Será que tenho compulsão alimentar?

por Dr. Joel Rennó Jr.

Na área de transtornos alimentares, há muitos conceitos errôneos. Até mesmo profissionais, em certas situações, acabam fazendo sempre uma correlação entre vários transtornos de ansiedade, os comportamentos alimentares e a obesidade.

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A compulsão alimentar, conhecida em inglês por "binge eating", sem o comportamento compensatório para controlar o peso característico da bulimia nervosa, é também comum em mulheres obesas que procuram tratamento para emagrecer. Portanto, é mais freqüente do que as pessoas imaginam.

O conceituado autor Spitzer chegou a defender a proposta de uma nova categoria diagnóstica: o Transtorno de Compulsão Alimentar Periódico (TCAP). Os episódios compulsivos devem ocorrer pelo menos dois dias por semana, com uma duração mínima de seis meses, para que tal diagnóstico seja realizado. Não há uma distorção da autoimagem corporal, como em outros transtornos alimentares, mas há sentimentos de depressão e angústia gerados pela compulsão. Estas pessoas comem sozinhas, até sentirem-se "cheias".

O "binge eating" é caracterizado pelos seguintes aspectos:

a) Comer em um período de até duas horas uma quantidade de comida que é definitivamente maior do que a maioria das pessoas comeria num período de tempo similar em circunstâncias semelhantes.

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b) Sensação de perda de controle sobre o comer durante os episódios.

Dados da literatura comprovam que grande porcentagem dos obesos (20% a 46%) que procuram tratamento para perda de peso apresentam episódios recorrentes de comer compulsivamente. Segundo Saunders, 50% dos obesos que procuram cirurgia bariátrica (redução de estômago) têm compulsão alimentar. Se considerarmos, então, os pacientes com diagnóstico subclínico, ou seja, aqueles que só apresentam um episódio compulsivo por semana, o número aumenta significativamente, já que a obesidade tem elevada frequência.

Portanto, todos devem ficar atentos à importante associação entre obesidade e TCAP. Isso é importante para o correto tratamento da obesidade, envolvendo medicamentos e técnicas de psicoterapia comportamental cognitiva adequados – técnica que visa uma mudança de pensamento. O tratamento deve enfocar vários aspectos principais: a supressão dos binges (compulsão), a perda de peso, a melhora dos sintomas psíquicos e da qualidade de vida.

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Embora não haja um tempo de tratamento preestabelecido ou fixado, há trabalhos que demonstram que a psicoterapia cognitivo-comportamental costuma dar resultados positivos satisfatórios no período entre 12 a 16 semanas de tratamento.

Quando a perda de peso ocorre de forma harmônica, os efeitos psicológicos positivos como melhora do humor, na autoestima e até na imagem corporal ocorrem. Tais efeitos psicológicos contribuem na melhora dos episódios de comer compulsivamente. Tratamentos isolados são eficazes apenas em curto prazo ou têm sucesso limitado, independente de quais fórmulas estejam sendo utilizadas. Muitos tratamentos para obesidade não levam em consideração as consequências sociais e psicológicas decorrentes do excesso de peso e se restrigem apenas à redução de peso, sem levar em consideração a presença dos episódios de comer compulsivamente.

A literatura mostra evidências significativas do tratamento multiprofissional, envolvendo o oferecimento de abordagens biológicas, sociais, familiares, corporais e dietéticas. Ninguém perde peso e mantém-se no peso ideal sem uma dieta equilibrada, exercícios físicos regulares, domínio de técnicas de autocontrole, já que o estresse cotidiano e certos fatores ambientais são os maiores obstáculos do comportamento de emagrecer.