De tempos ancestrais à era hipermoderna: tudo sempre muda

Por Monica Aiub

Dizia Heráclito de Éfeso, filósofo do período Pré-Socrático, que tudo flui, nada permanece o mesmo.

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Se olharmos ao redor, constataremos que o mundo em que vivemos muda muito rapidamente. O que antes era um hábito, muito rapidamente deixa de ser; o que antes tinha valor, muito rapidamente o perde; o que antes era estúpido e desnecessário, muito rapidamente passa a ser o ponto central de nossa atenção.

Mudanças tecnológicas? Mudanças comportamentais? Alterações na bioquímica humana? Alterações no ambiente natural, geradas por nossas próprias intervenções ou pela ação do acaso? Muitos podem ser os fatores atribuídos às rápidas mudanças, e elas podem ser constatadas cotidianamente. Contudo, parece haver fatores que se repetem, como padrões, que apesar de aparecerem em contextos diferentes, mantém as relações entre os eventos da vida intactas.

Mudamos a forma de nos comunicar: utilizamos interfaces tecnológicas, aplicativos, aparelhos os mais diversos… mas resolvemos os problemas de comunicação?

Mudamos a forma como nos relacionamos: novamente interfaces, redes sociais, aplicativos que “nos aproximam”, mas modificamos a qualidade de nossos relacionamentos? Estamos, de fato, mais próximos uns dos outros, ou nos distanciamos ainda mais, com a ilusão da proximidade?

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Criamos máquinas sofisticadíssimas que tornam o processo produtivo muito mais eficaz, com menos investimento de tempo, de força e com maior produtividade, segurança e qualidade. Mas modificamos os modos como nos relacionamos com o trabalho, o consumo e a produção? Temos o anunciado tempo para o “ócio”? Ou nos comprometemos cada vez mais com uma produção exacerbada que não visa atender as necessidades, mas intensificar o consumo, a produção, a exploração e o lucro?

Produzimos conhecimento como nunca. O fazemos circular rapidamente, muito mais gente tem acesso. Mas fazemos uso destes conhecimentos para tornar nossas vidas melhores? Ou ele apenas circula entre nós – nas nuvens virtuais – enquanto repetimos as “fórmulas da ignorância” para resolver nossos problemas?

Avançamos muito no que se refere a condições de vida, direitos humanos, mas num ímpeto de retrocesso, somos capazes de desrespeitar o outro, afirmando uma suposta “superioridade” em algum aspecto qualquer, como se pudéssemos ser mais humanos do que outros humanos pelo fato de termos algum tipo de bem, de conhecimento, de característica biológica, estética ou cognitiva, entre muitas possibilidades que nos distanciam de nossa real condição, fazendo-nos crer que podemos ser mais do que aquilo que, de fato, somos.

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Desenvolvemos uma medicina avançadíssima, um vasto conhecimento sobre a produção de alimentos, sobre cuidados necessários à manutenção da saúde e da vida. Com isso ampliamos nossa expectativa de vida e, em tese, nossa qualidade de vida. Mas distribuímos justamente estes recursos, permitindo uma vida melhor e mais saudável a todos? Ou garantimos que alguns devam ter mais direitos que outros no acesso aos recursos desenvolvidos?

Ao mesmo tempo em que parecemos assustados com a rapidez com que mudamos o mundo e a nós mesmos, mas desejosos de tais mudanças; parecemos, por vezes, com uma tendência à manutenção de certas relações que já poderiam ter sido transformadas há muito tempo, mas que permanecem apenas como reprodução de hábitos incorporados, dos quais talvez nunca tenhamos, de fato, precisado.