Escola brasileira despreza atividade esportiva

por Renato Miranda

Em "Reflexões do esporte para o desempenho humano", livro que reúne coletânea de textos que escrevi para o Vya Estelar, eu dediquei um texto sobre condições elementares para o Brasil se tornar uma potência olímpica. Com o incremento dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro no ano passado, novamente esse assunto se tornou frequente nos meios esportivos.

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Ao afirmar que a revelação de atletas com potencial atlético é uma consequência natural em um cenário de uma política de cultura esportiva e que, por sua vez, essa mesma é forjada em bases sólidas de investimentos maciços em infraestrutura esportiva, na formação de profissionais do esporte e em uma boa política de oportunidades de prática esportiva, teremos como consequência entre outros fenômenos:|

– A facilitação e motivação de crianças para a prática de esportes e com o tempo a sedimentação do esporte como atividade valorosa e primordial para a sociedade brasileira. O que significa não apenas a oportunidade de revelação de talentos, mas, sobretudo, criar gerações mais saudáveis e um país com adultos impregnados de valores positivos do esporte.

Ao focalizar esse pensar em âmbito restrito da revelação e posterior treinamento infanto-juvenil, poderemos observar que mesmo após os Jogos Olímpicos no Brasil, a jornada de jovens atletas não será nada fácil.

Quando por volta dos 13/15 anos, em uma medida geral, nossos jovens que já se revelam talentosos e dedicam parte importante de suas vidas ao treinamento carecem dramaticamente daquilo que eu chamo de apoio social escolar. Explico:

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Ainda na adolescência, fase conhecida como transformação (desenvolvimento) e instabilidade natural tanto física como psicológica, esses jovens brasileiros não têm, em geral, o apoio social e escolar necessários. Ou seja, mesmo que esses jovens tenham condições relativamente boas de treinamento, a vida fora do esporte é um estorvo constante.

A escola brasileira despreza a atividade esportiva e com isso desde cedo há uma reverberação na vida social dos atletas. Ou seja, se torna uma pessoa desconectada com tudo aquilo a sociedade supostamente admite como valor.

Em exemplo, imagine garotos que praticam seriamente algum esporte, e, portanto, treinam muito, participam de várias competições local, estadual e nacional. Seu ritmo escolar precisa ser adaptado.

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É impossível, para esses jovens, seguirem o rigor do calendário escolar. Viagens pelo estado de origem e nacional para competirem são frequentes e com isso, perdem aulas e muitas vezes provas e trabalhos escolares.

Se a escola não cria mecanismos de apoio, como compensação de aulas e adaptação de provas e trabalhos, surge um ritmo negativo de estresse que oprime e gera inseguranças terríveis na vida desses jovens.

Há casos de jovens tenistas promissores que abandonam a escola regular e preferem o estudo no sistema à distância. Com isso, perdem o valioso contato social escolar, amizades e relacionamentos pessoais ficam ainda mais restritos.

Por outro lado, como são ainda jovens e muitos desses atletas ainda não detêm resultados expressivos (salvo em uma modalidade ou outra), não são contemplados com apoio de qualquer ordem: institucional, financeiro, logístico e em alguns casos nem mesmo a família, por falta de condições, consegue dar o devido apoio.

Com o passar dos anos, esse atletas ou param de estudar ou então param de treinar para tentar frequentar o ensino superior. Como a universidade brasileira não se importa com o esporte, muitos talentos e possíveis futuros atletas olímpicos se "aposentam" precocemente.

Reconhecimento social e institucional do valor do talento esportivo vai além do ambiente esportivo propriamente dito, escola e universidade, ao mesmo tempo em que deveriam auxiliar os atletas, deveriam servir como alicerces para que atletas já vislumbrassem uma outra vida profissional para depois do ciclo esportivo (lembre-se, a carreira do atleta é curta. São muitos anos de vida após a aposentadoria do atleta).

Ademais, muitos talentos promissores por um motivo ou outro não seguem na trajetória esportiva profissional, mas ao estudar resta uma outra oportunidade profissional.

A situação brasileira nesse cenário é tão dramática, que hoje em dia já se observa lentamente, mas progressivamente um fenômeno radical: muitos jovens atletas não querem esperar por mudanças… Já encontraram o caminho: sair do Brasil!