Adolescentes: contágio suicida

Por Edson Toledo

Grande preocupação entre pais, educadores e profissionais de saúde, o suicídio tem se configurado como uma das principais causa de morte entre os adolescentes atualmente, e uma porcentagem não pequena deles relata conhecer alguém que tenha tentado suicídio.

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Trata-se de um assunto de saúde pública altamente negligenciado tanto em boa parte do mundo, quanto em nosso país. É ainda um tema, lamentavelmente, cercado de tabus e preconceitos, fato que contribui para inibir a sociedade de falar sobre o tema abertamente, além de dificultar a instalação de políticas públicas de prevenção e a pesquisa.
Em muitos países as taxas de mortalidade por suicídio são crescentes, e na compreensão desse problema ainda há muitas perguntas sem respostas.

Como entender o aumento dos suicídios entre jovens e adolescentes?

Como entender o fenômeno do contágio ao suicídio?

Como a mídia deve abordar esse tema tão importante socialmente?

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Hoje, nossa proposta é fazermos uma breve reflexão sobre o conceito conhecido por contágio suicida, ideia defendida por De Leo e Heller em 2008. Eles dizem que o modelo foi baseado nas doenças infecciosas; e que o comportamento suicida de uma pessoa pode facilitar a ocorrência de comportamentos semelhantes e subsequentes por outros.

O processo é observado via imitação, também conhecido por modelação. A aprendizagem social pode ser um fator importante na transmissão familiar e não familiar de comportamentos suicidas. À luz disso, um crescente corpo de literatura tem explorado se o comportamento suicida em uma pessoa pode ser imitado por outras pessoas em suas redes sociais ou não.

Ali e colaboradores (2001) buscaram determinar até que ponto o comportamento suicida em indivíduos é influenciado por comportamentos suicidas de seus parentes e familiares. Nesse estudo, os autores descobriram que um aumento de 10% nas tentativas de suicídio por membros da família foi associado a um aumento de 2,13% e 1,23% nas tentativas e ideações suicidas em adolescentes, respectivamente.

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Uma quantidade respeitada de pesquisas nos últimos anos demonstrou claramente que a extensa cobertura jornalística e televisiva do suicídio está associada a um aumento significativo na taxa de suicídio. Esse aumento é proporcional à quantidade, à duração e à proeminência da cobertura da mídia. Esse fenômeno ficou conhecido como “Efeito Werther”, inspirado no romance de Goethe, “Os sofrimentos do jovem Werther” de 1774, que supostamente provocou um aumento nos suicídios após seu lançamento. A obra chegou a ser proibida em muitos países europeus. Entretanto, mais pesquisas são necessárias para esclarecer seus efeitos.

Biddle e colaboradores (2008), em artigo, dizem que há anos a crescente popularidade da internet como fonte de informação tem levantado preocupações sobre o perigo de sites que promovem o suicídio e sites criados por estranhos que formam pactos suicidas. Entretanto, da mesma maneira, a mídia também pode servir como um meio eficaz para prevenir o contágio do suicídio. Mais esforços devem ser direcionados para apresentar histórias de suicídio, especialmente por pessoas admiradas pela juventude, sob um prisma diferente.

Que o comportamento suicida é multicausal, que a complexidade de fatores que concorre para seu desfecho devem ser sempre lembrados. Isso tudo já sabemos, o fato é que devemos dar prioridade para tratar os fatores evitáveis e interromper e amenizar os que não puderem ser evitados. Assim, os esforços de prevenção ao suicídio devem ser dirigidos à melhora da assistência clínica ao indivíduo.

Portanto, devem ser feitos esforços para evitar normalizar, glorificar ou dramatizar o comportamento suicida. A ideia é a de que não devemos recomendar que seja feito relatos de métodos ou maneiras de como fazê-lo, tão pouco reforçar a crença de que o suicídio será  uma resolução nobre para um dilema pessoal, ou muito menos uma solução compreensível a um evento traumático ou estressante.