Suicídio: por quê?

Por Bayard Galvão

“O dia mais triste da minha vida foi quando acordei no hospital e vi que não tinha morrido”. Estas foram as primeiras palavras que ouvi de uma paciente na primeira consulta.

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Suicídio é o último ato de alguém, o mais radical e irreversível.

Quando alguém comete suicídio, a onda de perguntas é iniciada e acaba até a próxima notícia, exceto para aqueles que não conviviam de maneira próxima com quem ceifou a própria vida.

Por que alguém tira a própria vida?

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As respostas dependerão de cada situação: pode ser por ser considerado um ato patriótico; um caráter de demonstração religiosa; o preço do tíquete de entrada para o paraíso; ter descoberto que em seis meses não poderá se mexer e dizer o próprio nome; querer entrar para a história como um símbolo, não deixando o próprio nome cair em derrocada (ninguém fica na “crista da onda” por mais de um punhado de anos); por ter uma doença que provoca dores constantemente, sem trégua alguma; pode conter um ato de querer ferir, por culpa, pai, mãe ou esposo; e talvez o mais complicado de entender e aceitar: a vida emocional se tornou pesada demais!

Quando o suicídio entrar na causa de ser por um peso emocional, alguns pensam em depressão, mas o mais correto seria dizer “puro desespero”! Em outras palavras, por um excesso de peso do viver e a completa falta de esperança no futuro, tira-se a própria vida.

Matar-se pode ser premeditado por anos ou segundos, pode vir com aviso ou não, pode ser precedido por pseudotentativas de chamar atenção ou não, pode ser público (atirar-se de uma ponte) ou no silêncio do próprio lar.

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Algumas causas comuns que podem deixar a vida excessivamente pesada: excesso de cobranças, seja de ter que ser o melhor, de não poder errar, de ter que ser um exemplo ou ícone para a família, de ter que prover para a família e não conseguir ou dívidas; assim como diminuição de autoestima por estar ficando com o “corpo velho e feio”; abandono do esposo ou esposa; baixa autovalia; acreditar que nunca achará alguém que o ou a ame; considerar-se muito antipático ou “burro”; após ter passado por um trauma que não consegue superar (estupro ou assalto com violência física); descobrir que faliu aos “60” e não terá tempo para se levantar, acreditando que apenas “sobreviverá”; inadequação social, principalmente, na adolescência, com ou sem “bullying”; crise de ansiedade, angústia ou tristeza por causa de um filho ou esposa que tenha morrido e fim de um relacionamento de dependência. Quando estas causas se unem à ideia de que não haverá punição numa “vida” após esta e que a vida não melhorará com o passar dos anos, a bomba está feita.

Algumas características comuns de quem está se encaminhando para o suicídio são isolamento social, tristeza constante, filmes e músicas melancólicas, conversas sobre o fim dos sonhos ou sentido para a vida, interesse em formas de tirar a própria vida, não querer comer, falta de ânimo para atividades diárias de higiene e estudo ou trabalho, insônia constante e até uma estranha leveza após passar por tudo isso, pois o indivíduo teria descoberto como acabar com o sofrimento atual.

Vivemos uma sociedade contaminada pela necessidade do sucesso profissional, da busca “esgoelada” pela felicidade constante, do corpo perfeito, do durável leve, firme e tranquilo humor, da “liderança”, do ter que saber “inglês e mandarim”, além de ter mais do que duas pós-graduações, além de ter que ser uma excelente mãe, ter uma ótima performance sexual, ser gostado por muitos, conhecer bem política, ter viajado o mundo e uma pessoa “eco-fitness-green”.

Tão importante quanto aprender a ter posturas que nos levem a uma vida de sucesso, é aprender a lidar com as dores comuns da vida: morte, sofrimento que precederia a morte, ser rejeitado, ser menosprezado, ser ridicularizado, passar por vexames, perder quem ama para a morte ou outra pessoa, não estar no “pódio”, descobrir que não tem talento para aquilo que gostaria de ter, esforçar-se muito e receber pouco, tristezas ou momentâneas melancolias de uma tarde de inverno, ficar sozinho, ter pouco dinheiro, ser incompetente em uma ou mais situações ou áreas da vida e envelhecer, ficar gordinho e flácido, além de ter menos dinheiro do que tinha anos antes.

Afinal, o que você está precisando aprender para viver melhor, seja na busca dos seus objetivos ou para lidar com as dores da sua vida?
 

Fonte: Bayard Galvão é psicólogo clínico (PUC-SP), e hipnoterapeuta.
 

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra ou psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.