O que eu plantar hoje colherei amanhã: isto se aplica à vida em família?

Por Regina Wielenska

Noutro dia, estando na praça de alimentação de um shopping, me pus a observar um casal, com um bebê pequeno, em idade de andar aos tropeções e de ainda se arrastar pelo chão e engatinhar. Pais relativamente jovens, cada um no seu celular. O bebê, enquanto seus pais digitavam distraídos, se apoiou no chão e o lambeu muitas vezes.

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Uma pergunta: como os pais reagiriam se soubessem (vissem a cena, por exemplo, por vídeo) que na creche o menino foi largado lambendo o chão da instituição?

Duvido que apoiados na teoria “de que o que não mata engorda”, eles ficassem tranquilos com a cena. Diriam que muita gente circula no local, que por mais que o piso fosse lavado e que a criança estivesse em dia com as vacinas, tudo aquilo era terreno propício para contaminação por microrganismos patogênicos. Eles não gostariam de saber que a criança foi deixada por alguém lambendo um piso por andam centenas de pessoas… mas eles mesmos, distraídos, sujeitaram a criança a isso.

Teria eu testemunhado uma negligência parental? Deveria eu ter avisado os pais? Confesso que me faltou coragem…

Sei que crianças que desde cedo convivem com cães, por exemplo, tendem a ter um sistema imunológico menos suscetível a alergias e infecções. Então os pais poderiam estar fazendo a coisa certa com o filhote deles…

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Mas o que me pegou emocionalmente era que o celular roubava a atenção dos pais, impediu até que eles pudessem decidir racionalmente se deixariam mesmo a criança lamber o piso e se sujar abundantemente. Aquilo foi um acidente invisível ao casal. Nesse sentido foi negligência deles e talvez minha também!

Comportamentos parentais muito comuns

Feita a mea culpa, acho necessário salientar que esse comportamento deles representa uma categoria imensa de comportamentos parentais muito comuns hoje em dia.

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A mãe está na loja, envolvida nas compras, e se a criança detona com as roupas na arara, a mãe diz pra criança parar de fazer isso e diz que “a tia (a impotente vendedora) não vai gostar”. Ir tomar uma medida educativa para o desenvolvimento da criança e impedir efetivamente a criança de estragar as coisas ela efetivamente não fez.

Não é difícil gerar uma criança e geralmente há um delicioso prazer envolvido. Muito divertido comprar roupinhas e montar o quarto da criança e escolher o nome. Daí pra frente a situação se adensa. A criança precisa de um olhar afetivo, disponível, consciente, que auxilie em seu desenvolvimento global. Vejo mamadeiras com refrigerante, consumo intenso de álcool por adolescentes de doze anos, crianças de cinco anos ganhando tablets e celulares. Pais, não reclamem depois, porque estão no aqui e agora sendo plantadas sementes ruins desde a tenra idade.

Aos leitores, peço desculpa pelo mau humor e pessimismo da colunista!