Tabu: falar da dor de ser mãe

por Thaís Petroff

É muito comum vermos fotos em redes sociais de mães felizes com deus pimpolhos ou declarações de amor para seus filhos. Sim, tudo isso é verdade! Filhos trazem muita alegria e creio que não há amor maior no mundo, mas, o que pouco se fala ou se mostra, é o outro lado, que não é tão bonito e bem divertido.

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Atendo diversas mães de crianças pequenas e gestantes; percebo o quanto é difícil para essas mães poderem reconhecer as dificuldades que passam e seus sofrimentos como a chegada da maternidade. Algumas sentem-se envergonhadas ou culpadas por dizer coisas "ruins" com relação a esse momento tão esperado e outras relatam não terem espaço na família ou entre amigos para falar sobre "as coisas que pegam".

Olhar, reconhecer e verbalizar as dores de ser mãe é um tabú. É comum ouvir frases como "ser mãe é uma benção", "ter um filho é um milagre" ou "ser mãe é a melhor coisa do mundo", o que só ressalta um dos lados da moeda e impede que o outro seja reconhecido ou exposto. Algumas mães me contam de experiências bastante aversivas que tiveram em comentar sobre dor nos joelhos, cansaço, mal-estar enquanto estavam grávidas e serem coibidas em suas falas por profissionais da saúde; por pessoas na rua ou até familiares com o sermão de: "Você é mãe, não pode reclamar, tem que agradecer (ou ficar feliz)" ou ainda com frases como: "Você é mulher, ponha-se em seu lugar e assuma seu papel".

Não estou querendo dizer com isso que não precisamos praticar olhar o lado positivo dos acontecimentos, mas sim, o quanto há pouco espaço para se reconhecer que ser mãe tem os dois lados: as alegrias e as tristezas. Como se falar das dores e sofrimentos diminuísse ou negasse a outra parte.

Toda generalização é burra, pois que eu saiba, nada é absoluto ou só tem um único aspecto. As pessoas e situações são multifacetadas: depende do momento, do contexto e de diversas variáveis. Por isso, generalizar a experiência de ser mãe somente como algo maravilhoso não é uma verdade.

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Se faz necessário começar a abrir mais espaço para nós mães podermos falar sem medo, vergonha ou culpa, tanto de nossas experiências positivas, quanto das dificuldades e sofrimentos. Precisamos abrir espaço dentro de nós e nos permitirmos a isso e, sentindo-nos mais tranquilas com esse discurso, ele fluirá com mais naturalidade. Mas precisamos também saber que as pessoas negarem nosso direito à expressão assertiva de nossos sentimentos é uma violência contra nós, já que proíbe que acessemos o que nos incomoda; e somente assim poderemos trabalhar essas questões.

Não me lembro de minha mãe ou familiares me contarem de quaisquer sofrimentos que tiveram com a maternidade. Quando comecei a falar dos meus, lembro-me de num primeiro momento de negação ou incômodo com meus relatos, mas através disso se abriu um canal de fala e escuta positivos que permitiram aceitar e ressignificar diversas vivências.

Nascer para a maternidade é muitas vezes morrer para a vida anterior, pelo menos da maneira como era antes. Há a perda de algumas atividades, amigos, hobbies, tempo etc. E se esse luto não tem espaço para ser reconhecido e vivido, ele pode tanto se transformar em uma depressão quanto em um mau humor contínuo, dificultando ou impedindo-nos de vivenciar as coisas boas de ser mãe.

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Procure espaços para poder se abrir, que seja em grupos de redes sociais, encontros de mães, em um processo terapêutico que te reconheça e te acolha. Quebre a corrente do silêncio e fale da sua verdade. Falar liberta. Se calar aprisiona. Pense nisso.