Quando sua dor vai passar?

por Lilian Graziano

No consultório psicológico, uma das principais angústias trazidas pelos pacientes se traduz na divisão do mundo entre certo e errado, bom e mau, como se uma escolha ou circunstância não pudesse ser ao mesmo tempo uma coisa e outra. Nos esquecemos de que tudo (mas tudo mesmo) pode ser analisado sob mais de um prisma, o que pode resultar em aprendizado relevante.

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Até mesmo na clínica, a discussão do que é funcional ou disfuncional, no que diz respeito a certos comportamentos, é delicada. Pois uma resposta disfuncional a um evento ou trauma pode se reverter em florescimento humano, por exemplo. É quando o indivíduo, após essas ocorrências e um verdadeiro mergulho em suas emoções, experimenta um bem-estar ainda maior do que aquele que vivenciava antes do trauma. Uma resposta disfuncional passa a ser, na verdade, um processo adaptativo.

O(a) leitor(a) deve estar se perguntando por que é que alguns chegam nesse resultado e outros não? Claro que isso dependerá do nível de resiliência do indivíduo, de sua capacidade de ressignificar o evento e, muitas vezes, de um bom processo de psicoterapia. Contudo, diante desses acontecimentos, para ressignificá-los, é necessário, logo de início, entender que tudo é uma questão de perspectiva.

O pesquisador Richard Tedeschi, da Carolina do Norte, EUA, chamou de "crescimento pós-traumático" essas experiências em que o nível de bem-estar pós-trauma supera o da vida antes do evento. O trauma, aqui, pode ser entendido também como um "choque do ego", que, grosso modo, é quando nos deparamos com um "lado errado" ou "ruim" de nós mesmos, apontado por alguém ou revelado por alguma circunstância. Tem a ver, ainda, com ocorrências como violência, acidentes, doenças ou tragédias que nos acometem e nos mantêm suspensos por um tempo, a encarar a vida de forma fria e negativa, muitas vezes somatizando as emoções.

Para aqueles que experimentam o crescimento pós-trauma, isso é apenas uma fase, que não se pode evitar. Esse "clique" interno que nos anestesia e mesmo o momento quando tudo volta a ser como era antes (ou melhor) ocorrem como breves insights que modificam a forma como nos relacionamos com o mundo. Nesse segundo caso, porém, nada ocorre sem treino ou flexibilidade emocional e cognitiva.

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Pode-se dizer que toda a psicoterapia atua na mudança de perspectiva. A Psicologia Positiva, todavia, confere ao processo um foco no florescimento humano e não apenas na redução dos sintomas à normalidade do indivíduo. Sua importância no pós-trauma, para que haja uma ressignificação desses eventos com foco em evolução pessoal, é inegável.

Seja como for, caro(a) leitor(a), quando houver dúvidas sobre quando a superação chegará, vale lembrar que a existência humana é mesmo assim, ambígua: "Não há mal que sempre dure, nem bem que sempre vença". O mundo não se torna ruim porque um trauma ocorreu – as oportunidades e coisas boas continuam lá, como antes eram evidentes pra você. A predominância do bom ou do ruim, por sua vez, é uma questão de escolha e percepção. E para o equilíbrio dessa balança, lembre-se, a Psicologia Positiva pode ser sua maior aliada.