Fui traído (a), e agora?

por Regina Wielenska

Um post de internet mostrava uma boneca de massinha dizendo pra si mesma: "preciso economizar, preciso muito economizar". No quadrinho seguinte, a conversa era assim: "Nossa! Que blusa barata! Vou aproveitar e levar".

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O comportamento de infidelidade amorosa é mais ou menos similar a esse de compra impulsiva: na cama, na igreja ou no cartório jura-se fidelidade eterna e depois a pessoa é bombardeada com oportunidades de se envolver, de leve ou a fundo, com um tanto de pessoas que simbolizam algo novo, estimulante, que fazem com ela se sinta pra cima, mais jovem, ou mais amada.

Desconhecemos a proporção dos que de verdade sucumbem e dos que resistem às tentações. Quem declararia mesmo ser infiel a um pesquisador? Mas o simples fato de um site de encontros só pra pessoas casadas ou comprometidas estar funcionando a pleno vigor aqui e em outros países me sugere que muitos traem seus pares amorosos oficiais.

Fazer algo proibido é muito gostoso, tende a produzir algum nervoso e trazer muito prazer. Ao flertarmos com o perigo, parecemos crianças desafiando a autoridade de pais ou educadores. Certas razões favorecem a quebra do trato de fidelidade: o tédio do cotidiano (muitos problemas e deveres, poucos prazeres) e sempre mais do mesmo, por vezes num clima interpessoal de convívio distante ou abusivo.

O que fazer ao descobrir a traição?

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Suponho que muitas traições ocorram sem que o/a parceiro/a sequer imagine. Mas suponha que a coisa se evidencie de um modo escancarado? O flagra aconteceu. Daqui em diante o papo está voltado pra quem se sentiu enganado. Nada impede que quem traiu se beneficie desta nossa conversa aqui. Vou partir do princípio de que o sucesso ou o insucesso de qualquer empreendimento (incluindo namoros e casamentos) se deva a um conjunto de fatores. Então de nada vale demonizar a terceira pessoa que se tornou pivô da história. Provavelmente a entrada deste terceiro elemento só ocorreu porque previamente havia alguma vulnerabilidade no relacionamento.

Não vai ajudar muito gritar, agredir, destruir objetos, difamar as pessoas, partir pra escândalos e baixarias. Isso só depõe contra você. Trate de acolher, com gentileza, seus sentimentos de raiva, insegurança, mágoa, quaisquer que eles sejam. Todo sentimento é possível, mas não vai resolver agir com base nesse caos interno.

Descubra um jeito de abrir diálogo com quem lhe traiu. Instigue o outro a partilhar contigo o que quiser, se é que a pessoa deseja realmente se comunicar contigo com base na franqueza. Ouça bem tudo, não interrompa demais, ouça as verdades ou mentiras do outro. Resuma o relato que entendeu e devolva, pergunte se você entendeu direito o que ouviu. Outra coisa boa a fazer é notar o efeito dessa escuta sobre você. Seu coração amansou ou permanece arisco e ferido? As palavras lhe fizeram sentido? Organize sua resposta, pode ser na hora ou num segundo encontro.

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Também ajuda trocar ideias com um amigo ou parente querido, pessoa reconhecidamente sábia, que lhe quer bem, incapaz de intrigas ou fofocas. Deixe que lhe apresentem uma visão de fora, delineada por quem tem um volume de experiências de vida com potencial poder de lhe ajudar a ver a questão sob diferentes prismas.

O relacionamento ainda terá futuro?

Dá pra recuperar a esperança e a confiança?

Voltar a se relacionar não poderá virar um inferno, no qual acusações e rancor virem moeda de troca na interação.

Seria a terapia de casal uma opção interessante?

Trata-se de uma fase cheia de perguntas e também questionamentos. Pode ser que ao reatarem o relacionamento atinjam um patamar de rara intimidade, compaixão e capacidade de comunicação aberta e afetiva.

Lembre-se de que para casar dois precisam concordar, enquanto que para efetivar uma separação basta uma das partes assim decidir. Desse modo, visualize um cenário no qual alguém quer ficar junto enquanto que o outro prefere o adeus. Como isso soa? Quais os temores e fantasias, que soluções amenizariam o problema? Questões de dinheiro, filhos, família, amigos em comum, societárias, romper pode ter implicações inimagináveis.

A traição não tem solução simples, deixa marcas, desestabiliza sistemas falsamente bem organizados e exige um sem-fim de ajustes e aprendizagens pros dois participantes da dupla. Há vida após a ruptura, seja reatando ou rompendo, abra seu coração pra comunicação e reflexões, abrace as dores, siga em frente em busca do melhor no contexto de uma vida pautada no conforto interpessoal e na verdade.

Boa sorte!