Pelo menos uma doença crônica aumenta com o avanço da idade

por Elisandra Vilella G. Sé

O Brasil vivencia neste século um crescimento acentuado da população idosa, resultado de uma história populacional iniciada há mais de 100 anos.

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As migrações internacionais foram responsáveis pela sua miscigenação e crescimento acentuado na virada do século XIX. A redução da mortalidade infantil, iniciada no final da Segunda Guerra Mundial, aliada à alta fecundidade, gerou um crescimento populacional elevado no período 1950-1970 e uma população muito jovem.

Esse período, conhecido como baby boom, foi marcado pelo temor de uma explosão demográfica, mas durou apenas duas décadas. A partir dos anos 1970, a fecundidade iniciou um processo de queda acelerada, acompanhada pela continuação da redução da mortalidade que hoje beneficia mais a população em idade avançada. Isso ocorreu em um curto período de tempo e em quase todos os países em desenvolvimento como Brasil.

A fecundidade das mulheres brasileiras está abaixo da taxa que garante a reposição da população. Atualmente, a taxa de fecundidade total está em torno de 1,7 filho por mulher. Nos anos 1950 foi de 6,1. Hoje, um brasileiro vive em média 73,5 anos, 43 a mais que no início do século passado. Resumindo nasce menos gente e vive-se mais.

Como consequência desse processo, surge a contração da população e superenvelhecimento. O Brasil não é mais um país de jovens. É provável que o Censo de 2030 encontre o número máximo de brasileiros que se pode vislumbrar, cerca de 208 milhões, dos quais 20% serão idosos. Os baby boomers estão envelhecendo e se transformando nos elderly (idosos) boomers.

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A preocupação no Brasil deve ser o aumento da população idosa e também a necessidade de atividades, políticas públicas educacionais, atenção à saúde dos idosos e cuidados familiares com esse segmento que mostra um novo perfil epidemiológico. Além das transformações demográficas, o Brasil tem experimentado uma transição epidemiológica, com alterações relevantes no quadro das doenças crônicas. Esse novo perfil da *morbidade no país aponta para uma nova forma de "olhar" e "cuidar" da população.

Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, estima-se que pelo menos uma doença crônica aumenta com o avanço da idade, principalmente em idosos residentes em áreas urbanas, migrantes de outros estados, que têm baixa escolaridade e na sua maioria mulheres. Dentre as condições mais prevalentes estão a doença de coluna, hipertensão, artrite, depressão e demências.

As doenças crônicas são definidas como as que acometem os indivíduos por longo período de tempo, podendo apresentar pequenas melhoras ou momentos de piora. A presença de doença crônica em idosos provoca um aumento de limitação de atividades e da demanda por serviços de saúde, necessitando na maioria das vezes de internações de longa duração. As síndromes demenciais por serem doenças crônicas degenerativas são hoje consideradas "as grandes síndromes da idade avançada".

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Desde 1997, se discute o envelhecimento populacional e o país não se deu conta das necessidades sociais básicas e de políticas públicas para essa população.

Por outro lado a legitimação de alguns direitos sociais como a universalização da aposentadoria, filas especiais, assentos reservados nos transportes públicos, gratuidade nos transportes urbanos, meia-entrada foram questões que mereceram atenção nos últimos anos.

Problemas do idoso

A redução da oferta de força de trabalho implicará em uma diminuição no número de contribuintes para a seguridade social, o que leva a se perguntar se será possível para o Brasil continuar mantendo a dissociação entre envelhecimento e pobreza.

O cuidado do idoso frágil é também uma questão não resolvida. Essa responsabilidade continua sendo atribuída à família sem considerar os rearranjos familiares que vêm ocorrendo.

Primeiro de outubro – Dia Internacional do Idoso – é uma data importante para chamar atenção para esses desafios sociais, pois estamos assistindo um fato novo na história: o processo de envelhecimento e redução da população.

* Taxa de indivíduos doentes num dado grupo e durante um período determinado