Neuroses no Instagram

Por Karina Simões

Escuto muitos discursos na minha prática clínica concernentes às redes sociais, a exemplo de: “Ele não me aceitou no Instagram” ou “Ela ocultou meus stories”; até chegar a mais temida de todas as falas: “Ela/Ele me BLOQUEOU”. Pronto! Com essa fala, o mundo desaba e está aqui selado um “atestado” de quase inimigos para sempre. É assim que as pessoas se sentem neste momento. É impressionante o poder das redes sociais hoje em dia na sociedade e na interferência em nossos valores.
 
Elas – as redes sociais – conseguem ajudar e atrapalhar ao mesmo tempo. Conseguem alegrar, mas também têm entristecido e até deprimido muita gente. Quando me perguntam no consultório o porquê do “fulano” ou do “beltrano” ter deixado de seguir ou ter bloqueado, costumo fazer o paciente refletir sobre o seguinte questionamento: “Por que isso o/a incomoda tanto?”, “Por que o fato de ele/ela bloquear mexe tanto com você?”. Em vez de alimentar uma culpa com essa pergunta, que é mais comum dentre os pacientes, trabalho nessa hora a  autoestima e a ressignificação das emoções, fazendo com que a pessoa se questione sobre a necessidade de se sentir aceito.
 
Rever essas questões passa por emoções e sentimentos não resolvidos, muitas vezes, de baixa autoestima, de sentimentos de desvalia e desamor, de sensação de que só será amado se tiver muitos “amigos” virtuais, bem como muitos “likes” nas postagens, sinalizando para o seu interior, como também para a sua página virtual, “confirmando” que é uma pessoa popular e querida. É preciso atentar para essa delicada questão, pois pode estar afetando a qualidade da sua saúde mental e gerando consequências cognitivas e comportamentais graves. A vida deve ser mensurada pelas relações verdadeiras e recíprocas que conseguimos desenvolver fora e dentro das redes sociais. Uma não exclui a outra.
 
A vida não é uma rede social. Porém, o é ao mesmo tempo! A vida é esse equilíbrio entre o social e o virtual. Portanto, tudo o mais que se exceder trazendo sofrimento, já está na hora de “bloquearmos”, sem medos e sem culpas. 

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