Musicoterapia: new age e heavy metal ajudam a combater estresse

por Angelo Medina

"Esteja atento a todos os ritmos e veja como o seu se encaixa. Se você se sente bem, você se torna a música e se torna uma celebração da vida".

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Essa frase é um ensinamento Xamã, inspirado na carta do Tambor do livro Cartas do Caminho Sagrado de Jamie Sams (Ed. Roco).

No plano científico, o médico holistico Sérgio Mortari, já falecido, justificou esse ensinamento.


Foto: Frederico Mendes

Segundo Mortari disse que a música ajuda a combater o estresse e a depressão. O prazer de ouvir música, faz com que o cérebro libere endorfinas e serotoninas; 'sublinhas' do prazer, que atuam como uma "droga" de efeito relaxante, proporcionando equilibrio, físico, mental e emocional. Aliviando assim o estresse e a depressão.

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"Não indico nenhum gênero de música. Falo com meus pacientes que qualquer estilo é válido. Desde que seja uma música relaxante para ele".

A conclusão prática é a seguinte: se a música provoca sensação de bem-estar, para quem ouve, ela será sempre positiva. Independente de ser o som plácido da Enya ou o explosivo new metal da banda californiana Korn.

O musicoterapeuta Tomaz Lima – O Homem de Bem – argumenta um leque de vantagens.

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"A música mexe com a nossa emoção. Ao ouvirmos uma marcha militar, temos vontade de sair marchando. Ao fazermos ginástica precisamos de bastante ritmo. Quando queremos fazer uma criança dormir, cantamos canções de ninar. Até as vacas dão mais leite quando ouvem Mozart."

O Homem de Bem se especializou em gravar mantras. Possui uma discografia de 17 CDs. Nesta entrevista, Tomaz Lima fala sobre o poder da música para combater o estresse, ensina como entoar mantras. Tomaz fala também sobre o iogue Paramahansa Yogananda (1893 -1952), primeiro grande mestre da Índia a viver no Ocidente por um longo período – mais de trinta anos.

Vya Estelar – Como a música pode ajudar a combater o estresse?

Tomaz Lima – Tendo formação em musicoterapia e trabalhando na área há quase 30 anos, posso assegurar que pesquisas bem documentadas, indicam claramente o poder psíquico do som. A música é tão poderosa que aumenta ou diminui o batimento cardíaco e o tônus muscular, afetando nosso estado físico e mental. A música age de uma forma sutil e poderosa relaxando o individuo e, consequentemente, ajudando a combater o estresse.

Vya Estelar – Você como musicoterapeuta estudou o poder do som? Daria para explicar exatamente como é este poder?

Tomaz Lima – Desde tempos imemoriais, as mães sabem que determinadas seqüências sonoras favorecem o sono de seus bebês. Elas não precisam de estudos teóricos para descobrir, aparentemente até por instinto, como acalmar seus filhinhos até que adormeçam. Por outro lado, também desde tempos imemoriais, os soldados sabem que determinados sons e determinados ritmos de percussão, despertam o ímpeto para atacar e fazem com que a agressividade supere a natural reserva; que decorreria do instinto de conservação. Os hindus, há milênios, perceberam que o som pode transformar a própria realidade, de um modo sutil, mas profundo.

Vya Estelar – Por que você se especializou em gravar mantras?

Tomaz Lima – Sempre me senti atraído pela beleza que ecoa nessas melodias milenares. Ocorreu-me, que poderia compartilhá-la com outras pessoas, independentemente de sua inclinação religiosa ou espiritual; utilizando essas veneráveis melodias como elemento de composições musicalmente belas e criativas. E também exercitar minha criatividade como artista.

Vya Estelar – Ao entoar um mantra a pessoa precisa saber o seu significado ou simplesmente basta entoá-lo?

Tomaz Lima – Os mantras têm efeitos psicológicos, em parte associados ao sentido das palavras entoadas, e efeitos fisiológicos, associados à pura percepção da melodia. Mas há, ainda, o fato de que os sons em geral e os mantras em particular acarretam uma sutil alteração na realidade. Desse modo, um mantra pode ser eficaz pelo simples fato de que alguém o entoa.

Vya Estelar – Qual é a melhor maneira de entoá-los, mentalmente ou cantando?

Tomaz Lima – O melhor modo de cantar esses mantras, quando se pode repetí-los por longo tempo, é iniciar em voz alta e, no decorrer do cântico, ir baixando a voz, passar para o sussurro e, em seguida, continuar o cântico mentalmente, até que o que é cantado se incorpore ao íntimo de quem canta, e a pessoa cante com sua própria alma. Entretanto, no caso dos mantras que divulgo, seus efeitos tranquilizantes e geradores de paz e alegria podem ser percebidos mesmo quando cantados descuidadamente, como melodias usuais. Na verdade, ao repetí-los pelo prazer que proporcionam como música, a pessoa vai, sem perceber, concentrando-se neles. Isto é extremamente benéfico, porque amplia a capacidade de concentração da pessoa – e ter ou não ter capacidade de concentração é o que, na maior parte dos casos, determina o êxito ou o fracasso em qualquer empreendimento na vida.

Vya Estelar – Uma pessoa alivia o seu carma ao entoar mantras?

Tomaz Lima – O carma é aliviado quando a pessoa cresce em sabedoria e realização divina. Seja porque se ergue acima das contingências em que o carma operaria da maneira mais severa, seja porque o indivíduo ganha a compreeensão e a força necessárias para fazer face às vicissitudes cármicas mais drásticas; sem responder com atos e atitudes que gerem, por sua vez, mais carma. Nesse sentido, todos os esforços de melhoramento espiritual, de aumento da compreensão, de desenvolvimento da compaixão, de busca da serenidade, da paz e da alegria espiritual são fatores que propiciam o alívio do carma. Entre esses inúmeros tipos de esforços inclui-se o cantar mantras.

Vya Estelar – Você tem algum mantra preferido?

Tomaz Lima – Cada um deles pode ser o preferido, dependendo do estado de espírito, das necessidades íntimas do momento. Madana Mohana Murari, por exemplo, é um marco na minha carreira de músico. Talvez seja o mantra mais lembrado, mas eu não poderia dizer que é o preferido.

Vya EstelarSongs of India possui mantras gravados com ritmos brasileiros como o baião, o samba. O que te levou a gravar mantras embalados por ritmos brasileiros e até africanos?

Tomaz Lima – Eu sou um músico, não um guru ou um sacerdote. Sem desconhecer o valor espiritual dos mantras – ao contrário, por reconhecê-lo – dou a eles um esmerado tratamento musical para que sejam atraentes às pessoas. A função de minha interpretação dos mantras não é ritual; é entretenimento musical. Procuro oferecer ao público um produto benéfico, independentemente da forma criativa da orquestração.

Vya Estelar – O sitar é um instrumento tão popular na India, mas você na maioria das vezes prefere voz e violão?. Por que você digamos… "evita" o uso deste instrumento?

Tomaz Lima – Eu não evito o uso do sitar. Uso o violão porque é um instrumento em que me expresso bem. Além disso o violão é um instrumento característico da música brasileira. Sou um admirador da música indiana. Sou um músico brasileiro que utiliza elementos da cultura indiana, sem descaracterizá-los. Nada impede que venha a utilizar o sitar também.

Vya Estelar – Como foi gravar acompanhado por três mil monges e lamas tibetanos no Himalaia, que participaram do seu CD Perto de Você?

Tomaz Lima – Foi uma emoção indescritível. Foi uma cerimônia impressionante e comovente.

Vya Estelar – Você não se considera um guru, mas sim um discípulo de Yogananda. Na qualidade de discípulo você teria algum tipo de missão?

Tomaz Lima – Paramahansa Yogananda ensina que todo ser humano tem por missão primordial encontrar a Deus. A segunda missão dos seres humanos – isto ensinam todas as religiões – é trabalhar o melhor possível com os recursos de seus talentos (vide a "parábola dos talentos", no Novo Testamento). Nesse trabalho, a pessoa precisa aprimorar-se, ser benéfica ao próximo e ajudar a fazer do mundo um lugar melhor. Quem tem talento para a medicina, realiza essa missão sendo um bom médico. Eu procuro ser um bom músico.

Vya Estelar – Você costuma dedicar os seus discos ao Paramahansa Yogananda, por que ele tocou seu coração de forma tão arrebatadora?

É impossível responder em poucas palavras. Sugiro que leiam a Autobiografia de um Iogue de Paramahansa Yogananda. Ele é um verdadeiro guru. Um homem que pelo seu inquebrantável esforço encontrou Deus. Recebeu Dele a missão e o poder de ajudar outras almas a encontrá-lo.

Vya Estelar – Uma banda de rock progressivo inglesa, o Yes, gravou, na década de 70, um disco inspirado no livro sobre a biografia de Yogananda. O álbum chama-se Tales From Topographic Oceans. Você conhece?

Tomaz Lima – Como vê, não foi só a mim que a biografia de Yogananda arrebatou!

Vya Estelar – Como foi sua formação musical? As melodias dos mantras que você canta, além de belas, são bem construídas. Você cria todas estas melodias?

Tomaz Lima – Minha formação musical se deu no conservatório e obedeceu aos aspectos formais rigorosos que fazem parte da educação de um músico. Além da parte musical propriamente dita, fiz o curso de Musicoterapia. As harmonias elaboradas para as melodias que interpreto são, sim, de minha autoria.

Vya Estelar – É poderoso o resultado sonoro de você entoando o mantra OM no CD Haribol. No álbum, você informa que não usou nenhum recurso eletrônico. Como foi gravado este mantra?

Tomaz Lima – Utilizei uma técnica de canto.