Ele e ela: diferenças e desigualdades

por Regina Wielenska

Escrevo minha coluna ao final de um 8 de Março, Dia Internacional da Mulher. Ao longo do dia vi “homenagens” oferecendo virtualmente flores e outros mimos às mulheres, com palavras aparentemente bacanas como complementos.

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Mas vejam isso: uma grande rede de livrarias ofereceu nesta semana um tanto de desconto às mulheres. A sutil ofensa apareceu quando descobri que havia uma limitada seleção de títulos promocionais. Eram livros e vídeos sobre moda, beleza, histórias românticas, mais material de papelaria como canetas hidrográficas…

Mulheres não são formatadas em série (nem os homens, óbvio), seus interesses podem passar por física quântica, teologia, medicina, moda, alpinismo, todos gêneros de música, ou qualquer, qualquer mesmo,  outro tema.  Por que não oferecer um desconto para qualquer compra na loja ou site? Eles queriam desovar parte do estoque ou realmente homenagear as mulheres?

Uma alternativa ainda mais interessante talvez fosse propor que, de todas as compras daquela semana, uma porcentagem seria destinada ao envio de livros a entidades destinadas a ajudar mulheres vítimas de violência e vivendo em abrigos, talvez precisando estudar para adquirirem um ofício? Ou, alternativamente, ajudar as que vivem sem recursos para aquisição de material escolar para seus filhos ou… tantas alternativas melhores do que delimitar o desconto a  poucos produtos que perpetuam ideias preconcebidas sobre o universo de interesse das mulheres…

No mundo que eu gostaria que existisse para todos:

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– jamais perguntariam a uma mulher agredida sexualmente com que roupa ela estava ou o que ela fazia na rua em tal hora;

– os rapazes não seriam valorizados de modo especial, porque “ajudaram” a parceira a cuidar da criança na hora do banho ou lavando a louça, como se fosse algo a festejar ou agradecer. Um casal, outrossim, seria naturalmente engajado na criação dos filhos e no cuidado do lar,  em partes bem distribuídas, sem sacrifício para nenhum deles;

– a licença parentalidade seria dividida entre pai e mãe, dando a ambos oportunidades justas de cuidar e conviver com a criança em seu período crítico de desenvolvimento;

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– uma mulher não seria excluída de um processo seletivo por estar em idade fértil;

– homens e mulheres receberiam salários justos e iguais, quando possuem experiência semelhante e ocupam a mesma posição;

– haveria similar distribuição por gêneros entre os ocupantes de cargos de poder nas corporações;

– mulheres trans receberiam oportunidades justas e cuidados profissionais para que a transição não se transforme num segundo pesadelo, tão ou mais intenso do que crescer com a sensação de que seu corpo não é compatível com o gênero com o qual se identifica.

Sim, é inconteste que homens e mulheres são diferentes em vários aspectos, sob influência da biologia. Já as diferenças historicamente construídas podem e devem ser repensadas, em prol de uma cultura que combata preconceitos e injustiças. Injustiças, desigualdades, estas podem ser revertidas, isso talvez leve gerações e valha cada esforço.

Minha lista não termina, só a coluna se encerra por aqui, com a esperança de um mundo mais generoso e compassivo.