Se eu não aprendi a ser livre, que o outro não o seja

por Regina Wielenska

Hoje li na Internet algo que veio bem a propósito do tema que escolhi para a coluna: Não tenha medo de ter uma mente aberta. Seu cérebro não vai sair voando!

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Pois então, alguém poderia me explicar as razões pelas quais algumas pessoas não suportam que numa novela, ou na vida real, duas pessoas de mesmo sexo vivam o amor e se relacionem sexualmente? Os muitos casos de agressão verbal e física a homossexuais, sozinhos ou em pares, sinaliza que há um problema sério na raiz disso tudo.

Curioso que, na mesma novela em que duas senhoras se beijam, ocorreram crimes em série, planejados e executados por duas vilãs com carteirinha de psicopata! Acerca disso não há críticas, querem apenas acompanhar a evolução dessa trama, embora não suportem ver idosas pacificamente se amando e criando um neto.

Talvez seja o mesmo problema que impede muita gente de aceitar que mulheres amamentem seus bebês em locais públicos. Há relatos de casos, no Brasil, e em outros países, de mães hostilizadas ao alimentarem seus filhos, num shopping center, restaurante, ou outros lugares, com o mais precioso alimento que uma mulher pode fornecer a crianças pequenas, seu próprio leite. Por que considerar inapropriado um ato de absoluta maternagem, típica de mamíferos, até parece que esqueceram o que somos!

Lembro-me ainda do quanto as pessoas se escandalizaram, ao final da década de 60, quando a atriz Leila Diniz, grávida, foi à praia de biquíni. Feministas a acusaram de servir aos homens, os moralistas de plantão a acusaram de ser escandalosa e vulgar, exibindo ao olhar de todos sua barriga de lua cheia, na plenitude da condição amorosa da gravidez.

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Toda vez que alguém argumenta que uma mulher violentada teve culpa disso, porque estava com roupa curta ou por que andava pelas ruas quando deveria, outrossim, estar em casa, fico muito injuriada. Afirmar isso equivale a argumentar que a culpa do roubo de uma joia é da joalheria que deixou o anel na vitrine, exposto ao desejo alheio.

Essas situações e muitas outras sinalizam pra mim que muita gente, o que é lamentável, aprendeu a ser controlado por regras rígidas, pessoas assim não questionam dogmas, obedecem a regras sem fundamento. Um jeito autoritário de fundar abre a porta para atos de agressão e restrição de direitos em relação a terceiros. O diferente, tudo que rompe as regras arbitrárias e inflexíveis, torna-se uma ameaça terrível.

Quem é rígido não abre ao outro espaço para a diversidade. O direito do outro termina ao meu bel-prazer: se eu não concordo, então o outro não pode agir como melhor lhe aprouver, ao sabor de seus atributos individuais, desejos e valores.

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Torna-se fundamental questionar esse padrão rígido de funcionamento. Quem não quer amamentar em público que não o faça. Mas quem amamenta em público precisa ter assegurado o direito de agir desse modo. Isso vale para o livre-exercício do desejo sexual, desde que as práticas sejam consensuais, seguras e se desenrolem entre dois ou mais adultos, qual o problema de todas as formas de amar? Ninguém vai me proibir de buscar o homem que fará meu coração bater forte, e não se pode impedir a um homem ou mulher que se encante por alguém do mesmo sexo.

O exercício do autoritarismo e da rigidez costuma roubar a felicidade de muitos, inclusive daquele que não soube exercitar a liberdade que poderia ter tido.