamente com 25 g de proteína de soja, pois a proteína potencializa a ação das isoflavonas.

Estudos mostram que o efeito benéfico ao organismo, tanto da proteína juntamente com a isoflavona, ocorre quando consumidos na forma de alimentos. Em forma de cápsulas de isoflavona o efeito não é o mesmo.

Outro fator que é válido ressaltar que o consumo dietético de soja tem maiores chances de resultar em efeitos adversos para a tireoide, caso haja presença de outros fatores limitantes, como baixos níveis de iodo.

Diante de todas as evidências, fica claro que o consumo da soja pode trazer inúmeros benefícios à saúde e que é importante manter esse grão na dieta.