Homeschooling: educar a criança em casa é bom para o seu desenvolvimento?

Da Redação

Você já deve ter ouvido falar do movimento dos pais que optam por educar as crianças em casa em vez de mandá-las para a escola.

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O homeschooling, termo adotado da língua inglesa, que significa educação domiciliar, está rendendo várias polêmicas no Brasil, uma vez que por aqui não é uma prática legal, mas já é realizada por cerca de 5 a 6 mil famílias, segundo dados da Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED).  

Segundo o parecer do Ministério da Educação, a educação domiciliar fere a Constituição Federal, Lei de Diretrizes e Bases Educacionais (LDB) e Estatuto da Criança e Adolescente (ECA).

Mas, apesar disso, o movimento ganha seguidores todos os dias, ou seja, pais que preferem educar os filhos em casa a mandá-los para escolas.

Os principais argumentos de quem é a favor do homeschooling é que a educação no Brasil está falida e defasada e que a escola é um ambiente cheio de violência e ameaças, como drogas e bullying.

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Mas, afinal, o que será que dizem os especialistas em educação e em desenvolvimento infantil?

Para a neuropsicopedagoga Viviani Zumpano, que tem 20 anos de atuação em educação e é professora de pós-graduação na área, a escola é um espaço fundamental na vida da criança.

“É o lugar onde ela vai aprender as habilidades sociais, que são cruciais para a vida. A escola é onde a criança irá socializar, aprender a lidar com as frustrações, problemas, fazer amizades, dividir e entender que não é o centro do mundo. Ou seja, é um dos ambientes em que ela terá a oportunidade de desenvolver a resiliência, habilidade fundamental para que a criança se fortaleça para enfrentar os desafios da vida”.
 
Além disso, de acordo com a neuropediatra Dra. Karina Weinmann, a escola proporciona ao cérebro estímulos muito diferentes daqueles que a criança tem em casa.

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“Por melhor que seja a educação domiciliar, os estímulos oferecidos no ambiente escolar são mais ricos do ponto de vista do desenvolvimento infantil. Além da perda do conteúdo pedagógico, não estar na escola, retira da criança diversas oportunidades de aprender com as diferenças, com experiências de convivência em grupo, afetando seu desenvolvimento afetivo, cognitivo, motor e cultural”.
 
Diversidade de valores e crenças

Para Viviani, o modelo de educação domiciliar impede a criança de conhecer valores e crenças diferentes daqueles preconizados dentro do núcleo familiar. “A criança ou o adolescente também terá dificuldade de lidar com a pluralidade de ideias, já que irá conviver apenas com a família ou pessoas escolhidas pela família”, diz.
 
“Naturalmente escolhemos ou nos aproximamos de pessoas com as quais temos mais afinidades. Entretanto, no futuro, seja na universidade ou no ambiente de trabalho, por exemplo, precisamos estar preparados para lidar com adversidades, opiniões diferentes e pessoas diferentes. Quem não frequentou a escola certamente terá muito mais dificuldade para gerenciar essas situações, já que conviveu e escolheu sempre pessoas muito parecidas ou com valores muito similares”, complementa.   
 
Socialização é prejudicada

Os defensores da educação domiciliar alegam que há outros espaços e maneiras de socializar, as crianças, portanto, não precisam da escola para fazer isso. Mas, segundo Karina, é inegável o fato de que a escola é determinante para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social infantil.
 
“Sabemos que é na escola que será construída parte da identidade de ‘ser’ e de ‘pertencer’ ao mundo, isso dificilmente acontecerá com crianças educadas em casa, por terem um contato com outras crianças mais restrito. Além disso, se esse contato ocorrer com crianças em ambiente familiar reduz ainda mais a efetividade desse processo”, completa.
 
“A socialização é um processo fundamental para a criança desenvolver a empatia, se colocar no lugar do outro e isso acontece naturalmente no dia a dia da vida escolar. Em casa, cercado apenas pelos pais e irmãos, certamente será muito mais difícil ensinar o conceito prático de aceitar e conviver com as diferenças”, diz Viviani.
 
Superproteção

Embora os adeptos da educação domiciliar argumentem que o sistema de ensino no Brasil está defasado, um dos motivos mais importantes para eles não mandarem os filhos para a escola é protegê-los da violência, drogas e bullying.
 
“É compreensível que os pais queiram proteger os filhos desses aspectos. Entretanto, precisamos lembrar que um dia essas crianças irão crescer, irão para a faculdade, para o mercado de trabalho e inevitavelmente precisarão lidar com todas essas situações. Ao privá-los da vida escolar, esses pais estão atrasando ou tirando dessas crianças a oportunidade de desenvolver as habilidades necessárias para lidar com essas situações, ou seja, lidar com a vida como ela é”, conclui Viviani,
 
“A educação domiciliar pode também exacerbar a inabilidade social associada à dificuldade de expressão da fala e linguagem, produto da sociedade moderna, motivo que enche os consultórios de pediatras e neuropediatras atualmente, diz Karina.
 
Quanto às críticas dos adeptos do homeschooling, Viviani reflete que não há como negar que o sistema educacional no Brasil precisa ser revisto e tem falhas. “Mas, precisamos lembrar que não existe escola perfeita, porque a escola atende à coletividade, à diversidade e não ao indivíduo. Por isso, sempre haverá fatores positivos e negativos em uma intervenção escolar e no processo de aprendizagem”, conclui a neuropsicopedagoga.