Orientações sobre o convívio entre pais e filhos nos finais de semana

por Ceres Alves de Araujo

Não há dúvida que o relacionamento entre pais e filhos passou por mudanças importantes nas décadas recentes.  Anteriormente, as famílias eram numerosas, morava-se em casas com quintal e jardim, onde as crianças brincavam. A rua também era o lugar possível e desejável do brincar. Os vizinhos eram os companheiros de aventuras.
Na família nuclear, subgrupos se formavam: pais-filhos; filhos maiores-filhos menores; meninos-meninas. No sistema familiar existia uma hierarquia implícita, na qual cada um sabia sua posição.

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Atualmente, as famílias são menores, com um, dois e, eventualmente, três filhos. Mora-se em apartamentos e a rua foi interditada ao brincar. O quintal, o jardim e a rua foram substituídos pelos espaços nos condomínios pequenos ou grandes. O convívio com vizinhos ainda é possível, ainda que de forma diferente de antes, e as crianças hoje têm pouco tempo para o lazer, pois suas agendas são preenchidas com muitas atividades, que visam “formá-las” bem, para as épocas vindouras.

Mudaram as formas de criar e educar os filhos e a família tende a funcionar em moldes diferentes. Além do pai, a mãe, na maioria dos casos, assumiu a vida profissional e dessa forma, os dois se afastam do convívio com seus filhos, pelo menos, nos cinco dias úteis da semana. As crianças permanecem cada vez mais tempo na escola ou nas atividades extraescolares: aprendizado de línguas, esportes, artes etc.

Assim, sobram os fins de semana, onde se pode privilegiar a relação pais-filhos. Com frequência, os pais querem e pretendem se dedicar exclusivamente às suas crianças. Muitos para compensar a ausência, ou o pouco tempo durante a semana; outros por culpa pelo afastamento; e outros pelo desejo mesmo de estar junto e de brincar com os filhos.

Pontos de discussão

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Pode-se discutir aqui, vários pontos. Primeiro, dedicação exclusiva nos fins de semana não é necessariamente o melhor a ser feito. Em geral, tal forma de dedicação faz com que as crianças fiquem cada vez mais exigentes, sabedoras de que têm os pais à sua disposição e fazem com que os pais fiquem exaustos e reféns dos desejos dos filhos. Com frequência, esses pais deixam para último plano a vida conjugal, abdicam da vida social com seus próprios amigos e ficam sem tempo para os cuidados pessoais. Isso não é bom nem para as crianças, nem para os pais.

Ainda que no fim de semana, as relações com os filhos seja prioritária, elas não precisam ocupar todas as horas dos dias. A mamãe pode ir ao cabelereiro, fazer compras, o papai pode ir fazer esporte, encontrar seus amigos, os dois devem sair para uma atividade conjunta etc. Isso é saudável, pois ajusta a proporção necessária do convívio pais-filhos, dando à criança ou às crianças, a possibilidade de se entreterem sozinhas e de valorizarem os momentos do estar junto com os pais.

Outro ponto que merece reflexão, são os subgrupos que podem ser feitos dentro da família e que variam em função da idade do filho. Juntar todos os filhos em um grupo e acreditar que o que é bom para um é bom para o outro não é certo. As crianças têm necessidades diferentes em função da idade. Quando se nivela os filhos pela média, tem-se, em geral, uma situação inadequada, pois o mais velho é infantilizado e, mesmo, debilizado e o mais novo forçado a crescer precocemente para conseguir acompanhar a atividade. Quando a diferença de idade entre os filhos é grande, nivelá-los pela média pode ser catastrófico. Mas, mesmo com diferenças pequenas, o nivelar é sempre prejudicial.

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É evidente que existem situações onde a família inteira pode apreciar e deve estar junta.  Entretanto, a possibilidade de se fazer subgrupos deve ser levada em conta. Interesses comuns entre um dos pais e um dos filhos pode ser um critério, dentre muitos, para a formação de um subgrupo, muitas vezes até o gênero favorece isso.  
Quando um dos pais sai para alguma atividade com um dos filhos, esse vive e aprende a sensação de ser companheiro e experimenta a sensação de exclusividade do foco de atenção do adulto. É muito bom, por momentos, se sentir filho único.  Uma viagem com um dos pais é uma lembrança que tende a perdurar ao longo da vida e são essas memórias que se carrega desse relacionamento tão especial.

Nos subgrupos que se formam, tem lugar a relação pai-mãe, muito necessária na família, pois os pais fornecem para o filho o modelo de par, tão importante aos posteriores relacionamentos de par com amigos. O casal junto dá ainda o modelo da relação conjugal que se espera que seja amoroso. As crianças que crescem sob um modelo harmonioso e amoroso da relação do casal parental, aprendem a fazer vínculos com os outros mais amorosos, menos hostis.

À medida que o crescimento das crianças vai acontecendo, muitos ajustes se fazem necessário na formação desses subgrupos, pois a relação pais-filhos é sempre dinâmica e a família única. Não existem regras gerais, mas é importante que o fim de semana seja bem aproveitado e muito feliz para todos os membros.