Você se culpa, se cobra e se reprova após comer uma guloseima?

Por Samanta Obadia   

Um dos grandes assuntos atuais é o que se come. Seja o orgânico, o glúten, a lactose, muitos seguem suas rotinas preocupados com o que ingerem ou, na maioria dos casos, com o que deveriam estar ingerindo.

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Me fez pensar sobre esse fato outro dia, quando ao fazer exercícios ao lado de uma moça, me preocupei com o seu estado, posto que dedicava-se exageradamente, ao ponto de ficar sem ar. Contudo, ao ser questionada pela professora, disse estar compensando a pizza que comera no dia anterior. A treinadora concluiu, apoiando-a:  

– Não há motivador melhor que a culpa!

Parei! Pasmei!

Aquela situação me levou a refletir sobre o ato de se alimentar. Algo que para nós humanos, vai além da necessidade fisiológica. Há neste uma relação simbólica, cultural, social, afetiva e sensorial.

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Sou a favor da alimentação saudável, concordo que o bom alimento é fundamental para uma vida equilibrada e longínqua. Mas me assusta a interminável culpa posta naquilo que se come quando fora dos parâmetros nutricionais adequados.

‘Peso mental’

As pessoas se punem com exercícios além do que aguentam, tomam remédios ou hormônios para emagrecer, se autoflagelam com culpa, como se fossem criminosas. Será que elas sabem que esse ‘peso mental’ lhes está fazendo mal? Será que desconfiam que o reverso desses pensamentos se voltará contra elas mesmas adiante?
Pois é. A culpa nunca foi uma boa amiga. Ela vem carregada de cobrança e de reprovação. Ela nos assombra e faz mal à autoestima.

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A boa motivação é a que nos leva ao prazer. Por isso, comer o que se gosta sempre será melhor do que a punição pelo que se come. Principalmente, porque a comida não é somente um monte de farinha, açúcar ou carne. Há uma relação com quem se está dividindo o momento, há uma memória sensorial daquele prazer, há uma alegria, às vezes, infantil, naquele sabor. Podem ser tantos os significados, bons e maus.

Nossa primeira relação positiva com esse mundo foi a alimentação, foi o contato com o seio materno ou com o alimento que alguém nos deu.  Não devemos nos afastar disso e sim conhecer os nossos próprios anseios, compondo nossas ‘mesas internas’ para aí sim negociar com o que é bom para nossa saúde, que não é reduzida ao nosso colesterol ou à nossa glicose. Há um lugar dentro de nós que precisa ser alimentado de amor e de significados muito particulares, com um abismo de distância da pirâmide alimentar padronizada. Cuide-se!