Conservar e inovar: qual é a medida equilibrada?

Por Aurea Afonso Caetano   

Lembram-se da letra da famosa música de Cat Stevens na qual ele contava a conversa entre pai e filho- "Father and Son"?. A letra nos toca de maneira tão especial porque fala de dois princípios muito básicos para o desenvolvimento humano. Conservar ou inovar; fechar ou abrir; consolidar ou renovar, todas oposições que implicam um único e mesmo movimento.

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É preciso inovar para crescer, mas é também preciso conservar para consolidar o que foi construído. E como saber a medida adequada desses dois movimentos?

Na música, ouvimos um pai acomodado, que reconhece em seu filho os mesmos projetos e sonhos que um dia o moveram. A partir de sua trajetória e de seu momento atual de vida, esse pai tende a acreditar que o movimento tão desejado pelo filho não é necessário. Veja só: sou velho e sou feliz, diz ele! Deixe de invenções, contente-se com a vida que tem e siga adiante.

Já o filho, no auge de sua juventude, reclama a falta de escuta dizendo não ter sido nunca ouvido (muito menos compreendido). Diz que tem muitas coisas dentro de si e que o pai se conhece, mas não o conhece, o que faz toda a diferença.

São esses dois aspectos com os quais trabalhamos em terapia. Há aqui um conflito básico entre os aspectos senex e puer ou o velho e o jovem. Segundo Vitale, no velho o processo estanca num processo de diferenciação egocêntrica – assim como na música – eu sei o que é melhor para você. Este estancamento exaure o potencial de transformação; tornou-se petrificado e, detendo o poder, tende a bloquear e petrificar todo o processo em torno de si.

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Já o puer ou o jovem, representa a necessidade de tornar-se o novo homem, mas apenas consegue isso ao colidir e se separar da parte petrificada do velho/pai. Podemos perceber que este não é um embate fácil e indolor. Mas é, ao mesmo tempo, um embate do qual não escapamos uma vez que estes dois aspectos são polos de um mesmo aspecto dinâmico.

O velho que quer manter seu reinado a todo custo pode paralisar e impedir um funcionamento criativo e transformador. O jovem, por outro lado, quanto também preso a seu desejo de transgressão, pode tornar-se um rebelde sem causa", um daqueles aspectos que permanece brigando mesmo quando não é mais necessário.

Apenas uma adequada elaboração da dinâmica que existe entre esses dois movimentos pode favorecer a criatividade psíquica. É preciso caminhar em direção ao novo sem deixar de consolidar e sedimentar os novos conseguimentos. Mas, ao mesmo tempo ficar preocupados apenas com essa sedimentação é ficar presos em mais do mesmo impedindo a ampliação de nossas vivências.

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Referências:

Vitale, A. O arquétipo de Saturno ou a transformação do pai.
Stevens, Cat. Father and Son